Sociologia – Professor:
Helio Ventura
dependência – 1º ano do
ensino médio
Introdução
a Sociologia
A Sociologia é uma ciência que estuda as sociedades humanas e os
processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo isolado é
estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda
os fenômenos que ocorrem quando vários indivíduos se encontram em grupos de
tamanhos diversos, e interagem no interior desses grupos.
Sociologia
é o estudo do comportamento social, das interações e organizações humanas.
Todos nós somos sociólogos em potencial porque estamos sempre analisando nossos
comportamentos e nossas experiências interpessoais em situações organizadas.
O objetivo
da sociologia é tornar estas compreensões cotidianas da sociedade mais
sistemáticas e precisas, à medida que suas percepções vão além de nossas
experiências pessoais.
A
sociologia estuda todos os símbolos culturais que os seres humanos criam e usam
para interagir e organizar a sociedade.
Ela explora todas as estruturas sociais que ditam a vida social, examina todos os processos sociais, tais
como desvio, crime, divergência, conflito, migrações e movimentos sociais, que
fluem através de ordem estabelecida socialmente; e busca entender as
transformações que este processo provoca na cultura e estrutura social.
A Sociologia é importante porque através do estudo
da vida social do ser humano, a interação social, a estrutura, o funcionamento
e a evolução dos grupos sociais, contribui para a formação humana, buscando o
desenvolvimento do pensamento inteligente, formador e criador de ideias e
projetos para novos rumos em nossa existência.
A Sociologia é uma área de interesse muito recente, mas foi
a primeira ciência social a se institucionalizar. Antes, portanto, da Ciência Política e da Antropologia. Em que pese, o
termo Sociologie tenha sido criado por Auguste Comte (em 1838), da palavra latim socius
(associação) e o grego logus
(estudo). Ele esperava unificar todos os estudos
relativos ao ser humano –
inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Montesquieu também pode ser encarado como um dos fundadores da
Sociologia – talvez como o último pensador clássico ou o primeiro pensador
moderno.
O esquema
sociológico de Auguste Comte
era
tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século
XIX), e ele acreditava que toda a vida
humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e que, se a
pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os
"remédios" para os problemas de ordem social. Esta disciplina marca
uma mudança na maneira de se pensar a realidade social, desvinculando-se das
preocupações especulativas e metafísicas e diferenciando-se progressivamente
enquanto forma racional e sistemática de compreensão da mesma.
A Sociologia foi o resultado da
união de inúmeros pensadores, nas diversas partes do mundo. Alguns se
conheciam, muitos outros nunca se viram. Uns complementando outros, até formar
o que conhecemos como ciência sociológica ou ciência da sociedade ou
Sociologia. Destes tantos, quatro
pensadores foram responsáveis por estruturar os fundamentos da Sociologia
possibilitando criar três linhas mestras explicativas:
1) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comte e seu principal expoente clássico Émile Durkheim, de fundamentação
analítica. Émile Durkheim (França,
1858–1917) se baseou nas ideias de
Comte para formular sua teoria. Para ele, a Sociologia é o estudo dos fatos
sociais. Esses fatos sociais são as formas e padrões pré-estabelecidos de um
grupo social. Durkheim achava que os fatos sociais, por ter características
próprias, deveriam ser estudados
de maneira singular. O ideal de Durkheim
foi tão importante para a Sociologia, pois é a partir daí que ela passa a ser
considerada uma ciência.
2) a Sociologia Compreensiva iniciada por Max Weber, de matriz
teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva. Max Weber (Alemanha, 1864–1920) teve uma linha de pensamento mais
aproximada de Durkheim, onde os dois
estudiosos defendiam a objetividade em relação ao método científico. No
entanto, enquanto Durkheim se preocupava com a análise objetiva da sociologia,
Weber pretendia tomar a compreensão da ciência, diferenciando também da análise
crítica de Marx. Weber foi importante no sentido de direcionar as ciências
sociais para a imparcialidade, passo fundamental para o surgimento do sociólogo
como profissão.
3) a Sociologia
Dialética,
iniciada por Karl Marx, que mesmo não sendo um sociólogo e sequer se
pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica. Importantíssimo estudioso
responsável pela formação da Sociologia, Karl
Marx (Alemanha, 1818–1883) não tinha como objetivo estabelecer ideias para
a sociologia, apenas pretendia analisar
e propor explicações para os problemas decorrentes daquela época: desemprego,
miséria, desigualdades sociais, etc. Os conceitos de Marx deram ênfase na
crítica de uma dominação com base econômica, sofrendo diversas inflexões e
desdobramentos. Marx estabeleceu
importantes conceitos para compreender o funcionamento do capitalismo, como a “mais-valia” e as formas de exploração
das classes trabalhadoras.
O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
A trajetória da Sociologia só
começa a ser delineada com o movimento político e intelectual conhecido como Iluminismo
(Inglaterra, Holanda e França, 1590
- séc. XVII e XVIII), que exerceu enorme influência no século XVIII,
propondo reformas no interesse das classes privilegiadas (elite), conforme leis
que regeriam ao mesmo tempo a sociedade, o universo e a natureza e a Revolução
Industrial (Inglaterra, 1750 com
introdução da máquina a vapor – séc. XVIII em diante). Em seguida, após a Revolução
Francesa (França, 1789–1799)
e a queda do Antigo Regime (regime político vigente na França até
a Rev. Francesa), a Sociologia adquiriu os traços que ostenta hoje em dia, aos
poucos destituindo-se da roupagem de ciência ética, de filosofia política ou
social, preocupada em determinar uma ordem justa das relações humanas, para
concentrar-se na descrição e interpretação dos elementos — desempenhos,
grupos, valores, normas e modelos sociais de conduta — que determinam a
integração dos sistemas sociais.
Revolução
|
Século / Ano
|
Esfera de atuação e impacto
|
Iluminismo
|
a partir de 1590, séc. XVII – XVIII
|
Ideológica
|
Industrial
|
segunda metade do séc. XVIII (1750)
|
Econômica
|
Francesa
|
segunda metade do séc. XVIII (1789)
|
Política
|
A Europa
no século XVIII assistiu a uma série de mudanças no cenário político, econômico
e social. Podemos destacar o Iluminismo, as Revoluções Burguesas
(como a Revolução Francesa) e
principalmente a Revolução Industrial.
Esses acontecimentos proporcionaram a
criação de um cenário de instabilidade e contradição: aumento da produção,
investimento em tecnologia, consolidação do processo de industrialização,
ascensão política da burguesia, êxodo rural e consequente processo de
urbanização, o aparecimento do proletariado e de sua consciência de classe,
surgimento de um grande número de desempregados, miséria e injustiças sociais.
É neste cenário que surge a necessidade de formatar uma ciência capaz de
interpretar e compreender os problemas da sociedade urbano-industrial, capaz de
explicar essa nova ordem social, política e econômica.
Os iluministas
pensavam assim:
·
A
razão e o conhecimento como instrumento para realização do homem.
·
A
rejeição da visão divina do mundo.
·
A
defesa do progresso da humanidade.
A transição da
produção artesanal para a manufatureira e desta para a produção fabril, foi um
dos fatores principais para o surgimento da sociologia, gerando com isso:
·
Migração
do campo para a cidade.
·
O
fim da servidão.
·
O
desmantelamento da família patriarcal.
·
Introdução
do trabalho feminino e infantil na produção industrial.
·
O
crescimento demográfico das cidades sem a devida infraestrutura básica.
·
Aumento
da prostituição, suicídio, alcoolismo, violência, etc.
·
O
aparecimento do proletariado como uma nova classe social.
A burguesia, no
final do século XVIII passa a dominar os setores manufatureiro e comercial, se
tornando em categoria econômica mais importante na França, assumindo o poder
com o início da Revolução Francesa, em 1789.
As
transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas no século XVIII,
como as Revoluções Industrial e Francesa, colocaram em destaque mudanças
significativas da vida em sociedade com relação a suas formas passadas,
baseadas principalmente nas tradições. A Sociologia surge no século XIX como
forma de entender essas mudanças e explicá-las. No entanto, é necessário frisar, de forma muito clara, que a Sociologia é datada historicamente e que
o seu surgimento está vinculado à consolidação do capitalismo moderno. Assim é que a Revolução Industrial significou, para o pensamento social, algo mais do que a
introdução da máquina a vapor. Ela representou a racionalização da produção da
materialidade da vida social.
O surgimento da Sociologia prende-se em parte aos
desenvolvimentos oriundos da Revolução Industrial, pelas novas condições de existência por ela criada. Mas
uma outra circunstância concorreria também para a sua formação. Trata-se das modificações que vinham ocorrendo nas
formas de pensamento, originada pelo Iluminismo. As
transformações econômicas, que se achavam em curso no ocidente europeu desde o
século XVI, não poderiam deixar de provocar modificações na forma de conhecer a
natureza e a cultura.
O triunfo
da indústria
capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as
ferramentas sob o controle de um grupo social, convertendo grandes massas
camponesas em trabalhadores industriais. Neste momento, se consolida a
sociedade capitalista, que divide de modo central a sociedade entre burgueses (donos dos meios de produção)
e proletários (possuidores apenas de
sua força de trabalho). Há
paralelamente um aumento do
funcionalismo do Estado que representa um aumento da burocratização de suas funções e que está ligado
majoritariamente aos estratos médios da população. Desaparecem os proprietários rurais e os artesãos independentes. Há
imposição de prolongadas horas de
trabalho. Esse fatos tiveram um
efeito traumático sobre milhões de seres humanos ao modificar radicalmente suas
formas tradicionais de vida. Não demorou para que as manifestações de revolta
dos trabalhadores se iniciassem. Máquinas foram destruídas, atos de sabotagem e
exploração de algumas oficinas, roubos e crimes, evoluindo para a criação de
associações livres, formação de sindicatos e movimentos revolucionários.
Estes
fatos são importantes para o surgimento da Sociologia, pois colocavam a
sociedade num plano de análise relevante, como objeto que
deveria ser investigado tanto por seus novos problemas intrínsecos, como por
seu novo protagonismo político,
já que junto a estas transformações de ordem econômica pôde-se perceber o papel
ativo da sociedade e seus diversos componentes na produção e reprodução da vida
social, o que se distingue da percepção de que este papel seja privilégio de um
Estado que se sobrepõe ao seu povo.
Neste sentido é que a preocupação com os problemas da
sociedade passa a existir como Ciência, passa a ser sistematizado. A Sociologia surge então com um arcabouço
teórico, com um método específico e com um objeto de estudos definido. Podemos,
pois definir a Sociologia como uma ciência que estuda os fenômenos sociais,
procurando refletir sobre eles e tentando explicá-los, através de certos
conceitos, técnicas e métodos. Seu campo de estudo é toda a organização da
sociedade (a estática) e tudo o que acontece com seus membros (a dinâmica).
Como, então, o relacionamento entre os homens se estrutura – tomando formas
definidas – e como ele se processa – seu funcionamento. Isto é o que interessa
à Sociologia.
Senso Comum, senso crítico e
Conhecimento Científico
Estamos acostumados a ouvir a palavra senso em
nosso cotidiano: bom senso, senso
crítico, senso de humor, entre outras expressões. Mas já paramos para
refletir sobre o que significa ter ou não ter senso? Qual a diferença entre
senso comum e crítico?
