Sociologia –
1º ano do ensino médio
Professor: Helio Ventura
A PALAVRA CULTURA
Cultura provém do latim
medieval significando cultivo da terra.
Do verbo latino original COLO que é igual a
cultivar, que juntando a cultum, forma a palavra CULTURA, que volto a dizer, no
início era relativo ao cultivo da terra.
Sua transformação começa a partir da sabedoria
acumulada no trato do ambiente natural e a experiência secular de pastores e
agricultores acabaram conferindo ao termo cultura, o sentido de conhecimento intelectual,
aplicado à ação transformadora do mundo. Por outro lado, podemos dizer que é a
convicção do saber acumulado pela existência do trabalho que produz uma
libertação de condicionamento.
ANTROPOLOGICAMENTE sabemos que “a cultura é o
conjunto de experiências humanas adquiridas pelo contato social e acumuladas
pelos povos através do tempo.
CONCEITOS
Os conceitos que iremos
listar nos levarão, quem sabe, por caminhos diferentes, porém alcançando um fim
comum. Assim vejamos:
Italo Calvino diz “quem somos
nós? Quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de
informações, de leituras e imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma
biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode
ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras”.
Analisando o que disse
Calvino, refletimos que na realidade brasileira atual, podemos sim, ser uma
biblioteca, mas uma biblioteca de livros editados e na melhor das hipóteses,
editados por um único canal de televisão, ou por algumas vozes poderosas de um
mesmo rádio, situado num sistema de comunicação a serviço de uma elite
dominante.
Um outro conceito nos diz
que a cultura é uma expressão simbólica das linguagens, da imensa diversidade
que caracteriza o processo e os modos como os povos definem as suas
identidades, num contexto, como o nosso, complexo, contraditório, difícil,
rico, espelhado pela riqueza do saber popular, afirmamos então, que a cultura é
um elemento fundamental de resgate dos valores sem os quais a experiência
humana torna-se uma experiência empobrecida e amarga, por isso essa cultura
deve ser solidaria, fraterna, igualitária, liberta, justa e que se contraponha
à avalanche imposta pelo projeto neoliberal, que como diz o ex-prefeito petista
de Belo Horizonte, Patrus Ananias “reduz o sonho humano a uma conta bancária,
uma casinha de praia”.
A cultura vista desta forma,
solidária, fraterna, liberta e justa, é um instrumento de luta permanente da
memória, contra o esquecimento, é abrangente, criadora e mantenedora de
valores, significados, símbolos, normas, mitos, imagens, etc... presentes nas
práticas cotidianas, nas instituições, movimentos, pensamentos, na arte. É uma
cultura que penetra nos coletivos humanos e nos indivíduos, dos conceitos de
trabalhos as emoções. Com esse sentido ela é o modo de viver, ser, fazer,
pensar, sentir, simbolizar e imaginar das sociedades humanas.
Constatamos, porém, que com
essa diversidade ela é plural e com isso trás diferenças nos significados
culturais, mas também cria certas condições que leva uma sociedade inteira a
participar dessa mesma criação coletiva, quer seja através da cultura popular,
da erudita, da cultura de massa ou da cultura revolucionária para a libertação,
expressa através dos ritos religiosos (grandes procissões), espetáculos
artísticos, movimentação política ou outros.
Porém cultura não significa tão somente esses
momentos ou somente o espetáculo. Como diz Marilena Chauí “Cultura não é
simplesmente a arte ou o evento”, não é área ou departamento, não é definida
pela economia de mercado, é na verdade e, sobretudo, “criação individual e
coletiva das obras de arte, do pensamento, dos valores, dos comportamentos e do
imaginário.
Expresso isso, não podemos nos limitar a pensar a
cultura apenas como manifestação cultural, temos que a pensar como parte da
trajetória da raça humana, como a marca deixada do homem e da mulher na
história do mundo, pois o ato que gera a cultura é a criação, a invenção, a
transformação e trabalhar com a cultura é trabalhar com a revolução do próprio
corpo, pensamento, no tempo e no espaço, a todo instante, trabalhando o momento
de critica e de construção, de continuidade e percepção, porque a cultura faz
com que você se olhe no espelho e se reconheça como o próximo, como o outro,
como o diferente, como o igual, como o negro e o branco, trabalhando nas
múltiplas possibilidades.
