Helio Ventura

Helio Ventura
Helio Ventura, Cientista Social e Músico

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL - O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO

1º ANO:

Prof. Helio Ventura
Disciplina: Sociologia

O HOMEM É UM ANIMAL SOCIAL

Lendas e mitos relatam histórias de heróis que, mesmo crescendo no isolamento, tornam-se humanos – Rômulo e Remo, Tarzan, Mogli –, apresentando comportamentos compatíveis com os demais seres humanos. Entretanto, para se tornar humano, o homem tem de aprender com seus semelhantes uma série de atitudes que jamais poderia desenvolver no isolamento. Já entre as outras espécies de animais, uma cria, mesmo separada do seu grupo de origem, apresentará, com o tempo, as mesmas atitudes de seus semelhantes, na medida em que estas decorrem, sobretudo, de sua bagagem genética e se desenvolvem de forma espontânea.

O cienasta alemão Werner Herzog trata justamente desse tema em seu filme O enigma de Kaspar Hauser, de 1974. Baseado no livro do austríaco Jacob Wassermann, ele mostra como um homem criado longe de outros seres de sua espécie é incapaz de se humanizar, não conseguindo desenvolver aptidões e reações que lhe dêem identidade e possibilidade de interagir satisfatoriamente com seus semelhantes.

Portanto, para que um bebê humano se transforme em um homem propriamente dito, viver e se reproduzir como tal, é necessário um longo aprendizado, em que as gerações mais velhas transmitem às mais novas suas experiências e conhecimentos. Essa característica da humanidade dependeu, entretanto, da nossa capacidade de criar símbolos que constituem as linguagens, por meio das quais somos capazes de nos comunicar, transmitindo aos outros o legado de nossa experiência de vida, compartilhando os sentidos que a ela atribuímos.

Dessa forma, o homem, transmite suas experiências e visões de mundo utilizando a comunicação, estabelecendo-se uma íntima identidade entre linguagem, experiência e realidade, que é a base do imaginário e do conhecimento humano.

Fonte: COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2005.

O processo de socialização

Um ser humano é um ser social que não tem a mínima capacidade de viver isoladamente, longe de outros indivíduos, mas sim precisa conviver com maior quantidade de outros humanos. Pois nós seres humanos temos necessidades de satisfação: há necessidades de amor, necessidades de segurança, pois todas as pessoas procuram um modo de vida segura e estável, necessidades fisiológicas, necessidades de estética, de beleza, religião, e para formar sua própria personalidade e visão do mundo.

Compreender a perspectiva sociológica acerca do ser humano é compreender também como o ser humano é socializado. Para que a sociedade funcione sem graves conflitos, o ser humano tem de ser socializado. Socialização é o processo pelo qual a sociedade ou comunidade ou grupo social ensina a seus membros seus costumes e regras.

A princípio, quando o ser humano nasce, ele é apenas um ser vivo existente, sem nenhuma cultura. A principal socialização se dá exatamente na primeira infância, por meio da família e da escola. É o que podemos chamar de socialização primária. Ela ocorre por meio dos “outros significativos”, que são todas as pessoas muito importantes em nossa vida e dos quais dependemos, como nossos pais, irmãos mais velhos e amigos íntimos.
A socialização secundária se dá num âmbito maior, por meio de todas as interações que travamos durante a vida. Por meio da socialização adquirimos o “direito” de atuarmos no grupo social em questão. É por meio da socialização que vamos adquirindo o nosso Eu, isto é, nossa identidade. É na infância que o processo de socialização é mais evidente. Porém, conseqüentemente através dos contatos com os indivíduos dos grupos a que pertence, o ser humano mescla, adapta seu conhecimento ao comportamento e regras impostas pela sociedade que vive.

É interessante notarmos que a criança descobre quem ela é quando descobre o que a sociedade é, ou seja, a sociedade e o Eu são o verso e o reverso de uma mesma realidade. Na medida em que os outros significativos vão dizendo para as crianças como elas devem agir, o que devem pensar, o que é o certo e o que é errado, ela vai aprendendo a agir em sua sociedade porque vai descobrindo como é sua sociedade. Os outros significativos vão se tornando o que, em sociologia, denominamos de “outros generalizados”, isto é, a sociedade. Por meio do processo de socialização as estruturas da sociedade tornam-se as estruturas de nossa mente.

E as crianças vão, ao mesmo tempo, criando uma identidade, aprendendo a usar os símbolos (linguagem) e aprendendo os seus papéis sociais. Podemos afirmar que a “natureza” humana não surge no momento do nascimento. Os homens adquirem uma “natureza” ou uma identidade por meio de suas associações e podem perdê-la (ou ela declina) quando se encontram isolados ou em ambientes diferentes do qual estão acostumados. Ou seja, podemos perder nossa identidade se ela não for, conforme a idéia de reciprocidade, reforçada e atualizada pelos outros de nosso grupo social.

O processo de socialização nunca é completo e perfeito. Se assim o fosse seríamos robôs, verdadeiros autômatos. E ninguém é capaz de ser socializado em todos os aspectos de sua sociedade. Imaginem em nossa sociedade complexa, urbana e industrializada: para a socialização ser completa teríamos que aprender tudo, vivenciar tudo, participar de tudo. Impossível. Ao mesmo tempo a socialização nunca termina. Estamos sempre sendo socializados. A cada vez que ingressamos em um novo grupo social, nesse momento se inicia um novo processo de socialização onde aprendemos os códigos para bem atuarmos nesse grupo social.
Obviamente, existem algumas determinações genéticas, uma psiquê humana e outros fatores de influência tratados por outras ciências. Mas, para o pensamento sociológico, o principal fator de formação da identidade e personalidade de um indivíduo é sua socialização.

O processo de socialização é hoje promovido essencialmente pelo Estado. Tem ainda a colaboração de outras instituições que lhe são mais ou menos independentes. Mas também tem a participação de grupos formais e informais e da família.
Há uma idéia generalizada que o Estado tem um papel imprescindível neste processo. A família carece de tempo disponível, os grupos de credibilidade e abrangência e as outras instituições tiveram resultados desastrosos. A entrega deste processo a credos religiosos, a partidos políticos, a estruturas monolíticas e dogmáticas deu origem a exageros e desvios. O que hoje acontece, como reação a esta situação, é a sua deposição nas mãos do Estado.

Efetivamente o Estado tem ou pode assumir muitas das características que lhe permitem ser o principal mentor do processo de socialização. Mas como organização humana que é está longe da qualquer pretensa perfeição. O Estado moderno, laico e “democrático”, como o conhecemos, existe e com intermitências há somente cerca de dois séculos e vai permitindo articular satisfatoriamente a relação do homem com os seus semelhantes individuais, com os grupos e com a humanidade, mas só desde que todos (ou ao menos a maioria) partilhem os mesmos valores básicos.

Para interagir com o grupo de referência o individuo deverá aprender os valores, a regras sociais, consideradas corretas pelo grupo, e os padrões de comportamento do grupo. Assim, quando um indivíduo passa ter patrimônio cultural relativo a determinado grupos social, ele estará conseqüentemente potencializado para interagir com este grupo. Quando o indivíduo assimila esses efeitos ele já esta pertencendo a este grupo.
Enquanto o indivíduo viver ele estará interagindo com a sociedade e cada vez mais aprimorando o seu sistema de socializar-se de forma correta.

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