O senso comum está mais vinculado à
população em geral do que o senso crítico, pois no senso comum existem muitas
questões sobre a vida que são simplesmente irrefletidas e que levam à
alienação. Ele acaba por permear as classes menos abastadas, uma vez que liga-se
com a educação recebida e com a manipulação pelos meios de comunicação.
Já o senso crítico, divergindo do senso
comum, tem por base aquilo que é concreto: a pesquisa, a reflexão, a análise e
a crítica. Culturalmente o senso crítico é muito mais aproveitável e bom para o
indivíduo do que o senso comum. Isso se deve ao fato de que ao utilizar o senso
crítico o indivíduo passa a pensar e refletir e com isso aprimora suas
capacidades intelectuais. Muitas vezes deixa-se de solucionar problemas de
maneira coerente por não parar para refletir e estudar a melhor maneira de
resolvê-lo. Porém não se pode ignorar ou ter pré-conceitos quanto ao senso
comum, como se ele fosse totalmente errado e promotor de grandes mentiras na
sociedade.
Para sabermos o que é ciência, o que é conhecimento científico,
precisamos distingui-los do senso comum. Vejamos as perguntas abaixo:
- Como duvidar que o sol seja menor do que a Terra se, todo dia, vemos um pequeno círculo de cor vermelha percorrendo o céu?
- Como duvidar que a terra seja imóvel se diariamente vemos o sol nascer, percorrer o céu e se pôr?
- Como duvidar que cada espécie animal não surgiu tal como as conhecemos hoje? Como imaginar um ser aquático tornar-se réptil ou um pássaro? Afinal, a Bíblia nos ensina que Deus criou em um único dia todos os animais!
Situações como estas estão presentes na nossa vida e
expressam o que nós chamamos de "senso comum".
Porém a astronomia nos revela que o sol é muitas vezes maior
do que a Terra e que é a Terra que se move em torno dele e de si mesma.
Já a biologia nos ensina que as espécies animais se formaram
a partir de modificações de microrganismos extremamente simples, só possível
pela abundância de água em nosso planeta, e isto ao longo de milhões de anos.
Você, com certeza, já deve ter ouvido alguém dizer:
"Dize-me com que andas que eu te direi quem és"; ou: "Mais vale
um pássaro na mão do que dois voando".
Esses dois exemplos nos mostram com o senso comum se
manifesta através dos ditos populares, das crenças do povo. É um verdadeiro
receituário para o homem resolver os seus problemas da vida diária.
É um saber não sistematizado, mas muito útil para guiar o
homem na sua vida cotidiana. É obtido geralmente pelas observações realizadas
pelos sentidos.
Um
exemplo que explica o senso comum e o conhecimento científico: que o sol,
amanhã de manhã nascerá novamente, é uma convicção que tanto cientistas como
leigos tem. O que difere então o senso comum do conhecimento científico? A
resposta é simples: Enquanto no senso comum as pessoas acreditam simplesmente
pelo hábito (porque o sol sempre nasceu, deverá amanhã nascer novamente), sem
saber dar motivos (as razões) para seu julgamento, o cientista (no caso o
astrônomo) saberá explicar porque amanhã o sol nascerá com base na teoria do
movimento de rotação da terra, etc. O leigo acredita sem saber dar razões, o
cientista conhece as razões.
SENSO
COMUM:
Conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados, ao qual
acrescentamos os resultados da nossa experiência vivida na coletividade a que
pertencemos. É o conjunto de ideias que usamos para interpretar a realidade,
dotado de valores que atuam sobre o nosso modo de pensar e agir. É o primeiro
estágio de pensamento. O senso comum se encontra misturado a crenças e
preconceitos.
Senso comum é um conjunto de opiniões, crenças, tradições e modos de
viver que se desenvolvem em uma sociedade e faz parte da herança cultural de
cada povo. São as tradições que passam de geração em geração e são aceitas como
verdades, sem questionamentos.
Características básicas:
- Saber imediato. Nível mais elementar do conhecimento baseado em observações ingênuas da realidade. Está frequentemente ligado à resolução de problemas práticos do cotidiano.
- Saber Subjetivo. Construído com base em experiências subjetivas.
- Saber heterogêneo. Resulta de sucessivas acumulações de dados provenientes da experiência, sem qualquer seletividade, coerência ou método. Trata-se de uma forma de saber ligado ao processo de socialização dos indivíduos, sendo muito evidente a influência das tradições e ideias feitas transmitidas de geração em geração.
- É formulado na linguagem vulgar frequentemente ambígua.
- Saber não crítico. Conhecimento pouco generalizador.
Há, pois, uma grande diferença entre nossas certezas
cotidianas e o conhecimento científico. Diríamos que o senso comum não se
caracteriza pela investigação, pelo questionamento, ao contrário da
ciência. É ditado pelas circunstâncias, fica no imediato das coisas. Caracteriza-se
pela subjetividade, isto é, é subjetivo, permeado pelas opiniões, emoções e
valores de quem o produz: "Quem ama o feio, bonito lhe parece"
e "Nossa amiga que rouba é cleptomaníaca; o trombadinha é ladrão e
marginal!"
conhecimento
científico: O Conhecimento científico
constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm a
sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação e não apenas
pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se
trata de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria)
e não conhecimentos dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade,
a tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser comprovadas não
pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em conhecimento falível, em
virtude de não ser definitivo e, por este motivo, é aproximadamente exato:
novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de
teoria existente. O conhecimento é fluente.
“A investigação científica se inicia quando se descobre que,
os conhecimentos existentes, originários quer das crenças do senso comum, das
religiões ou da mitologia, quer das teorias filosóficas ou científicas, são
insuficientes e imponentes para explicar os problemas e as dúvidas que
surgem". (Lakatos, 1991).
Nesse sentido, iniciar uma investigação científica é
reconhecer a crise de um conhecimento já existente e tentar modificá-lo,
ampliá-lo ou substituí-lo, criando um novo que responda à pergunta existente.
Características básicas:
- Desconfia de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica.
- Onde o senso comum vê muitas vezes fatos e acontecimentos, o conhecimento científico vê problemas e obstáculos.
- Ele busca leis gerais para os fenômenos Ex.: a queda dos corpos é explicada pela lei da gravidade. Não acredita em milagres, mas acredita na regularidade, constância, frequência dos fenômenos.
- É generalizador, pois reúne individualidades sob as mesmas leis, sob as mesmas medidas. Ex.: a química nos revela que a enorme variedade de corpos se reduz a um número limitado de corpos simples que se combinam de modos variados.
- Aspira à objetividade enquanto o senso comum se caracteriza pela subjetividade.
- Dispõe de uma linguagem rigorosa cujos conceitos são definidos de modo a evitar qualquer ambiguidade.
- É quantitativo: busca medidas, padrões, critérios de comparação e de avaliação para coisas que parecem ser diferentes. Por isto, a matemática se constitui em instrumento importante de várias ciências.
- Tem método rigoroso para a observação, experimentação e verificação dos fatos.
- Diferentemente do senso comum, que muitas vezes é marcado pelo sentimento, o conhecimento científico se pretende racional.
Mas não damos um salto do senso
comum direto ao conhecimento científico: antes, passamos pelo chamado senso crítico ou bom senso.
Senso Crítico: Superação do estágio do senso comum em direção a
uma abordagem mais crítica e coerente. Não necessariamente precisa ser um
conhecimento mais requintado como a ciência, mas que demonstre uma elaboração
coerente do saber, um raciocínio lógico.
Senso
crítico significa a capacidade de questionar e analisar de
forma racional e inteligente. Através do senso crítico, o homem aprende a
buscar a verdade questionando e refletindo profundamente sobre cada assunto.
A palavra
“crítica” vem do Grego “kritikos”,
que significa “a capacidade de fazer julgamentos”. No sentido filosófico,
o senso crítico prende-se com o desenvolvimento de uma consciência reflexiva
baseada no “eu” (autocrítica) e no mundo.
A consciência do papel social de cada
indivíduo promove a capacidade de pensar sobre as verdades impostas pela sociedade
dominante. Dessa forma, alguém com senso
crítico aguçado não aceita a imposição de qualquer tradição, dogma ou
comportamento sem antes questionar.
A capacidade de
refletir sobre os assuntos está relacionada com a educação recebida por cada
indivíduo. Existe uma ideologia dominante (conjunto de crenças, valores e
opiniões) veiculada na política, religião, meios de comunicação ou outros
grupos, que procura manipular as pessoas para que não questionem; para que
aceitem o que lhes for imposto sem ponderar ou investigar a verdade.
Portanto, o senso
comum deve ser transformado em senso
crítico. Porém, há obstáculos que dificultam esta passagem, vários
instrumentos de dominação. A este
conjunto de instrumentos de dominação dá-se o nome de ideologia (conceito que estudaremos no 3º ano).
O ser
humano é um ser social
Lendas e mitos
relatam histórias de heróis que, mesmo crescendo no isolamento, tornam-se
humanos – Rômulo e Remo, Tarzan, Mogli –, apresentando comportamentos
compatíveis com os demais seres humanos. Entretanto, para nos tornarmos humanos, temos
de aprender com nossos semelhantes uma série de atitudes que jamais poderíamos
desenvolver no isolamento. Já entre as outras espécies de animais, uma
cria, mesmo separada do seu grupo de origem, apresentará, com o tempo, as
mesmas atitudes de seus semelhantes, na medida em que estas decorrem,
sobretudo, de sua bagagem genética e se desenvolvem de forma espontânea e
instintiva.
O cineasta
alemão Werner Herzog trata justamente desse tema em seu filme O enigma de Kaspar Hauser, de 1974.
Baseado no livro do austríaco Jacob Wassermann, ele mostra como um
homem criado longe de outros seres de sua espécie é incapaz de se humanizar,
não conseguindo desenvolver aptidões e reações que lhe dêem identidade e
possibilidade de interagir satisfatoriamente com seus semelhantes.
Portanto, para que um bebê humano ao crescer se
transforme em um indivíduo humano propriamente dito, viver e se reproduzir como
tal, é necessário um longo aprendizado, em que as gerações mais velhas
transmitem às mais novas suas experiências e conhecimentos.
Essa característica da humanidade dependeu,
entretanto, da nossa capacidade de criar símbolos
que constituem as linguagens, por meio das quais somos capazes de nos
comunicar, transmitindo aos outros o legado de nossa experiência de vida,
compartilhando os sentidos que a ela atribuímos.
O ser humano é reconhecido como
um animal social: “qualquer um que não consegue lidar com a vida comum ou é
totalmente autossuficiente que não necessita e não toma parte da sociedade, é
um bicho ou um deus” (Aristóteles, 384-322 a.C.). Esta famosa citação sugere
que nós somos, pela nossa diferente
natureza, rebanho de animais dirigidos por uma irreconhecível e persuasiva
predisposição biológica de associar-se a outros membros de nossa espécie. As
pessoas tendem a se auxiliarem, reciprocamente ou não. Aristóteles
fundamenta a tese que “o homem é um animal social” dizendo que a união entre os
homens é natural, porque o homem é um ser naturalmente carente, que necessita
de coisas e de outras pessoas para alcançar a sua plenitude.
Alguns autores entendem que o homem vive em sociedade como forma de
suprir suas necessidades funcionais e de provisão social. Esta característica
funcional evidencia que preferimos a vida em grupo ao invés da solidão; grupos
suprem-nos com recursos que nós necessitamos para uma existência social. Este
conceito não se limita a uma necessidade física de estar com os outros. Somos sociais não apenas porque dependemos
de outros para viver, mas porque os outros influenciam na maneira como
convivemos com nós mesmos e com aquilo que fazemos.