A cultura ao ser definida se refere à literatura,
cinema, arte entre outras, porém seu sentido é bem mais abrangente, pois
cultura pode ser considerada como tudo que o homem através da sua
racionalidade, mais precisamente a inteligência, consegue executar, dessa forma
todos os povos e sociedades possuem sua cultura por mais tradicional e arcaica
que seja, pois todos os conhecimentos
adquiridos são passados das gerações passadas para as futuras.
Os elementos culturais são artes, ciências, costumes,
sistemas, leis, religião, crenças, esportes, mitos, valores
morais e éticos, comportamento, preferências, invenções e todas as maneiras de
ser (sentir, pensar e agir).
A cultura é uma das principais características humanas, pois
somente o homem tem a capacidade
de desenvolver culturas, distinguindo-se dessa forma de outros seres como os
vegetais e animais.
Apesar das evoluções pelas quais passa o mundo, a cultura tem
a capacidade de se permanecer quase intacta, e são passadas aos descendentes
como uma memória coletiva, lembrando que a cultura é um elemento social,
impossível de se desenvolver individualmente.
O conceito sociológico de cultura
O conceito de cultura, tal como o de
sociedade, é uma das noções mais amplamente usadas em Sociologia. A cultura
consiste nos valores de um dado grupo de pessoas, nas normas que seguem e nos
bens materiais que criam. Os valores são ideias abstratas, enquanto as normas
são princípios definidos ou regras que se espera que o povo cumpra. As normas
representam o “permitido” e o “proibido” da vida social. Assim, a monogamia –
ser fiel a um único parceiro matrimonial – é um valor proeminente na maioria
das sociedades ocidentais. Em muitas outras culturas, uma pessoa é autorizada a
ter várias esposas ou esposos simultaneamente. As normas de comportamento no
casamento incluem, por exemplo, como se espera que os esposos se comportem com os
seus parentes por afinidade. Em algumas sociedades, o marido ou a mulher devem
estabelecer uma relação próxima com os seus parentes por afinidade; noutras,
espera-se que se mantenham nítidas distâncias entre eles.
Quando usamos o termo, na conversa quotidiana
comum, pensamos muitas vezes na “cultura” como equivalente às “coisas mais
elevadas do espírito” – arte, literatura, música e pintura. Os sociólogos
incluem no conceito estas atividades, mas também muito mais. A cultura
refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos dessa
sociedade. Inclui a forma como se vestem, os costumes de casamento e de vida
familiar, as formas de trabalho, as cerimônias religiosas e as ocupações dos
tempos livres. Abrange também os bens que criam e que se tornam portadores de
sentido para eles – arcos e flechas, arados, fábricas e máquinas, computadores,
livros, habitações.
A “cultura” pode ser distinguida
conceitualmente da “sociedade”, mas há conexões muito estreitas entre estas
noções. Uma sociedade é um sistema de inter-relações que ligam os indivíduos em
conjunto. Nenhuma cultura pode existir sem uma sociedade. Mas, igualmente,
nenhuma sociedade existe sem cultura. Sem cultura, não seríamos de modo algum
“humanos”, no sentido em que normalmente usamos este termo. Não teríamos uma
língua em que nos expressássemos, nem o sentido da autoconsciência, e a nossa
capacidade de pensar ou raciocinar seria severamente limitada [...].
O principal tema deste capítulo e do
próximo é, de fato, o da relação entre a herança biológica e a herança cultural
da humanidade. As questões relevantes são: o que distingue os seres humanos dos
animais? De onde provêm as nossas características distintivamente “humanas”?
Qual a natureza da natureza humana? Estas questões são cruciais para a
Sociologia, porque são as bases de todo o seu campo de estudo. Para lhes
responder, devemos analisar tanto o que os humanos têm em comum como as
diferenças entre as diversas culturas.
As variações culturais entre seres
humanos estão ligadas a diferentes tipos de sociedade [...]
Cultura
erudita
Erudito = instrução vasta adquirida pelo estudo. Advêm
da elite social, econômica e política. Seu conhecimento é proveniente do
pensamento científico, dos livros e das pesquisas universitárias.
Cultura erudita é a produção
acadêmica centrada no sistema educacional, sobretudo na universidade. Trata-se de
uma cultura produzida por
uma minoria de intelectuais das mais diversas especialidades, e geralmente
saídos dos segmentos superiores da classe média e da classe alta. A cultura
erudita está ligada à elite, ou seja, está subordinada ao capital pelo fato de
este fator viabilizar este tipo de cultura. Esta exige estudo, pesquisa para se
obter o conhecimento, portanto não é viável a uma maioria, e sim a uma determinada
classe social que, por sua vez, possui condições para investir e obter esses conhecimentos.