O ser humano é um ser social por
que é frágil demais para viver sozinho. No entanto, nossa maior desgraça reside
no fato de que ainda não aprendemos bem
a vivermos em sociedade. Ainda estamos acordando para o fato de que conviver
significa levar em consideração o semelhante com todas as suas características
pessoais. Conviver significa compartilhar, repartir, confiar, tolerar, ajudar,
entender...
O ser humano é um ser social e um
ser consciente. Quanto maior a consciência, maior a qualidade do convívio
social. E a consciência significa uma visão clara do mundo circundante
complementado por uma análise lúcida de sua relação com esse mundo. Quanto
maior a lucidez, maior e melhor sua relação com o semelhante, seja o irmão, o
colega, o cliente, o estranho. E não esqueça: ninguém nasce lúcido e ninguém
compra lucidez no varejo ou atacado. Lucidez se constrói com algum esforço
através da educação. Aquela educação completa, a que é para a vida toda e que
às vezes leva uma vida inteira e ainda assim não a consideramos completa.
O
processo de socialização
O processo pelo qual os indivíduos formam a sociedade e são formados por
ela é chamado de socialização. A imagem que melhor descreve
esse processo é a de uma rede tecida por relações sociais que vão se
entrelaçando e compondo diversas outras relações até formar toda a sociedade.
Cada indivíduo, ao fazer parte de uma sociedade, insere-se em múltiplos
grupos e instituições que se entrecruzam, como a família, a escola e o grupo
religioso, por exemplo. E, assim, o fio da meada parece interminável porque forma uma complexa
rede de relações que permeia o cotidiano. Ainda que cada sujeito tenha sua
individualidade, esta se constrói no contexto das relações sociais com os
diferentes grupos e instituições dos quais ele participa, tendo por isso
experiências semelhantes ou diferentes das de outras pessoas.
Compreender a perspectiva sociológica acerca do ser humano é
compreender também como o ser humano é socializado. Para que a sociedade funcione sem graves conflitos, o ser humano tem de
ser socializado. Socialização é o
processo pelo qual a sociedade ou comunidade ou grupo social ensina a seus
membros seus costumes e regras.
A
princípio, quando o ser humano nasce, ele é apenas um ser vivo existente, sem
nenhuma cultura. A principal socialização
se dá exatamente na primeira infância, por meio da família e da escola. É o
que podemos chamar de socialização
primária. Ela ocorre por meio dos “outros
significativos”, que são todas as pessoas mais próximas e muito importantes
em nossa vida e das quais dependemos, como nossos pais, irmãos mais velhos e
amigos íntimos.
A socialização secundária se dá num âmbito
maior, por meio de todas as interações que travamos durante a vida. Por meio da socialização adquirimos o “direito” de atuarmos
no grupo social em questão. É por meio da socialização que vamos
adquirindo o nosso Eu, isto é, nossa identidade. É na infância que o
processo de socialização é mais evidente. Porém, consequentemente através dos
contatos com os indivíduos dos grupos a que pertence, o ser humano mescla,
adapta seu conhecimento ao comportamento e regras impostas pela sociedade que
vive.
É interessante notarmos que a criança descobre quem ela
é quando descobre o que a sociedade é, ou seja, a sociedade e o Eu
são o verso e o reverso de uma mesma realidade. Na medida em que os “outros
significativos” vão dizendo para as crianças como elas devem agir, como
devem pensar, o que é o certo e o que é errado, ela vai aprendendo a agir em
sua sociedade porque vai descobrindo como é sua sociedade. Os “outros significativos” vão se tornando “outros
generalizados”, isto é, todas as pessoas que fazem parte da sociedade e que
talvez nunca tenhamos uma relação de proximidade com elas, apesar dessa
possibilidade existir.
Por meio
do processo de socialização as estruturas da sociedade tornam-se as estruturas
de nossa mente. As crianças vão, ao mesmo tempo,
criando uma identidade, aprendendo a usar os símbolos (por exemplo, linguagem
falada e escrita) e aprendendo os seus papéis sociais. Podemos afirmar que a
“natureza” humana não surge no momento do nascimento. Os homens adquirem uma
“natureza” ou uma identidade por meio de suas associações e podem perdê-la (ou
ela declina) quando se encontram isolados. Ou seja, podemos perder nossa
identidade se ela não for, conforme a ideia de reciprocidade, reforçada e
atualizada pelos outros de nosso grupo social.
O processo de socialização nunca é completo e perfeito. Se assim o fosse seríamos robôs, verdadeiros autômatos. E ninguém
é capaz de ser socializado em todos os aspectos de sua sociedade.
Imaginem em nossa sociedade complexa, urbana e industrializada: para a socialização ser completa teríamos
que aprender tudo, vivenciar tudo, participar de tudo. Impossível. Ao mesmo tempo a socialização nunca termina.
Estamos sempre sendo socializados. A cada vez que ingressamos em um novo
grupo social, nesse momento se inicia um novo processo de socialização onde
aprendemos os códigos para bem atuarmos nesse novo grupo social.
O que nos
é comum
Ao nascer, chega-se a um mundo
que já está pronto, e essa relação com o "novo" é de total
estranheza. A criança vai sentir frio e calor, conforto e desconforto, vai
sorrir e chorar; enfim, vai se relacionar e conviver com o mundo externo. Para viver
nesse mundo, ela vai aprender a conhecer seu corpo, seja observando e tocando
partes dele, seja se olhando no espelho. Nesse momento ainda não se reconhece
como pessoa, pois não domina os códigos sociais; é o "nenê", um ser
genérico.
Com o tempo, a criança percebe
que existem outras coisas a seu redor: o berço (quando o tem), o chão (que pode
ser de terra batida, de cimento, de tábuas ou de mármore, com ou sem tapetes) e
os objetos que compõem o ambiente em que vive. Percebe que existem também
pessoas – pai, mãe, irmãos, tios, avós – com as quais vai ter de se relacionar.
Vê que há outras com nomes como José, Maurício, Solange, Marina, que são
chamadas de amigos ou colegas. Passa, então, a diferenciar as pessoas da
família das demais. À medida que cresce, vai descobrindo que há coisas que pode
fazer e coisas que não pode fazer. Posteriormente saberá que isso é determinado
pelas normas e costumes da sociedade à qual pertence.
No processo de conhecimento do
mundo, a criança observa que alguns dias são diferentes dos outros. Há dias em
que os pais não saem para trabalhar e ficam em casa mais tempo. São ocasiões em
que assiste mais à televisão, vai passear em algum parque ou outro lugar
qualquer. Em alguns desses dias nota que vai a um lugar diferente, que mais tarde
identificará como templo religioso (no caso de os pais praticarem uma
religião). Nos outros dias da semana vai à escola, onde encontra crianças da
mesma idade e também outros adultos.
A criança vai entendendo que,
além da casa e do bairro onde reside, existem outros lugares, uns parecidos com
o local em que vive e outros bem diferentes; alguns próximos e outros
distantes; alguns grandes e outros pequenos; alguns suntuosos e outros humildes
ou miseráveis.
Ao viajar ou assistir à
televisão, a criança perceberá que existem cidades enormes e outras bem
pequenas, novas e antigas, bem como áreas rurais, com poucas casas, onde se
cultivam os alimentos que ela consome. Aos poucos, saberá que cidades, zonas
rurais, matas e rios fazem parte do território de um país, que normalmente é
dividido em unidades menores (no caso brasileiro elas são chamadas de estados).
Nessa "viagem" do crescimento, a criança aprenderá que há os
continentes, os oceanos e os mares, e que tudo isso, com a atmosfera, constitui
o planeta Terra, que, por sua vez, está vinculado a um sistema maior, o sistema
solar, o qual se integra numa galáxia, a Via Láctea.
Esse processo de conviver com a
família e com os vizinhos, de frequentar a escola, de ver televisão, de passear
e de conhecer novos lugares, coisas e pessoas compõe um universo cheio de faces
no qual a criança vai se socializando, isto é, vai aprendendo e interiorizando
palavras, significados e ideias, enfim, os valores e o modo de vida da
sociedade da qual faz parte.
diferentes
formas de sociabilidade
É por meio da socialização que a espécie humana se
integra entre si ao grupo em que nasceu, absorvendo o conjunto de hábitos,
costumes e regras característicos de seu grupo. Nossa socialização acontece
quando participamos da vida em sociedade, assimilando todas as suas principais
características. Tendo por definição que quanto mais coerente for a
socialização, mais sociável ele tenderá a ser.
Tribos urbanas
Com a constante
evolução humana, a forma atual de sociabilidade absorve características diferentes
da sociedade antes do século XXI. As chamadas “tribos” urbanas são formas de
expressão dos novos tipos de sociabilidade. Exemplos de tribos urbana são os
punks, os roqueiros, os emos, os surfistas, os skinheads, as torcidas
organizadas, gangues da periferia urbana, grupos de autoajuda, ente outros.
Algumas organizações sociais também promovem formas específicas de
sociabilidade, como as religiões, clubes, movimentos sociais, movimentos
culturais, partidos políticos, etc. São as afinidades e/ou os interesses em
comum (permanentes ou momentâneos) que fazem com que se reúnam.
O “tribalismo” é um
estado de organização em, ou advogando por, uma tribo ou tribos. Em termos
de conformidade,
tribalismo também pode se referir a uma maneira de pensar ou se comportar, no
qual as pessoas são mais leais a sua tribo que a seus amigos, seu país ou
qualquer outro grupo social.
A
estrutura social de uma tribo pode variar grandemente, porém, por causa do
pouco tamanho das tribos, a estrutura é sempre relativamente simples, com
poucas (às vezes nenhuma) distinções sociais entre seus membros.
Tribalismo
implica em possuir uma forte identidade
cultural ou étnica
que separes seus membros dos membros de outro grupo, sendo o forte sentimento
de identidade um pré-requisito para a formação de uma sociedade tribal
verdadeira.
As tribos urbanas,
também chamadas de subculturas
ou subsociedades (ou metropolitanas ou
regionais) são constituídas de microgrupos que têm como objetivo
principal estabelecer redes
de amigos com base em interesses comuns. Essas agregações apresentam
uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de se vestir.
A
expressão “tribo urbana” foi criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli,
que começou usá-la nos seus artigos a partir de 1985. Segundo Maffesoli, o
fenômeno das tribos urbanas se constitui nas “diversas redes, grupos de
afinidades e de interesse, laços de vizinhança que estruturam nossas
megalópoles”.
São diversas as
tribos que estão surgindo conforme a evolução da sociedade e as tecnologias do
século XXI, uma das mais polêmicas é a das comunidades virtuais que habitam o
ciberespaço, dando origem a um novo tipo de sociabilidade. Enfim, tudo o que
envolve a sociabilidade e a socialização depende da identificação e da
predisposição de cada indivíduo, sendo da natureza humana a necessidade de
estar e participar de um grupo social.
A
Internet foi considerada uma das maiores invenções do século XX. Ao criar uma
rede de troca de informação a nível mundial, a Internet veio encurtar as
distâncias, contribuir para a ideia de uma aldeia global. Assim as pessoas
começaram a comunicar em tempo real, a um preço acessível, de um certo lugar
para qualquer ponto do globo (ou mesmo no espaço), permitiu uma troca de
informação a nível global, é uma aproximação dos amigos e da família que estava
longe. Também foi um grande passo para as grandes empresas, porque facilita a
circulação da informação, é utilizado na formação profissional, consultoria,
serviços de apoio ao cliente, gestão de projetos. Também permite uma
desburocratização do sistema, tornando tudo mais rápido e reduzindo os gastos
(ex. candidatura ao ensino superior, IRS, IRS, criação de empresas…).
Estas
“novas” tecnologias tiveram uma grande adesão por parte dos jovens. Porque os
possibilita comunicar com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, e em
tempo real. Assim, é uma forma de fazer novos amigos, conhecer novas culturas,
idiomas, ou mesmo tirar uma dúvida com um professor. No entanto a sua
utilização também acarreta alguns problemas. Como podemos saber com quem é que
estamos falando? O anonimato é um dos principais problemas associado a
utilização deste tipo de tecnologia, tem que se estar ciente que nunca se sabe com
quem é que se está a falar, e que essa pessoa pode não ter as melhores
intenções. E o possível perigo que pode representar a transformação do contato
virtual em contato real.
Quando
não existem moderadores de sala, pode existir “pessoas maliciosas com convites
para conversas e jogos aliciantes”. Podendo levar a troca de material menos
recomendável. Os predadores sexuais aproveitam-se da ingenuidade das crianças e
dos jovens e através dos sites tentam obter informações pessoais, e até
possíveis encontros. Outro dos problemas da Internet é o vício. Quando é
utilizada indiscriminadamente, pode levar a numerosos abusos que podem levar ao
vício. Deixa-se de ter vida social, passa-se a viver com e para a Internet. As
atividades criminosas também andam muito ligadas com a Internet. Nela
transmitem os seus ideais e tentam angariar seguidores. É bastante fácil aceder
a conteúdos violentos, racistas ou extremistas, também sendo comum o roubo de
identidade para atividades ilícitas. Outra coisa que é importante um cibernauta
possuir é uma “firewall”, para evitar a intromissão de “Hackers,
Backdoors, Vírus, Worms & Troianos”, nos computadores podendo
aceder e modificar a informação e ficheiros pessoais. Assim torna-se
sobejamente importante, que os pais e educadores saibam quanto tempo, e que
conteúdos, é que os filhos têm acesso na Internet, e que os informem e previnam
acerca dos perigos da Internet. De forma, a evitar este tipo de abusos e para
prevenir os pais, os jovens e as crianças dos potenciais perigos da Internet em
geral e dos chats em particular, surgiu a associação Childnet.
Esta
tem o seguinte lema:
C–
Cuidado! As Pessoas Online Podem Não Ser Quem Dizem
H–
Habitua-te a Guardar Para Ti a Tua Informação Pessoal
A–
Atenção! Combinar Encontros Através da Internet é Perigoso
T– Tens
de Avisar os Teus Amigos ou um Adulto Sempre Que te Confrontares Com Algo Que
te Faça Sentir Desconfortável.
Com cada vez mais jovens a navegar na Internet, e aí a
investirem o seu tempo, contato esse que atualmente se inicia cada vez mais
cedo na vida dos adolescentes e até mesmo dos pré-adolescentes, de referir que
muito deste tempo é passado em redes sociais virtuais como o Facebook, Twitter,
Hi5, MySpace, de salientar que deste uso muitas vezes, indiscriminado, por
vezes surgem situações que se podem apresentar perigosas.
Existem milhares de jovens (muitas vezes com idades
inferiores a 10 ou 11 anos) que se expõem diariamente na Internet sem quaisquer
cuidados. Mais grave ainda, em muitos casos expõem também a privacidade de
familiares, amigos e conhecidos e muitos deles chegam mesmo a revelar dados
como a sua morada verdadeira, a escola que frequentam, entre outros.
As redes sociais como o Hi5, Facebook ou Orkut (só para citar
algumas) merecem cada vez mais a preferência dos jovens. Este tipo de sites
permite aos jovens marcar a sua presença na Internet criando a sua própria
página de perfil. É possível adicionar fotos, partilhar dados, adicionar
amigos, e é no meio de tudo isto que muitas vezes estão os perigos. Ao
exporem-se demasiadamente e ao tornarem públicas as suas fotos e os seus dados
pessoais verdadeiros correm o risco de serem assediados por desconhecidos, e em
casos extremos isso pode conduzir a encontros na vida real que acabam em
roubos, raptos, violações, entre outro tipo de crimes.
Estas ameaças são reais principalmente para quem não tem
noção desses perigos e que acredita que é perfeitamente seguro partilhar
informações pessoais nas redes sociais, deixando-as visíveis para qualquer
utilizador da Internet.
Segundo alguns estudos realizados, dois terços dos jovens
entre os 14 e os 18 anos usam ativamente as redes sociais, 23% afirma revelar o
nome da sua escola no perfil, 58% publicam fotografias e vídeos pessoais e 20%
publicam dados pessoais (entre os quais a morada de residência). Um outro dado
muito preocupante é que mais de metade dos jovens afirmaram que já responderam
a contatos de estranhos.
Neste contexto, o papel dos pais é fundamental e estes devem
tentar saber e acompanhar o que os filhos menores fazem na Internet. Por
exemplo, se você tem filhos ou filhas menores deve procurar pelos perfis dos
seus filhos nas redes sociais e verificar que tipo de informações e fotos
tornaram públicas. Tente perceber também com que tipo de pessoas eles falam nas
salas de chat e no MSN e previna-os para os riscos a que estão sujeitos.
Mantenha-se atento(a) – a prevenção é o melhor remédio.
A PALAVRA CULTURA
Cultura
provém do latim medieval significando cultivo da terra.
Do
verbo latino original COLO que é igual a cultivar, que juntando a cultum, forma
a palavra CULTURA, que volto a dizer, no início era relativo ao cultivo da
terra.
Sua
transformação começa a partir da sabedoria acumulada no trato do ambiente natural e a experiência
secular de pastores e agricultores acabaram conferindo ao termo cultura, o
sentido de conhecimento intelectual, aplicado à ação transformadora do mundo.
Por outro lado, podemos dizer que é a convicção do saber acumulado pela
existência do trabalho que produz uma libertação de condicionamento.
ANTROPOLOGICAMENTE sabemos que “a cultura é o
conjunto de experiências humanas adquiridas pelo contato social e acumuladas
pelos povos através do tempo.
CONCEITOS
Os conceitos que
iremos listar nos levarão, quem sabe, por caminhos diferentes, porém alcançando
um fim comum. Assim vejamos:
Italo Calvino
diz “quem somos nós? Quem é cada um de nós senão uma combinatória de
experiências, de informações, de leituras e imaginações? Cada vida é uma
enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos,
onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras”.
Analisando o que
disse Calvino, refletimos que na realidade brasileira atual, podemos sim, ser
uma biblioteca, mas uma biblioteca de livros editados e na melhor das hipóteses,
editados por um único canal de televisão, ou por algumas vozes poderosas de um
mesmo rádio, situado num sistema de comunicação a serviço de uma elite
dominante.
Um outro
conceito nos diz que a cultura é uma expressão simbólica das linguagens, da
imensa diversidade que caracteriza o processo e os modos como os povos definem
as suas identidades, num contexto, como o nosso, complexo, contraditório,
difícil, rico, espelhado pela riqueza do saber popular, afirmamos então, que a
cultura é um elemento fundamental de resgate dos valores sem os quais a
experiência humana torna-se uma experiência empobrecida e amarga, por isso essa
cultura deve ser solidaria, fraterna, igualitária, liberta, justa e que se
contraponha à avalanche imposta pelo projeto neoliberal, que como diz o
ex-prefeito petista de Belo Horizonte, Patrus Ananias “reduz o sonho humano a
uma conta bancária, uma casinha de praia”.
A cultura vista
desta forma, solidária, fraterna, liberta e justa, é um instrumento de luta
permanente da memória, contra o esquecimento, é abrangente, criadora e
mantenedora de valores, significados, símbolos, normas, mitos, imagens, etc...
presentes nas práticas cotidianas, nas instituições, movimentos, pensamentos,
na arte. É uma cultura que penetra nos coletivos humanos e nos indivíduos, dos
conceitos de trabalhos as emoções. Com esse sentido ela é o modo de viver, ser,
fazer, pensar, sentir, simbolizar e imaginar das sociedades humanas.
Constatamos,
porém, que com essa diversidade ela é plural e com isso trás diferenças nos
significados culturais, mas também cria certas condições que leva uma sociedade
inteira a participar dessa mesma criação coletiva, quer seja através da cultura
popular, da erudita, da cultura de massa ou da cultura revolucionária para a
libertação, expressa através dos ritos religiosos (grandes procissões),
espetáculos artísticos, movimentação política ou outros.
Porém cultura não significa tão somente
esses momentos ou somente o espetáculo. Como diz Marilena Chauí “Cultura não é
simplesmente a arte ou o evento”, não é área ou departamento, não é definida
pela economia de mercado, é na verdade e, sobretudo, “criação individual e
coletiva das obras de arte, do pensamento, dos valores, dos comportamentos e do
imaginário.
Expresso isso, não podemos nos limitar
a pensar a cultura apenas como manifestação cultural, temos que a pensar como
parte da trajetória da raça humana, como a marca deixada do homem e da mulher
na história do mundo, pois o ato que gera a cultura é a criação, a invenção, a
transformação e trabalhar com a cultura é trabalhar com a revolução do próprio
corpo, pensamento, no tempo e no espaço, a todo instante, trabalhando o momento
de critica e de construção, de continuidade e percepção, porque a cultura faz
com que você se olhe no espelho e se reconheça como o próximo, como o outro,
como o diferente, como o igual, como o negro e o branco, trabalhando nas
múltiplas possibilidades.
A cultura ao ser definida se refere à literatura,
cinema, arte entre outras, porém seu sentido é bem mais abrangente, pois
cultura pode ser considerada como tudo que o homem através da sua
racionalidade, mais precisamente a inteligência, consegue executar, dessa forma
todos os povos e sociedades possuem sua cultura por mais tradicional e arcaica
que seja, pois todos os conhecimentos
adquiridos são passados das gerações passadas para as futuras.
Os elementos culturais são artes,
ciências, costumes, sistemas, leis, religião, crenças, esportes, mitos, valores
morais e éticos, comportamento, preferências, invenções e todas as maneiras de
ser (sentir, pensar e agir).
A cultura é uma das principais
características humanas, pois somente o homem tem a capacidade
de desenvolver culturas, distinguindo-se dessa forma de outros seres como os
vegetais e animais.
Apesar das evoluções pelas quais passa
o mundo, a cultura tem a capacidade de se permanecer quase intacta, e são
passadas aos descendentes como uma memória coletiva, lembrando que a cultura é
um elemento social, impossível de se desenvolver individualmente.
O conceito sociológico de cultura
O conceito de
cultura, tal como o de sociedade, é uma das noções mais amplamente usadas em
Sociologia. A cultura consiste nos valores de um dado grupo de pessoas, nas
normas que seguem e nos bens materiais que criam. Os valores são ideias
abstratas, enquanto as normas são princípios definidos ou regras que se espera
que o povo cumpra. As normas representam o “permitido” e o “proibido” da vida
social. Assim, a monogamia – ser fiel a um único parceiro matrimonial – é um
valor proeminente na maioria das sociedades ocidentais. Em muitas outras
culturas, uma pessoa é autorizada a ter várias esposas ou esposos
simultaneamente. As normas de comportamento no casamento incluem, por exemplo, como
se espera que os esposos se comportem com os seus parentes por afinidade. Em
algumas sociedades, o marido ou a mulher devem estabelecer uma relação próxima
com os seus parentes por afinidade; noutras, espera-se que se mantenham nítidas
distâncias entre eles.