É uma cultura em que a sociedade valoriza como superior ou dominante.
Cultura
Popular
A cultura popular não está ligada ao conhecimento
científico. Diz respeito ao conhecimento espontâneo e ao senso comum. A cultura
popular também pode ser objeto de estudo das pesquisas universitárias.
Uma opinião amplamente sustentada é a de que a cultura
popular tende a ser superficial. Os itens culturais que requerem grande
experiência, treino ou reflexão para serem apreciados, dificilmente se tornam
itens da cultura popular. Cultura Popular ou Cultura Pop é a cultura vernacular
(passada de geração para geração), isto é, do povo, que existe numa sociedade
moderna. O conteúdo da cultura popular é determinado em grande parte pelas
indústrias que disseminam o material cultural, como por exemplo, as indústrias
do cinema, televisão e editorais, bem como os meios de comunicação de massa. No
entanto, a cultura popular não pode ser descrita como o produto conjunto dessas
indústrias.
Arte popular: um tipo de linguagem por meio da qual o
homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Na arte popular, o artista
é o homem do povo, do meio rural ou das periferias das grandes cidades. Arte
popular do século XVIII é diferente da arte popular hoje, como o rap, o hip
hop, etc. A Cultura popular incorpora sempre novos elementos sociais, no
entanto, ela é também conservadora da identidade de uma representação social ou
grupo social. Ex.: o carnaval era uma festa popular, mas com os meios de
comunicação de massa se tornou um espetáculo para turistas. O artista popular
tira sua “inspiração” de acontecimentos locais rotineiros e regionais.
Nunca podemos dizer que a cultura erudita possui
qualidade e a cultura popular não! Elas podem ter a mesma sofisticação. No
entanto, elas não possuem o mesmo status
social. A cultura erudita é transmitida pelas escolas e outras instituições
formais. A cultura popular não, como, por exemplo, a literatura de Cordel
normalmente não é usada nas instituições escolares como forma de expressão
cultural e objeto de desenvolvimento pedagógico. Existem estudos e pesquisa que comprovam a
idéia de que a literatura de Cordel poderia ser usada como mecanismo de
alfabetização infantil.
Os intelectuais discutem a cultura erudita e a
popular, mas o artista da cultura popular não! Quem define o que é erudito e o
que é popular é a elite intelectual.
CULTURA
E IDENTIDADE
Identidade
é conceito-chave na construção de políticas culturais. Além de dar sentido a um
território cultural, reúne dentro de si elementos simbólicos compartilhados
entre um grupo de tal modo a garantir a sua soberania como nação.
Segundo
Teixeira Coelho (1997), “tratava-se de encontrar os traços dessa identidade e
de preservá-los estimulando sua reprodução por intermédio de programas de ação
cultural e de políticas de comunicação de massa de que resultaram as redes
nacionais de televisão”.
A
identidade cultural de um povo é geralmente reconhecida por seus elementos
unificadores, como território, língua e religião. Tratar do assunto sob o ponto
de vista das políticas públicas de cultura torna-se cada vez mais complexo e
espinhoso. Geralmente atrelado ao nacionalismo e utilizado como política de
Estados concentradores, o conceito passou a ser visto com certa ressalva por
formuladores e pesquisadores contemporâneos.
A
construção do sentido de nação significa, para Zygmunt Bauman, a negação de
diversificação étnica e cultural. Os processos civilizadores presididos e
monitorados pelo poder do Estado apagam os resquícios de traços culturais do
passado. A nacionalidade desempenha um papel de legitimação na unificação
política do Estado, “e a invocação das raízes comuns e de um caráter comum
deveria ser importante instrumento de mobilização ideológica – a produção de
lealdade e obediência patrióticas”.
A
cultura, cada vez mais homogeneizada, resulta de um certo hibridismo cultural
da sociedade global, capaz de agir com a mesma intensidade e força de comando
em sociedades tão distintas quanto o Brasil e o Iraque, por exemplo. Nesse
ambiente global, a questão da identidade assume outras características.
Para
Bauman, o aumento da rede de dependências adquire com rapidez um âmbito
mundial, gerando desenvolvimento desigual da economia, da política e da
cultura. “O poder, enquanto incorporado na circulação mundial do capital e da
informação, torna-se extraterritorial, enquanto as instituições políticas
existentes permanecem, como antes, locais. Isso leva inevitavelmente ao
enfraquecimento do Estado-nação”. Como consequência disso, “os governos dos
Estados têm de abrir mão do controle dos processos econômicos e culturais, e
entregá-los às ‘forças do mercado’”.
No
plano individual, identidade é condição de cidadania, de conquista de direitos
e ciência de deveres. E se a sociedade lhe garante acesso aos conteúdos
diversos e liberdade de expressão, isso pode significar a construção da própria
subjetividade, por meio do reconhecimento e valorização dos fatores
constitutivos da sua herança cultural, assim como a possibilidade de identificação
com outras culturas e modos de vida ao seu redor.
Por
outro lado, a globalização deveria potencializar o processo de construção e
consolidação de uma identidade própria, legitimada por escolhas e vínculos de
herança. Isso se for garantido ao cidadão o acesso irrestrito e não mediado por
mecanismos de domínio e controle, a conteúdos de todas as culturas. Em diálogo
e contraposição
com os seus próprios referenciais, o indivíduo exerce de maneira mais clara e rica a construção e o exercício da sua subjetividade.
com os seus próprios referenciais, o indivíduo exerce de maneira mais clara e rica a construção e o exercício da sua subjetividade.
A
identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios
simbólicos historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de
determinados valores entre os membros de uma sociedade. Sendo um conceito de
trânsito intenso e tamanha complexidade, podemos compreender a constituição de uma identidade em
manifestações que podem envolver um amplo número de situações que vão desde a
fala até a participação em certos eventos.
Durante muito tempo, a idéia de uma identidade cultural não era
devidamente problematizada no campo das ciências humanas. Com o desenvolvimento das sociedades modernas,
muitos teóricos tiveram grande preocupação em apontar o enorme “perigo” que o
avanço das transformações tecnológicas, econômicas e políticas poderiam
oferecer a determinados grupos sociais. Nesse âmbito, principalmente os
folcloristas, defendiam a preservação de certas práticas e tradições.
Por outro lado, algumas recentes
teorias culturais desenvolvidas no campo das Ciências Humanas desempenharam o
papel inovador de questionar o próprio conceito de identidade cultural. De
acordo com essa nova corrente, muito em voga com o desenvolvimento da
globalização, a identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto
de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade a qual
ele faz parte.
Um dos mais conhecidos
exemplos dessa nova tendência que pensa a questão das identidades pode ser
encontrada na obra do pesquisador Nestor Garcia Canclini. Em vários de seus
escritos, este pensador tem a recorrente preocupação de analisar diversas
situações onde mostra que a cultura e as identidades não podem ser pensadas
como um patrimônio a ser preservado. Longe disso, ele assinala que o
intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a formulação e a
construção das identidades.
Com esses referenciais,
antigos problemas que organizavam os estudos culturais perdem a sua força para
uma visão de natureza mais ampla e flexível. A antiga dicotomia que propunha a
cisão entre “cultura popular” e “cultura erudita”, por exemplo, deixa de
legitimar a ordenação das identidades por meio de pressupostos que atestavam a
presença de esferas culturais intocáveis em uma mesma sociedade. Além disso,
outras investigações cumpriram o papel de questionar profundamente o clássico
conceito de aculturação.
Partindo dessas novas noções
de identidade, antigos temas relacionados à cultura que aparentavam completo
esgotamento ganharam um novo fôlego interpretativo. As identidades passaram a
ser trabalhadas com definições menos rígidas. Diversos estudos vão contra a
idéia de que uma população deve abraçar a sua cultura e garantir todas as
formas possíveis de cristalizá-la. Dessa forma, presenciamos a abertura de
novas possibilidades de entender o comportamento do homem com seu mundo.
Identidade
cultural é o sentimento de identidade de um grupo ou cultura, ou de um
indivíduo,
na medida em que ele é influenciado pela sua pertença a um grupo ou cultura
e/ou seus mecanismos de afiliação/ exclusão do mesmo.
Identidade
é a igualdade completa. Cultural é um adjetivo de saber. Logo, a junção das
duas palavras produz o sentido de saber se reconhecer. Muitas questões
contemporâneas sobre cultura se relacionam com questões sobre identidade. A
discussão sobre a identidade cultural acaba influenciada por questões sobre:
lugar, gênero, raça,
história, nacionalidade, orientação sexual, crença religiosa e etnia.