Quando usamos o
termo, na conversa quotidiana comum, pensamos muitas vezes na “cultura” como
equivalente às “coisas mais elevadas do espírito” – arte, literatura, música e
pintura. Os sociólogos incluem no conceito estas atividades, mas também muito mais.
A cultura refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de
grupos dessa sociedade. Inclui a forma como se vestem, os costumes de casamento
e de vida familiar, as formas de trabalho, as cerimônias religiosas e as
ocupações dos tempos livres. Abrange também os bens que criam e que se tornam
portadores de sentido para eles – arcos e flechas, arados, fábricas e máquinas,
computadores, livros, habitações.
A “cultura” pode
ser distinguida conceitualmente da “sociedade”, mas há conexões muito estreitas
entre estas noções. Uma sociedade é um sistema de inter-relações que ligam os
indivíduos em conjunto. Nenhuma cultura pode existir sem uma sociedade. Mas,
igualmente, nenhuma sociedade existe sem cultura. Sem cultura, não seríamos de
modo algum “humanos”, no sentido em que normalmente usamos este termo. Não
teríamos uma língua em que nos expressássemos, nem o sentido da
autoconsciência, e a nossa capacidade de pensar ou raciocinar seria severamente
limitada [...].
O principal tema
deste capítulo e do próximo é, de fato, o da relação entre a herança biológica
e a herança cultural da humanidade. As questões relevantes são: o que distingue
os seres humanos dos animais? De onde provêm as nossas características
distintivamente “humanas”? Qual a natureza da natureza humana? Estas questões
são cruciais para a Sociologia, porque são as bases de todo o seu campo de
estudo. Para lhes responder, devemos analisar tanto o que os humanos têm em
comum como as diferenças entre as diversas culturas.
As variações culturais
entre seres humanos estão ligadas a diferentes tipos de sociedade [...]
Cultura erudita
Erudito =
instrução vasta adquirida pelo estudo. Advêm da elite social, econômica e
política. Seu conhecimento é proveniente do pensamento científico, dos livros e
das pesquisas universitárias.
Cultura erudita
é a produção acadêmica centrada no sistema
educacional, sobretudo na universidade. Trata-se de
uma cultura produzida por uma minoria de
intelectuais das mais diversas especialidades, e geralmente saídos dos
segmentos superiores da classe média e da classe
alta. A cultura erudita está ligada à elite, ou seja, está
subordinada ao capital pelo fato de este fator viabilizar este tipo de cultura.
Esta exige estudo, pesquisa para se obter o conhecimento, portanto não é viável
a uma maioria, e sim a uma determinada classe social que, por sua vez, possui
condições para investir e obter esses conhecimentos. É uma cultura em que a
sociedade valoriza como superior ou dominante.
Cultura Popular
A cultura
popular não está ligada ao conhecimento científico. Diz respeito ao
conhecimento espontâneo e ao senso comum. A cultura popular também pode ser
objeto de estudo das pesquisas universitárias.
Uma opinião
amplamente sustentada é a de que a cultura popular tende a ser superficial. Os
itens culturais que requerem grande experiência, treino ou reflexão para serem
apreciados, dificilmente se tornam itens da cultura popular. Cultura Popular ou
Cultura Pop é a cultura vernacular (passada de geração para geração), isto é,
do povo, que existe numa sociedade moderna. O conteúdo da cultura popular é
determinado em grande parte pelas indústrias que disseminam o material
cultural, como por exemplo, as indústrias do cinema, televisão e editorais, bem
como os meios de comunicação de massa. No entanto, a cultura popular não pode
ser descrita como o produto conjunto dessas indústrias.
Arte popular: um
tipo de linguagem por meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela
sobrevivência. Na arte popular, o artista é o homem do povo, do meio rural ou
das periferias das grandes cidades. Arte popular do século XVIII é diferente da
arte popular hoje, como o rap, o hip hop, etc. A Cultura popular incorpora
sempre novos elementos sociais, no entanto, ela é também conservadora da
identidade de uma representação social ou grupo social. Ex.: o carnaval era uma
festa popular, mas com os meios de comunicação de massa se tornou um espetáculo
para turistas. O artista popular tira sua “inspiração” de acontecimentos locais
rotineiros e regionais.
Nunca podemos
dizer que a cultura erudita possui qualidade e a cultura popular não! Elas
podem ter a mesma sofisticação. No entanto, elas não possuem o mesmo status social. A cultura erudita é
transmitida pelas escolas e outras instituições formais. A cultura popular não,
como, por exemplo, a literatura de Cordel normalmente não é usada nas
instituições escolares como forma de expressão cultural e objeto de
desenvolvimento pedagógico. Existem
estudos e pesquisas que comprovam a idéia de que a literatura de Cordel poderia
ser usada como mecanismo de alfabetização infantil.
Os intelectuais
discutem a cultura erudita e a popular, mas o artista da cultura popular não!
Quem define o que é erudito e o que é popular é a elite intelectual.
PATRIMÔNIO
CULTURAL
A noção
tradicional de patrimônio histórico e cultural resume-se quase exclusivamente à
arquitetura: igrejas, fachadas, portais, etc. Entretanto, o conceito engloba
também elementos além da mera materialidade, como festas folclóricas e
religiosas, técnicas de artesanato e outras manifestações culturais.
Patrimônio cultural é
o conjunto de todos os bens, materiais ou
imateriais, que, pelo seu valor próprio, devam
ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de
um povo. O patrimônio é a nossa herança do
passado, com que vivemos hoje, e que passamos às gerações vindouras.
Do patrimônio
cultural fazem parte bens imóveis, tais como castelos, igrejas, casas, praças,
conjuntos urbanos, e ainda locais dotados de expressivo valor para a história,
a arqueologia, a paleontologia e a ciência em geral. Nos
bens móveis incluem-se, por exemplo, pinturas, esculturas e
artesanato. Nos bens imateriais considera-se
a literatura, a música,
o folclore, a linguagem e
os costumes.
Conforme dispõe
o art. 216 da Constituição Federal de 1988, constituem patrimônio cultural
brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. A Constituição também
atribuiu como competência comum da União, Estados, Distrito Federal e
Municípios proteger os bens de valor histórico, artístico e cultural,
monumentos, paisagens notáveis e sítios arqueológicos. Para proteger esses bens
o Poder Público efetua registros, inventários, vigilância, tombamento e
desapropriação dos mesmos.
Podem ser formas
de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas,
artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e
sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.
O patrimônio
cultural é de fundamental importância para a memória, a identidade e a
criatividade dos povos e a riqueza das culturas.
Patrimônio cultural material: é composto por monumentos, grupos de
edifícios ou sítios arqueológicos que tenham um excepcional valor histórico,
estético.
Patrimônio cultural imaterial ou intangível: entende-se por patrimônio
imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas –
junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.
Patrimônio natural:
significa as formações físicas, biológicas e geológicas excepcionais, habitats
de espécies animais e vegetais ameaçadas e áreas que tenham valor científico,
de conservação ou estético excepcional.
ACULTURAÇÃO
Aculturação é um termo criado
inicialmente por antropólogos norte-americanos para designar as mudanças que
podem acontecer em uma sociedade diante de sua fusão com elementos culturais
externos, geralmente por meio de dominação política, militar e territorial.
Porém, segundo o historiador francês Nathan Watchel, aculturação é todo
fenômeno de interação social que resulta do contato entre duas culturas, e não
somente da sobreposição de uma cultura à outra. Já Alfredo Bosi, em Dialética
da colonização, afirma que esse fenômeno provém do contato entre sociedades
distintas e pode ocorrer em diferentes períodos históricos, dependendo apenas
da existência do contato entre culturas diversas, constituindo-se, assim, um
processo de sujeição social. A maioria dos autores acreditam que a aculturação
é sempre um fenômeno de imposição cultural.
Trata-se de aculturação
quando duas culturas distintas ou parecidas são absorvidas uma pela outra,
formando uma nova cultura diferente. Além disso, aculturação pode ser também
entendida como a absorção de uma cultura pela outra, onde essa nova cultura
terá aspectos da cultura inicial e da cultura absorvida. Um exemplo é o Brasil
que adquiriu traços da cultura de Portugal, da África, que juntamente com a
cultura indígena formou-se a cultura brasileira.
Com a crescente globalização,
um novo entendimento de aculturação vem se tornando um dos aspectos
fundamentais na sociedade. Pela proximidade a grandes culturas e rapidez de
comunicação entre os diferentes países do globo, alguns autores sustentam que cada cultura está perdendo sua
identificação cultural e social, aderindo em parte a outras culturas. Um
exemplo disso são elementos da cultura ocidental que são cada vez mais homogêneos
em muitos países distintos. Mesmo assim a aculturação não tira totalmente a
identidade social de um povo, crendo-se que talvez no futuro não exista mais
uma diferença cultural tão acentuada como a aquela que hoje ainda se observa,
em especial entre o Oriente e o Ocidente.
CULTURA
E IDENTIDADE
Identidade é conceito-chave na construção de políticas
culturais. Além de dar sentido a um território cultural, reúne dentro de si
elementos simbólicos compartilhados entre um grupo de tal modo a garantir a sua
soberania como nação.
Segundo Teixeira Coelho (1997), “tratava-se de encontrar os
traços dessa identidade e de preservá-los estimulando sua reprodução por
intermédio de programas de ação cultural e de políticas de comunicação de massa
de que resultaram as redes nacionais de televisão”.
A identidade cultural de um povo é geralmente reconhecida
por seus elementos unificadores, como território, língua e religião. Tratar do
assunto sob o ponto de vista das políticas públicas de cultura torna-se cada
vez mais complexo e espinhoso. Geralmente atrelado ao nacionalismo e utilizado
como política de Estados concentradores, o conceito passou a ser visto com
certa ressalva por formuladores e pesquisadores contemporâneos.
A construção do sentido de nação significa, para Zygmunt
Bauman, a negação de diversificação étnica e cultural. Os processos
civilizadores presididos e monitorados pelo poder do Estado apagam os
resquícios de traços culturais do passado. A nacionalidade desempenha um papel
de legitimação na unificação política do Estado, “e a invocação das raízes
comuns e de um caráter comum deveria ser importante instrumento de mobilização
ideológica – a produção de lealdade e obediência patrióticas”.
A cultura, cada vez mais homogeneizada, resulta de um certo
hibridismo cultural da sociedade global, capaz de agir com a mesma intensidade
e força de comando em sociedades tão distintas quanto o Brasil e o Iraque, por
exemplo. Nesse ambiente global, a questão da identidade assume outras
características.
Para Bauman, o aumento da rede de dependências adquire com
rapidez um âmbito mundial, gerando desenvolvimento desigual da economia, da
política e da cultura. “O poder, enquanto incorporado na circulação mundial do
capital e da informação, torna-se extraterritorial, enquanto as instituições
políticas existentes permanecem, como antes, locais. Isso leva inevitavelmente
ao enfraquecimento do Estado-nação”. Como consequência disso, “os governos dos
Estados têm de abrir mão do controle dos processos econômicos e culturais, e
entregá-los às ‘forças do mercado’”.