Na
percepção individual ou coletiva da identidade,
a cultura exerce um papel principal para delimitar as diversas personalidades,
os padrões de conduta e ainda
as características próprias de cada grupo humano. A influência do meio
constantemente modifica um ser já que nosso mundo é repleto de inovações e
características temporárias, os chamados "modismos". No
passado as identidades eram mais conservadas devido à falta de contato entre
culturas diferentes; porém, com a globalização,
isso mudou fazendo com que as pessoas interagissem mais, entre si e com o mundo
ao seu redor. Uma pessoa que nasce em um lugar absorve todas as características
deste, entretanto, se ela for submetida a uma cultura diferente por muito
tempo, ela adquirirá características do novo local onde está
agregada.
Para
o teórico Milton Santos, o conhecimento e o saber se renovam do
choque de culturas, sendo a produção de novos conhecimentos e técnicas, produto
direto da interposição de culturas diferenciadas - com o somatório daquilo que
anteriormente existia. Para ele, a globalização
que se verificava já em fins do século XX
tenderia a uniformizar os grupos culturais, e logicamente uma das conseqüências
seria o fim da produção cultural, enquanto gerador de novas técnicas e sua
geração original. Isto refletiria, ainda, na perda de identidade, primeiro das
coletividades, podendo ir até ao plano individual.
Segundo
Stuart Hall (1999) uma identidade cultural enfatiza aspectos relacionados a
nossa pertença a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas, regionais
e/ou nacionais. Ao analisar a questão, este autor focaliza particularmente as
identidades culturais referenciadas às culturas nacionais. Para ele, a nação é
além de uma entidade política – o Estado –, ela é um sistema de
representação cultural. Noutros termos, a nação é composta de
representações e símbolos que fundamentam a constituição de uma dada identidade
nacional. Segundo Hall (1999), as culturas nacionais produzem sentidos com os
quais podemos nos identificar e constroem, assim, suas identidades.
Esses sentidos estão contidos em estórias, memórias e imagens que servem de
referências, de nexos para a constituição de uma identidade da nação.
Entretanto, segundo Hall (1999), vivemos atualmente numa “crise de identidade”
que é decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas nas sociedades
modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das estruturas e
processos centrais dessas sociedades, abalando os antigos quadros de referência
que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social. A
modernidade propicia a fragmentação da identidade. Conforme ele, as paisagens
culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade não mais
fornecem “sólidas localizações” para os indivíduos. O que existe agora é
descentramento, deslocamentos e ausência de referentes fixos ou sólidos para as
identidades, inclusive as que se baseiam numa idéia de nação.
Diversidade
cultural, etnocentrismo, relativismo e alteridade
.
É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos
cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada. Os
Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas
culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as condenam (pena de
morte na Arábia Saudita). Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática
normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal.
Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correto; a maior
parte das sociedades condenam esse ato. O infanticídio é moralmente repelente
para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países
a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do
deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro
qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.
Centenas de páginas seriam insuficientes para
documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade de
normas e práticas culturais que existem atualmente e também as que existiram.
Até há bem pouco tempo muitas culturas e sociedades
viviam praticamente fechadas sobre si mesmas, desconhecendo-se mutuamente e
desenvolvendo bizarras crenças acerca das outras.
Os europeus que viajaram para as Américas no século
XVI acreditavam que iam encontrar gigantes, amazonas e pigmeus, a Fonte da
Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca envelheciam e homens que viviam
centenas de anos. Os índios americanos foram inicialmente olhados como
criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os
seres humanos. Paracelso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente
norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas.
Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma
nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta, na
Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não
homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar
nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude.
Durante o século XIX os missionários cristãos em
África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus
padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o
trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida
dos “pagãos”. Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o
sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações
culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião,
mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos
casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e
orfandade entre as crianças.
Se bem que o complexo de superioridade cultural não
fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do século XVIII consideraram
desinteressantes e bárbaros os seus visitantes ingleses), o domínio
tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das
Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e
realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades
diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores,
bárbaros e selvagens.
O etnocentrismo
é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às
normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na
tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos
nossos próprios padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o
nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da
sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como
valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua
"superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e
culturas. Adaptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos
tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da
espécie humana.
Quais os perigos da atitude etnocêntrica? A negação da
diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse preferível ao arco-íris)
e, sobretudo os crimes, massacres e extermínios que a conjugação dessa atitude
ilegítima com ambições econômicas provocou ao longo da História.
Depois da Segunda Guerra Mundial e do extermínio de
milhões de indivíduos pertencentes a povos que pretensos representantes de
valores culturais superiores definiram como subumanos, a antropologia cultural
promoveu a abertura das mentalidades, a compreensão e o respeito pelas normas
(valores das outras culturas Mensagens fundamentais: a) Em todas as culturas
encontramos valores positivos e valores negativos; b) Se certas normas e
práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na
totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis; c) O conhecimento metódico
e descomplexado de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que
há de arbitrário em alguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por
exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados,
questionar determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração
das relações sociais, com a natureza, etc.
A defesa legítima da diversidade cultural conduziu,
contudo, muitos antropólogos atuais a exagerarem a diversidade das culturas e
das sociedades: não existiriam valores universais ou normas de comportamentos
válidos independentemente do tempo e do espaço. As valorações são relativas a
um determinado contexto cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa
sociedade, não existindo escala de valores universalmente aceite, seria
avaliá-los em função dos valores que vigoram na nossa cultura.
Cairíamos
de novo, segundo a maioria dos antropólogos, nessa atitude dogmática que é o
etnocentrismo.
O etnocentrismo
é a tendência a considerar um grupo étnico como superior a outros. É uma
atitude de avaliar qualquer outro grupo social com base nos valores próprios do
seu grupo. O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais
próprios, como “certo” ou “errado”, “normal” ou “anormal”, os comportamentos e
as formas de ver o mundo de outros povos, desmerecendo suas práticas. O
etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipos, que consiste na
generalização e atribuição de valor (geralmente negativo) a algumas
características de um grupo, reduzindo-o a essas características e definindo os
“lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de julgamentos
subjetivos, feitos em relação a um determinado grupo, impondo-lhe o lugar de
inferior, no caso de estereótipos negativos.
A reação diante
da alteridade[1]
faz parte da natureza das sociedades, de acordo com Frei Beto alteridade “é ser
capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e,
sobretudo, da sua diferença”. Quanto menos alteridade existe nas relações
pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. Em todas as épocas, sociedades
particulares reagiram de forma específica diante do contato com uma cultura
diversa à sua, inclusive ocorrendo o que o antropólogo Roberto Cardoso de
Oliveira chamou de “fricção interétnica”.
As culturas
costumam definir o que as pessoas devem usar, se tratar etc., a nossa cultura,
a ocidental, negou-se a ver nas pinturas corporais, nos adornos e adereços dos
grupos indígenas sul-americanos os correspondentes às roupas impostas por ela,
e criou-se assim a idéia de que o “índio/a” andaria pelado/a avaliando esse
comportamento como incivilizado. Acreditando na superioridade de sua cultura,
os europeus intervieram na formas tradicionais de vida existentes nos outros
continentes, procurando tranformá-las.
Costumamos “ver” o mundo através de nossa cultura,
utilizando-a como parâmetro para julgarmos outras culturas, acreditando que a
nossa visão, nosso modo de vida, a nossa cultura são corretos, normais.
Tal tendência, denominada etnocentrismo é responsável
em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. O
etnocentrismo de fato é um conceito universal. É comum a crença de que a
própria sociedade é o centro da humanidade ou mesmo a sua única expressão. O
ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo.
O costume de discriminar os que são diferentes porque
pertencem a outro grupo pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade. Os
estereótipos são exemplo disso, pois são também uma forma de “biologizar” as
características de um grupo, considerando-as como resultado exclusivo da
biologia, da anatomia, o processo de naturalização ou biologização das
diferenças etnicorraciais, de gênero ou de orientação sexual que marcou os
séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição da cidadania a negros, mulheres e
homossexuais.
Comportamentos etnocêntricos resultam também em
apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. A nossa
herança cultural nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao
comportamento daqueles que agem fora dos padrões. Por isso discriminamos o
comportamento desviante.
O relativismo
cultural sugere conformar e não confrontar as diferenças culturais, tanto
em nossa sociedade quanto em outra cultura particular. Este conceito pode ser
considerado precipitado, se levarmos em conta o fato de que tudo pode ser
aceito, ameaçando imposições dos limites sociais.