No plano individual, identidade é condição de cidadania, de
conquista de direitos e ciência de deveres. E se a sociedade lhe garante acesso
aos conteúdos diversos e liberdade de expressão, isso pode significar a
construção da própria subjetividade, por meio do reconhecimento e valorização
dos fatores constitutivos da sua herança cultural, assim como a possibilidade
de identificação com outras culturas e modos de vida ao seu redor.
Por outro lado, a globalização deveria
potencializar o processo de construção e consolidação de uma identidade
própria, legitimada por escolhas e vínculos de herança. Isso se for garantido
ao cidadão o acesso irrestrito e não mediado por mecanismos de domínio e
controle, a conteúdos de todas as culturas. Em diálogo e contraposição
com os seus próprios referenciais, o indivíduo exerce de maneira mais clara e rica a construção e o exercício da sua subjetividade.
com os seus próprios referenciais, o indivíduo exerce de maneira mais clara e rica a construção e o exercício da sua subjetividade.
A identidade
cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios simbólicos
historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores
entre os membros de uma sociedade. Sendo um conceito de trânsito intenso e
tamanha complexidade, podemos compreender a constituição de uma
identidade em manifestações que podem envolver um amplo número de situações que
vão desde a fala até a participação em certos eventos.
Durante muito
tempo, a ideia de uma identidade
cultural não era devidamente problematizada no campo das ciências humanas. Com
o desenvolvimento das
sociedades modernas, muitos teóricos tiveram grande preocupação em apontar o
enorme “perigo” que o avanço das transformações tecnológicas, econômicas e
políticas poderiam oferecer a determinados grupos sociais. Nesse âmbito,
principalmente os folcloristas, defendiam a preservação de certas práticas e tradições.
Por outro lado,
algumas recentes teorias culturais desenvolvidas no campo das Ciências Humanas
desempenharam o papel inovador de questionar o próprio conceito de identidade
cultural. De acordo com essa nova corrente, muito em voga com o desenvolvimento
da globalização, a identidade cultural não pode ser vista como sendo um
conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade
a qual ele faz parte.
Um dos mais
conhecidos exemplos dessa nova tendência que pensa a questão das identidades
pode ser encontrada na obra do pesquisador Nestor Garcia Canclini. Em vários de
seus escritos, este pensador tem a recorrente preocupação de analisar diversas
situações onde mostra que a cultura e as identidades não podem ser pensadas
como um patrimônio a ser preservado. Longe disso, ele assinala que o
intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a formulação e a
construção das identidades.
Com esses
referenciais, antigos problemas que organizavam os estudos culturais perdem a
sua força para uma visão de natureza mais ampla e flexível. A antiga dicotomia
que propunha a cisão entre “cultura popular” e “cultura erudita”, por exemplo,
deixa de legitimar a ordenação das identidades por meio de pressupostos que
atestavam a presença de esferas culturais intocáveis em uma mesma sociedade.
Além disso, outras investigações cumpriram o papel de questionar profundamente
o clássico conceito de aculturação.
Partindo dessas
novas noções de identidade, antigos temas relacionados à cultura que
aparentavam completo esgotamento ganharam um novo fôlego interpretativo. As
identidades passaram a ser trabalhadas com definições menos rígidas. Diversos
estudos vão contra a idéia de que uma população deve abraçar a sua cultura e
garantir todas as formas possíveis de cristalizá-la. Dessa forma, presenciamos
a abertura de novas possibilidades de entender o comportamento do homem com seu
mundo.
Identidade cultural é o sentimento de identidade de um grupo ou cultura, ou de
um indivíduo, na medida em que ele é influenciado pela sua pertença a um grupo
ou cultura e/ou seus mecanismos de afiliação/ exclusão do mesmo.
Identidade é a igualdade completa. Cultural é um adjetivo de
saber. Logo, a junção das duas palavras produz o sentido de saber se
reconhecer. Muitas questões contemporâneas sobre cultura se relacionam com
questões sobre identidade. A discussão sobre a identidade cultural acaba
influenciada por questões sobre: lugar, gênero, raça, história, nacionalidade, orientação
sexual, crença religiosa e etnia.
Na percepção individual ou coletiva da identidade, a cultura
exerce um papel principal para delimitar as diversas personalidades, os padrões
de conduta e ainda as características próprias de cada grupo humano. A
influência do meio constantemente modifica um ser já que nosso mundo é repleto
de inovações e características temporárias, os chamados "modismos".
No passado as identidades eram mais conservadas devido à falta de contato entre
culturas diferentes; porém, com a globalização, isso mudou fazendo com que as
pessoas interagissem mais, entre si e com o mundo ao seu redor. Uma pessoa que
nasce em um lugar absorve todas as características deste, entretanto, se ela
for submetida a uma cultura diferente por muito tempo, ela adquirirá
características do novo local onde está agregada.
Para o teórico Milton Santos, o conhecimento e o saber se
renovam do choque de culturas, sendo a produção de novos conhecimentos e
técnicas, produto direto da interposição de culturas diferenciadas - com o
somatório daquilo que anteriormente existia. Para ele, a globalização que se
verificava já em fins do século XX tenderia a uniformizar os grupos culturais,
e logicamente uma das conseqüências seria o fim da produção cultural, enquanto
gerador de novas técnicas e sua geração original. Isto refletiria, ainda, na
perda de identidade, primeiro das coletividades, podendo ir até ao plano
individual.
Segundo Stuart Hall (1999) uma identidade cultural enfatiza
aspectos relacionados a nossa pertença a culturas étnicas, raciais,
linguísticas, religiosas, regionais e/ou nacionais. Ao analisar a questão, este
autor focaliza particularmente as identidades culturais referenciadas às
culturas nacionais. Para ele, a nação é além de uma entidade política – o
Estado –, ela é um sistema de representação cultural. Noutros termos, a
nação é composta de representações e símbolos que fundamentam a constituição de
uma dada identidade nacional. Segundo Hall (1999), as culturas nacionais
produzem sentidos com os quais podemos nos identificar e constroem,
assim, suas identidades. Esses sentidos estão contidos em estórias, memórias e
imagens que servem de referências, de nexos para a constituição de uma
identidade da nação. Entretanto, segundo Hall (1999), vivemos atualmente numa
“crise de identidade” que é decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas
nas sociedades modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das
estruturas e processos centrais dessas sociedades, abalando os antigos quadros
de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo
social. A modernidade propicia a fragmentação da identidade. Conforme ele, as
paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade
não mais fornecem “sólidas localizações” para os indivíduos. O que existe agora
é descentramento, deslocamentos e ausência de referentes fixos ou sólidos para
as identidades, inclusive as que se baseiam numa idéia de nação.
Diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo e alteridade
.É norma
socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de
familiares quando atingem uma idade avançada. Os Esquimós deixam-nos morrer de
fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas
homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita). Em
vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas
sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné
consideram que roubar é moralmente correto; a maior parte das sociedades
condenam esse ato. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das
culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte
vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do deserto
consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer
da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.
Centenas de
páginas seriam insuficientes para documentarmos a relatividade dos padrões
culturais, a grande diversidade de normas e práticas culturais que existem
atualmente e também as que existiram.
Até há bem pouco
tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si
mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das
outras.
Os europeus que
viajaram para as Américas no século XVI acreditavam que iam encontrar gigantes,
amazonas e pigmeus, a Fonte da Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca
envelheciam e homens que viviam centenas de anos. Os índios americanos foram
inicialmente olhados como criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os
animais do que com os seres humanos. Paracelso, nunca lá tendo ido, descreveu o
continente norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio
bestas. Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem
alma nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta,
na Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não
homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar
nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude.
Durante o século
XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias
tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez
pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas,
reformar o modo de vida dos “pagãos”. Proibiram os homens de ter mais de uma
mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente.
Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a
nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco,
revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero
entre as mulheres e orfandade entre as crianças.
Se bem que o
complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os
chineses do século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus
visitantes ingleses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa,
bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os
próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos
pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados
como inferiores, bárbaros e selvagens.
O etnocentrismo é a atitude
característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores
vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de
julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios
padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de
vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a
que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores
universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua
"superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e
culturas. Adaptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos
tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da
espécie humana.
Quais os perigos
da atitude etnocêntrica? A negação da diversidade cultural humana (como se uma
só cor fosse preferível ao arco-íris) e, sobretudo os crimes, massacres e
extermínios que a conjugação dessa atitude ilegítima com ambições econômicas
provocou ao longo da História.
Depois da
Segunda Guerra Mundial e do extermínio de milhões de indivíduos pertencentes a
povos que pretensos representantes de valores culturais superiores definiram
como subumanos, a antropologia cultural promoveu a abertura das mentalidades, a
compreensão e o respeito pelas normas (valores das outras culturas Mensagens
fundamentais: a) Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores
negativos; b) Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar
o seu sentido integrando-as na totalidade cultural sem a qual são
incompreensíveis; c) O conhecimento metódico e descomplexado de culturas
diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário em alguns
dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações
religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar determinados
valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com
a natureza, etc.
A defesa
legítima da diversidade cultural conduziu, contudo, muitos antropólogos atuais
a exagerarem a diversidade das culturas e das sociedades: não existiriam
valores universais ou normas de comportamentos válidos independentemente do
tempo e do espaço. As valorações são relativas a um determinado contexto
cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa sociedade, não existindo
escala de valores universalmente aceite, seria avaliá-los em função dos valores
que vigoram na nossa cultura.
Cairíamos de novo, segundo a maioria
dos antropólogos, nessa atitude dogmática que é o etnocentrismo.
O etnocentrismo é a tendência a
considerar um grupo étnico como superior a outros. É uma atitude de avaliar
qualquer outro grupo social com base nos valores próprios do seu grupo. O
etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como
“certo” ou “errado”, “normal” ou “anormal”, os comportamentos e as formas de
ver o mundo de outros povos, desmerecendo suas práticas. O etnocentrismo se
relaciona com o conceito de estereótipos, que consiste na generalização e
atribuição de valor (geralmente negativo) a algumas características de um
grupo, reduzindo-o a essas características e definindo os “lugares de poder” a
serem ocupados. É uma generalização de julgamentos subjetivos, feitos em
relação a um determinado grupo, impondo-lhe o lugar de inferior, no caso de
estereótipos negativos.
A reação diante da alteridade[1]
faz parte da natureza das sociedades, de acordo com Frei Beto alteridade “é ser
capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e,
sobretudo, da sua diferença”. Quanto menos alteridade existe nas relações
pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. Em todas as épocas, sociedades
particulares reagiram de forma específica diante do contato com uma cultura
diversa à sua, inclusive ocorrendo o que o antropólogo Roberto Cardoso de
Oliveira chamou de “fricção interétnica”.
As culturas costumam definir o que
as pessoas devem usar, se tratar etc., a nossa cultura, a ocidental, negou-se a
ver nas pinturas corporais, nos adornos e adereços dos grupos indígenas
sul-americanos os correspondentes às roupas impostas por ela, e criou-se assim
a idéia de que o “índio/a” andaria pelado/a avaliando esse comportamento como
incivilizado. Acreditando na superioridade de sua cultura, os europeus
intervieram na formas tradicionais de vida existentes nos outros continentes,
procurando tranformá-las.
Costumamos “ver”
o mundo através de nossa cultura, utilizando-a como parâmetro para julgarmos outras
culturas, acreditando que a nossa visão, nosso modo de vida, a nossa cultura
são corretos, normais.
Tal tendência,
denominada etnocentrismo é responsável em seus casos extremos pela ocorrência
de numerosos conflitos sociais. O etnocentrismo de fato é um conceito
universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade
ou mesmo a sua única expressão. O ponto fundamental de referência não é a
humanidade, mas o grupo.
O costume de
discriminar os que são diferentes porque pertencem a outro grupo pode ser
encontrado mesmo dentro de uma sociedade. Os estereótipos são exemplo disso,
pois são também uma forma de “biologizar” as características de um grupo,
considerando-as como resultado exclusivo da biologia, da anatomia, o processo
de naturalização ou biologização das diferenças etnicorraciais, de gênero ou de
orientação sexual que marcou os séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição da
cidadania a negros, mulheres e homossexuais.
Comportamentos
etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de
povos diferentes. A nossa herança cultural nos condicionou a reagir
depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos
padrões. Por isso discriminamos o comportamento desviante.
O relativismo cultural sugere conformar e
não confrontar as diferenças culturais, tanto em nossa sociedade quanto em
outra cultura particular. Este conceito pode ser considerado precipitado, se
levarmos em conta o fato de que tudo pode ser aceito, ameaçando imposições dos
limites sociais.
O relativismo
é uma doutrina que prega que algo é relativo, contrário de uma idéia absoluta, categórica.
Atitude ou doutrina que afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas,
científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os
indivíduos de cada lugar. O relativismo é a "Postura segundo qual toda
avaliação é relativa a algum padrão, seja qual for, e os padrões derivam de
culturas." O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos tipos
de análise, mesmo sendo análises aparentemente contraditórias. As diversas
culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as avaliações são
geradas. Max Weber, em
suas obras sobre epistemologia[2],
abre espaço para o relativismo nas ciências da cultura quando diz que a ciência
é verdade para todos que querem a verdade, ou seja, por mais diferentes que sejam
as análises geradas por pontos de vista culturais diferentes, elas sempre serão
cientificamente verdadeiras, enquanto não refutadas.
O relativismo é um ponto de vista extremo oposto ao etnocentrismo, que leva
em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais. Porém, os
críticos dessa visão apontam que o relativismo torna impossível um avanço
científico nas ciências da cultura na medida em que coloca todos os tipos de
análise, absurdas ou não, em igualdade de veracidade. Assim podemos concluir
que o Relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia
qualquer verdade ou valor absoluto. “Todo ponto de vista é válido”.
Ø Preconceito: Suspeita,
intolerância, aversão ao “outro”, ao diverso. Idéia
pré-concebida, motivada por falta de informação.
Pode referir-se a “raças”, culturas, credos, grupos sociais, etc.
Ø Racismo: Tendência
de pensamento, ou modo de pensar em que se dá grande importância à
noção de existência de raças humanas distintas. Qualquer doutrina que sustenta a
superioridade biológica, cultural e/ou moral de determinada população,
povo ou grupo social considerado raça.
Ø Discriminação: Ato
ou efeito de discriminar. Tratamento preconceituoso dado a
certas categorias sociais.
Aliás, a palavra
discriminação em si significa apenas o ato de discriminar, ou seja,
caracterizar, diferenciar, distinguir, o que por si só não é algo malfazejo,
ruim. O problema acontece quando esta distinção é pejorativamente empregada
para legitimar uma hierarquização (discriminação negativa).
A discriminação
racial implica na ação contra uma pessoa ou grupo de
pessoas que pode ser motivada por um preconceito (idéia
pré-concebida) racial ou por racismo, ou seja, é uma ação
contra alguém baseada na idéia de existência de raças humanas e da supremacia de uma
sobre as outras.
Ø “Raça” é um construto social. É uma
categoria, um instrumento ideológico e político de classificação e
identificação das pessoas que orienta as ações humanas para revelar que as
discriminações e as desigualdades impingidas a uma parcela da população está
baseada nas características da aparência física e na negação sistemática da
humanidade do sujeito de determinada etnia, com determinada cultura e/ou com
determinados caracteres físicos, determinando o lugar que homens e mulheres
deste grupo ocupam na sociedade. Ou seja, o caráter ideológico do conceito
“raça” esconde uma relação de poder e de dominação. Embora a ciência comprove a
inexistência de raças no sentido biológico entre os seres humanos, o conceito
de “raça” é aqui entendido como uma ferramenta analítica que possibilitará ao
cientista, ao observador social inferir, refletir e analisar situações de
discriminação e desigualdade baseadas em motivações raciais que têm plena
existência no mundo social (e só nele). Portanto, assim como é
um equívoco científico empregar o termo raça do ponto de vista biológico aos
seres humanos, em uma análise sociológica também é um equívoco não considerar a
categoria “raça”, pois só ela é capaz de dar cabo de alguns fatos sociais que
ocorrem em nossa sociedade.
O racismo,
que faz alguém se achar superior a outrem, é absurdo e motiva atos cruéis, causando
imenso sofrimento para quem o sente na pele ou mesmo quando vemos
alguém ser penalizado por ele, pois ao ser afetado pelo racismo o indivíduo tem
sua rotina modificada, seja ele afrodescendente, indígena, judeu, etc.
Deve-se passar
para as vítimas de discriminação racial uma percepção diferente daquela que é
veiculada e afirmada por pessoas que têm o racismo e o preconceito
incutidos no seu pensamento e que muitas vezes acabam sendo assumidos
pela própria vítima de discriminação. Muitas pessoas possuem um
discurso identificado com o de seu discriminador, identificando-se com os aspectos
negativos que lhe são atribuídos. Vejamos um exemplo:
Certo dia, um
menino de 10 anos se definiu da seguinte forma: “Sou horrível, olha só para mim! Tenho certeza que seria mais bonito
se fosse branco... Eu queria mesmo é ser como o Michel Jackson... Na escola
ninguém gosta de mim, mas também como alguém pode gostar de uma pessoa feia
como eu?... Se eu morresse não faria a mínima diferença, pois não presto para
nada... Gosto de minha mãe, mas meu pai gostaria que fosse outro, pois é pobre,
preto e nunca vai conseguir nada na vida”.
Devido a uma
longa história de desvalorização, muitos dos afrodescendentes têm cultivado uma
auto-avaliação negativa, reforçada muitas vezes pelas informações introjetadas
desde a infância através dos meios de comunicação, família, amigos, escola, ou
seja, pela sociedade em geral, que estigmatiza o afrodescendente e outros
grupos. Isso é o que chamamos de racismo estrutural. Não se trata de uma
ação isolada dirigida a uma pessoa especificamente. A discriminação racial está
circunscrita em um contexto maior que é a ideologia do racismo. Exemplo
disso é quando vemos sempre uma idéia negativa associada a algo referente ao
negro, como sua cor, seu cabelo, suas feições faciais e outros atributos
físicos, seus valores culturais, sua religiosidade, entre outros fatores.
Algumas pessoas não conseguem perceber o quanto isso é prejudicial e pode
atingir as pessoas discriminadas, não só psicologicamente, como também cerceando
o acesso desta parcela da população às oportunidades em igualdade de condições
de disputa numa sociedade competitiva como a que vivemos. Isso é o que chamamos
de racismo estrutural, que deve ser combatido com políticas de ação
afirmativa.
Ø
A
palavra etnia é usada muitas vezes erroneamente como um eufemismo para
raça, ou como um sinônimo para grupo minoritário. Porém, uma etnia ou um grupo étnico é
uma comunidade humana definida por afinidades e semelhanças genéticas, que
geralmente reivindicam para si uma estrutura social, política e um território.
Embora diferentes, o conceito de raça é associado ao de etnia, com a diferença
de que etnia também compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, a
afiliação tribal, a religião, a língua e as tradições, enquanto raça
compreende apenas os fatores morfológicos, como cor de pele, constituição
física, estatura, traço facial, etc.
Os
negros escravizados no Brasil pertenciam a diversos grupos étnicos, como
yorubás, nagôs, ketus, bantus, angolas, congos, quimbundos, benguelas, haussás,
malês, jejes, sudaneses, moçambiques, etc.
Ø Estereótipo
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Por Marina
Martinez
|
Pode-se definir estereótipo
como sendo generalizações, ou pressupostos, que as pessoas fazem sobre as
características ou comportamentos de grupos sociais específicos ou tipos de
indivíduos. O estereótipo é geralmente imposto, segundo as características
externas, tais como a aparência (cabelos, olhos, pele), roupas, condição
financeira, comportamentos, cultura, sexualidade, sendo estas classificações
(rotulagens) nem sempre positivas que podem muitas vezes causar certos impactos
negativos nas pessoas.
Em alguns casos idéias estereotipadas são bem vindas como,
por exemplo, a frase “Brasil, o país do futebol”. Esta frase demonstra a paixão
que os brasileiros têm em relação ao futebol. Obviamente, que existem
brasileiros que não gostam de futebol, porém é uma idéia estereotipada que não
causa impactos negativos. No entanto, existem idéias estereotipadas sobre
outras nações que são preconceituosas, como por exemplo, afirmar que “o
Paquistão é o país dos homens bomba”. Essa generalização não é vista com bons
olhos pelos paquistaneses, uma vez que a maioria dos habitantes que vivem lá é
contra o terrorismo. O fato é que muitos estereótipos são geralmente adquiridos
na infância sob a influência dos pais, familiares, amigos, professores e
através da mídia. E quando um estereótipo é aprendido e armazenado no cérebro,
a tendência é que seja passado para outras pessoas.
Alguns tipos de estereótipos:
·
Estereótipos
de gênero:
São estereótipos direcionados ao gênero masculino e feminino. Antigamente
ouvia-se muito que o papel da mulher era casar e ter filhos e o homem era visto
como o provedor financeiro e tinha que focar em sua carreira. Hoje estes
estereótipos já não são tão predominantes como era há alguns anos atrás.
Felizmente a mulher conquistou seu espaço no mercado de trabalho, e consegue
fazer perfeitamente o seu papel de cuidar dos filhos e da casa, como também
cuidar de sua carreira profissional. Os homens hoje, também não são tão
cobrados na questão financeira, uma vez que suas parceiras ajudam nas despesas,
e são ótimos auxiliares na arrumação da casa. Outros estereótipos de gêneros
muito comuns são aqueles que dizem que as mulheres são melhores para cozinhar
do que os homens. No entanto, os melhores chefes de cozinha do mundo são
homens. Há ainda aqueles estereótipos que dizem que “os homens fazem sexo e as
mulheres fazem amor”, “mulher no volante perigo constante”, e outros
estereótipos que estão associados ao preconceito.
·
Estereótipos
raciais e étnicos: São estereótipos direcionados a diferentes etnias
e raças. Nesta categoria existem muitos estereótipos preconceituosos como
aqueles que dizem “os colombianos são traficantes”, “os mulçumanos são
terroristas”, “os índios são violentos”, “todos os alemães são prepotentes”,
“os portugueses são burros” e outros menos impactantes como “angolanos são os
melhores corredores do mundo”, “os negros são melhores no basquete”. Neste tipo
de estereótipo ainda incluem aqueles relacionados ao racismo que é o tipo de
preconceito mais freqüente em nosso país.
·
Estereótipos
sócio-econômicos:
São estereótipos relacionados com a questão financeira de indivíduos e grupo de
indivíduos. Exemplos: “Os mendigos são mendigos por opção”, “os sem-terra são
preguiçosos”, “patricinhas são mesquinhas”, entre outros.