O
relativismo é uma doutrina que
prega que algo é relativo, contrário de uma idéia absoluta,
categórica. Atitude ou doutrina que afirma que as verdades (morais, religiosas,
políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social
e os indivíduos de cada lugar. O relativismo é a "Postura segundo qual
toda avaliação é relativa a algum padrão, seja qual for, e os padrões derivam
de culturas." O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos
tipos de análise, mesmo sendo análises aparentemente contraditórias. As
diversas culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as
avaliações são geradas. Max Weber, em suas obras sobre epistemologia[2],
abre espaço para o relativismo nas ciências da cultura quando diz que a ciência
é verdade para todos que querem a verdade, ou seja, por mais diferentes que
sejam as análises geradas por pontos de vista culturais diferentes, elas sempre
serão cientificamente verdadeiras, enquanto não refutadas.
O
relativismo é um ponto de vista extremo oposto ao etnocentrismo,
que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais.
Porém, os críticos dessa visão apontam que o relativismo torna impossível um
avanço científico nas ciências da cultura na medida em que coloca todos os
tipos de análise, absurdas ou não, em igualdade de veracidade. Assim podemos
concluir que o Relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade
do conhecimento
e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. “Todo ponto de vista é válido”.
Curiosidades
sobre diferenças culturais
- No
Líbano, os homens podem legalmente ter relações sexuais com animais, mas tem
que ser fêmeas. Relações sexuais com machos são punidas com a morte.
- Em
Bahrain, um médico pode legalmente examinar a genitália feminina, mas ele é
proibido de olhar diretamente para ela durante o exame. Ele pode apenas olhar
através de um espelho.
- Os
muçulmanos não podem olhar os genitais de um cadáver. Isto também se aplica aos
funcionários da funerária. Os órgãos sexuais do defunto devem estar sempre
cobertos por um tijolo ou por um pedaço de madeira.
- A
penalidade para a masturbação na Indonésia é a decapitação.
- Há
homens em Guam cujo emprego em tempo integral é viajar pelo país e deflorar virgens,
que os pagam pelo privilégio de ter sexo pela primeira vez. Razão: pelas leis
de Guam, é proibido virgens se casarem.
- Em
Hong Kong, uma mulher traída pode legalmente matar seu marido adúltero, mas
deve fazê-lo apenas com suas mãos. Em contrapartida, a amante do marido pode
ser morta de qualquer outra maneira.
- A lei
autoriza vendedoras a ficarem de topless em Liverpool, Inglaterra, mas somente
em lojas de peixes tropicais.
- Em
Cali, na Colômbia, uma mulher só pode ter relações com seu marido e, na
primeira vez que isso ocorre, sua mãe deve estar no quarto para testemunhar o
ato.
- Em
Santa Cruz, na Bolívia, é ilegal um homem ter relações com uma mulher e a filha
dela ao mesmo tempo.
- Em
Maryland, preservativos podem ser vendidos em máquinas somente "em lugares
onde são vendidas bebidas alcoólicas para consumo no local".
[1] Alteridade é a concepção que parte do pressuposto básico de que
todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como
muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu -
individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o
Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).
Dessa forma eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro,
o que me permite também compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado,
partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo, sensibilizado que estou pela
experiência do contato.
A “noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida
social, à medida que esta efetiva-se através das dinâmicas das relações
sociais. Assim sendo, a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e
fonte permanente de tensão e conflito” (G. Velho, 1996:10)
[2] Epistemologia ou teoria do
conhecimento é a crítica, estudo ou tratado do conhecimento da ciência, ou
ainda, o estudo filosófico da origem, natureza e limites do conhecimento.
Pode-se remeter a origem da "epistemologia" a Platão ao tratar o
conhecimento como "crença verdadeira e justificada". O desafio da
"epistemologia" é responder "o que é" e "como"
alcançamos o conhecimento?. Diante dessas questões da epistemologia surgem duas
posições:
Empirista: que diz que o conhecimento deve ser
baseado na experiência, ou seja, no que for apreendido pelos sentidos. Como
defensores desta posição temos Locke, Berkeley e Hume; e
Racionalista: que prega que as fontes do
conhecimento se encontram na razão, e não na experiência. Como defensores desta
posição temos Leibniz e Descartes.
A expressão "epistemologia" deriva
das palavras gregas "episteme", que significa "ciência", e
"Logia" que significa "estudo", podendo ser definida em sua
etimologia como "o estudo da ciência".
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