·
Existem
também estereótipos no meio profissional, direcionados a certas profissões,
estereótipos em relação à opção sexual (gays, lésbicas e bissexuais),
estereótipos no mundo da estética, e ainda aqueles muito comuns em escolas como
os “nerds”, que são alunos que se destacam pela sua inteligência e pelo seu
jeito introvertido.
Os 2 Brasis
Por Hélio Santos* (adaptação de Helio Ventura)
Especialistas, quando falam das diferenças sociais, observam a
superabundância convivendo, ao mesmo tempo, com a absoluta escassez de tudo.
Entretanto, o que salta aos olhos de quem observa são os estoques raciais
alocados em cada um desses dois mundos – o do muito e o do nada. Os
especialistas reconhecem a assimetria, mas não conseguem ver o aspecto étnico e
racial.
As pessoas não podem ver porque já têm os olhos (e também a consciência)
acostumados a essa realidade. No primeiro Brasil, que poderia ser confundido
com um país europeu, como a Bélgica, temos uma população de maioria branca e
amarela (orientais). No outro Brasil, atrasado e pobre, temos um povo
marcadamente não-branco, onde predominam pretos e pardos (que somados formam a
população negra).
Os poucos índios remanescentes no país também habitam esse segundo
Brasil.
Apesar de serem dois mundos nada parecidos, em termos econômicos e
sociais, a cultura vivenciada pelos dois Brasis é a mesma. Contudo, a forma de
vivenciar essa mesma cultura revela diferenças. Há situações especiais em que
as pessoas desses dois mundos se fundem. Dois bons exemplos desse fenômeno: o
carnaval e o futebol. No dia-a-dia, porém, as coisas estão bem separadas. Há
mais que um apartheid social. Ele é quase racial mesmo. Por exemplo, uma
doméstica que vive em no subúrbio do Rio de Janeiro ou na Baixada Fluminense,
ao ir trabalhar na Zona Sul utilizará um transporte precário. Cavalos de
corrida e cachorros de madame, com certeza, viajam melhor. Chegando ao seu destino,
usará o elevador de serviço e adentrará ao local pela porta de serviço. Se
pernoitar no trabalho, permanecerá apartada em um cubículo apelidado quarto de
serviço, com sua porta para o tanque na área de serviço. Caso retorne à sua
casa, no fim do dia, cumprirá o ritual inverso. Há uma certa incomunicabilidade
entre os dois Brasis. Nossa doméstica transita de um Brasil para o outro sem
“contaminar” o primeiro.
A arquitetura nacional, apesar de talentosa e criativa, tem inspiração
na cultura escravocrata. A maneira de dividir o espaço da moradia no Brasil se
origina da cultura escravista que aqui se deu. Os apartamentos levam em conta a
organização social do espaço, onde se tem por perto os empregados, mas sem que
estes se misturem com os patrões. O apartamento reproduz o espaço da
Casa-Grande & Senzala.
O barbarismo social patrocinado pelo Brasil é, em realidade, de cunho
etnorracial. A maioria não se dá conta deste fato óbvio. As obviedades nem
sempre são vistas. Esse fato de teor etnorracial, por incorporar dramas de
identidade e sentimentos de culpa, é evitado tenazmente. Por isso, temos de
evidenciá-lo ao máximo.
As misérias e os problemas, aqui, têm cor e procedência. O Brasil foi o
país que maior número de africanos escravizados importou. A travessia atlântica
se inicia por volta de 1534 e se prolonga por mais de 3 séculos, mesmo depois
que o tráfico negreiro foi proibido em 1850. Seus descendentes, ainda hoje,
mais de cem anos depois da liberdade formal, anseiam por conquistas no campo da
cidadania. O Brasil seria hoje um país muito melhor caso a Abolição se fizesse
acompanhar por uma adequada reforma agrária, e se os ex-escravos recebessem o
direito de trabalhar e estudar enquanto cidadão. A transição da escravidão para
a liberdade ocorreu sem ações efetivas comprometidas com a extinção dos efeitos
danosos do escravismo. Os poderosos não ouviram o abolicionista Joaquim Nabuco,
para quem o simples fim do escravismo não era uma solução efetiva. Nabuco
entendia que, sem uma política que revertesse os danos acumulados pelos negros
ao longo dos séculos, não ocorreria uma mudança na sociedade brasileira. O
destino dos negros estava selado quando se decidiu pôr fim à escravidão sem
nenhuma política pública que compensasse os ex-escravos pelos mais de 350 anos
de explorações. Esses e seus descendentes, a partir daí, nunca mais teriam
condições de competir com os imigrantes europeus, como se deu. O longo período
de escravidão sugara não apenas as forças dos negros, mas, sobretudo, sua
iniciativa de prosperar e lutar por um lugar decente na sociedade. O que
chamamos aqui “lugar decente” são coisas simples: oportunidade de trabalho e de
capacitação, moradia, assistência à saúde e respeito. Enfim, tudo aquilo que
ainda hoje não se tem. Procuremos entender o dia seguinte ao 13 de Maio de
1888, data em que a Princesa Isabel promulgou a Lei Áurea: com a Abolição, os
negros foram colocados de uma só vez em disponibilidade num mercado de trabalho
que não o absorveu, ou seja, foram colocados no olho da rua! Aliás, no olho da
rua ficaram para não mais sair. Importante parcela do desemprego estrutural
brasileiro nasce daí. De tudo isso, ainda hoje se faz sentir os seus efeitos
danosos junto à população negra.
Tudo isso trata de algo que tem a ver com a estrutura na qual o País se
edificou, ou seja, a arquitetura social e política do País, foi projetada de
forma a existirem dois países dentro do mesmo espaço territorial. O cimento
dessa construção, que cola com firmeza todos esses tijolos, é o racismo
brasileiro: ibérico e dissimulado, mas eficaz e “cordial”. Nota-se que a
questão etnorracial, antes de ser um problema, é parte importante da solução
dos entraves que impedem o nosso desenvolvimento integral.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador social da ONU para
medir a qualidade de vida no mundo, não leva em conta apenas os aspectos
econômicos, mas também a renda (PIB por habitante), a educação (alfabetização e
taxa de matrícula) e a saúde (esperança de vida), o que, de fato, permite uma
avaliação mais adequada da qualidade de vida da população. Em 1997, de 174
países em todo o mundo, enquanto o Brasil como um todo (com negros, brancos,
orientais e índios) ocupava a 63ª posição (médio desenvolvimento humano), o
mesmo índice apurado apenas para os negro-descendentes, despencava para a 120ª
posição, semelhante ao obtido pelo Zimbábue ou Lesoto – dois países africanos
reconhecidamente pobres. O estudo foi feito por dois pesquisadores renomados,
Wania Sant’Anna e Marcelo Paixão.
Por conta disso, a sociedade brasileira é doente. Trata-se de uma
patologia social antiga e complexa, cuja terapia requer um remédio específico.
Tratar da mesma maneira pessoas secularmente excluídas e outras que não têm
essa condição é insensato. É não se vergar diante da lógica mais banal. Nesse
caso, para que se tenha efetiva igualdade, é fundamental tratar de forma
desigual aos desiguais, sem o que se eternizam as diferenças. Este é,
basicamente, o princípio da eqüidade, o qual pode vir a ser o agente
transformador que rompe com desigualdades estruturais, como as existentes no
Brasil. Uma característica importante da eqüidade é a idéia de compensação. O tratamento
diferenciado busca compensar por algum tipo de perda ocorrido no passado.
*Mestre em Finanças e doutor em Administração pela USP.
Interpretada por Rodrigo Sant'anna, Adelaide foi
denunciada por ter "estereótipos racistas". Foto: Reprodução/TV Globo
“Um quadro do programa Zorra total, da
Rede Globo, tem provocado indignação no público sensível aos problemas do
racismo e da discriminação racial no Brasil. Tem como protagonista uma mulher
chamada Adelaide – interpretada pelo ator – em que se concentram todos os
estereótipos negativos atribuídos às mulheres negras: é feia, desdentada,
ignorante, e costuma fazer referências pejorativas, por exemplo, ao cabelo dos
negros. Um combustível perfeito para o bullying
que aflige as crianças negras, especialmente as meninas, na escola e nos
círculos de convivência, contribuindo para manter baixa a autoestima de um
segmento da população quotidianamente adestrado a se sentir e comportar como
inferior” (Jorge da Silva, jurista e pesquisador).
“Imagine você na sala de estar, com sua
família, crianças, e de repente aparece uma mulher negra, mal vestida e
fedendo. Além do fedor, ela não tem os dentes da frente e parece absolutamente
ridícula... Todos riem às alturas. É essa a intenção. O riso, magicamente, nos
tira por uns instantes a capacidade de perceber o horror por trás de tais
cenas”. (Marcio André dos Santos,cientista social)
“A personagem Adelaide do Zorra Total
não é humor!” (Sérgio Martins, advogado)
“Além
da personagem Adelaide, representação da mulher negra de forma grotesca e
estereotipada, que já vinha sendo apresentada no programa por um
"humorista" que pinta o rosto de preto, a tal personagem traz sua
filha uma mulher branca com o rosto pintado de preto, cujo personagem traz no
peito uma faixa onde se lê "urubu
branco". No quadro "humorístico", esta personagem, uma
menina negra desdentada e feia, gostaria de participar de um concurso de beleza
e foi instigada pela mãe a beijar a mão do branco (padrinho) pedir a benção,
sendo que este lhe aconselhou a passar chapinha ou prancha nos cabelos para
alisá-lo”. (Maria Sylvia Oliveira para o Portal Geledés).
“Tem
um trecho em que a personagem teria dito: ‘durante a enchente não pude ficar
sem minha palha de aço, daí corri atrás para pegá-la e quando vi, eram os
cabelos da minha filha’, explicou a promotora que cuida do caso, Christiane
Monnerat”.
“(...)
E de pai para filho / o racismo passa / em forma de piadas / que teriam bem
mais graça / se não fossem o retrato / da nossa ignorância / transmitindo a
discriminação / desde a infância. / E o que as crianças aprendem brincando / é
nada mais nada menos do que a estupidez se propagando!” (“Lavagem Cerebral”,
Gabriel, o Pensador)
[1] Alteridade é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e
interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas
sociais afirmam, a existência do "eu -
individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade
diferente do indivíduo).
Dessa forma eu apenas existo
a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o
mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de
mim mesmo, sensibilizado que estou pela experiência do contato.
A “noção de outro ressalta
que a diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através
das dinâmicas das relações sociais. Assim sendo, a diferença é, simultaneamente,
a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito” (G. Velho,
1996:10)
[2] Epistemologia ou teoria do
conhecimento é a crítica, estudo ou tratado do conhecimento da ciência, ou
ainda, o estudo filosófico da origem, natureza e limites do conhecimento.
Pode-se remeter a origem da "epistemologia" a Platão ao tratar o
conhecimento como "crença verdadeira e justificada". O desafio da
"epistemologia" é responder "o que é" e "como"
alcançamos o conhecimento?. Diante dessas questões da epistemologia surgem duas
posições:
Empirista:
que diz que o conhecimento deve ser baseado na experiência, ou seja, no que for
apreendido pelos sentidos. Como defensores desta posição temos Locke, Berkeley
e Hume; e
Racionalista:
que prega que as fontes do conhecimento se encontram na razão, e não na
experiência. Como defensores desta posição temos Leibniz e Descartes.
A
expressão "epistemologia" deriva das palavras gregas
"episteme", que significa "ciência", e "Logia"
que significa "estudo", podendo ser definida em sua etimologia como
"o estudo da ciência".
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