Helio Ventura

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Helio Ventura, Cientista Social e Músico

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

“Maldição Africana” ou as muitas faces do racismo


“Maldição Africana” ou as muitas faces do racismoPor Marcio André dos Santos



Possivelmente estamos presenciando um dos piores momentos da história do Haiti. As conseqüências do terremoto sobre o país são, no mínimo, de dimensões bíblicas. A precária infraestrutura existente e os diversos esforços feitos por haitianos e a comunidade internacional ruíram junto com as edificações. Anos e anos de trabalho duro juntaram-se aos pós dos escombros.

Os mortos estão empilhados nas ruas, espalhando o cheiro da morte e da angústia por toda parte. Covas coletivas foram feitas nas proximidades da capital e a população sobrevivente perambula completamente faminta e atônita. Gangues de desesperados se reorganizam a fim de pilhar qualquer coisa que apareça. O cenário não poderia ser mais caótico. É o horror em sua face mais crua.

Em meio a tanta desgraça eis que jornalistas flagram o cônsul do Haiti no Brasil, um homem branco, dizendo em off que a tragédia que está ocorrendo com o povo haitiano é “boa para o país”. Boa? Será que ouvi bem? E mais: de que tal desgraça deve ser resultado de “macumbas” feitas pelos próprios haitianos. E, como se absurdo não bastasse, afirma que os africanos – todos eles, todos nós – carregam uma “maldição” dentro de si. Na visão do cônsul branco do Haiti nós, homens e mulheres negros, somos o Mal.

A declaração do cônsul tem um nível de gravidade elevadíssimo, absurdo. O racismo subjacente em sua declaração remonta a todo um imaginário propagado por séculos nas culturas ocidentais sobre os africanos e os povos não-brancos de todo o mundo.

A “maldição de Cam” é o mito mais difundido no mundo ocidental contra os africanos, seus valores culturais, simbólicos, civilizacionais. Na Antiguidade era partilhado tanto por europeus quanto por árabes, os primeiros a se beneficiarem com o tráfico de escravos para a região do atual Oriente Médio. Cam teria visto o pai deitado nu, Noé, que lançou sobre ele a maldição de que seus filhos seriam escravos dos seus irmãos e seriam “escuros como a noite”. Dessa maneira tem-se um dos argumentos teológicos da escravização dos africanos ao longo dos tempos e que no Brasil foi amplamente usada pela Igreja Católica a fim de justificar a opressão anti-negro.

A declaração do cônsul George Samuel Antoine reedita este imaginário, absolutamente racista, tosco, imprudente sobre a catástrofe que acomete milhares de haitianos e que, neste exato momento, ainda lutam pela sobrevivência, seja debaixo dos escombros ou implorando comida e água nas ruas.

O Haiti é um país majoritariamente católico. No entanto, as tradições religiosas ancestrais dos africanos desempenham um país importante no imaginário de todos. O Vodum, como o candomblé no Brasil, foi e tem sido um elemento fundamental no sistema de crenças desse povo. Afirmar isso não é o mesmo de avaliar se esta ou aquela prática religiosa é boa ou ruim. Pelo contrário, toda prática religiosa deve ser vista em uma perspectiva que a valorize antropologicamente, ou seja, em sua relevância simbólica e material para os crentes.

Portanto, junto com o racismo explícito na declaração do cônsul, tem-se também um profundo sentimento de intolerância religiosa que não devia se coadunar com nenhuma autoridade.

De maneira irônica ou totalmente criminosa este senhor deixa transparecer o pior do ranço colonialista desumano que alguém nesta posição é capaz. Esse cônsul não representa mais nada. Não é ninguém. É um impostor. O povo do Haiti merece dignidade e respeito, ainda que sob os efeitos dos ditames da natureza.

Sobre reunião com Dr. Leopoldo sobre casos de racismo na UERJ




Prezad@s Malung@s:

Ontem nos reunimos na UERJ para falarmos sobre os seguidos casos de racismo e violência ocorridos nos últimos tempos, conforme solicitação do Dr. Mário Leopoldo. Estiveram presentes:
  1. Dr. Mário Leopoldo
  2. Dr. Cid Costa Pereira
  3. Dr. Euclides Lopes
  4. Helio Ventura
  5. Clarissa (DeNegrir)
  6. André Severino
  7. Bruna Fonseca
  8. Fábio (DeNegrir)
Passaram por lá, mas não ficaram para a reunião, Cyro e Hugo (DeNegrir), e uma integrante do Coletivo Aqualtune. Uma integrante do DeNegrir que sofreu uma das violências discutidas na reunião chegou ao final, assim como Bruno e André Guimarães. Infelizmente, não houve nenhum representante do Coletivo Sankofa.

Nos reunimos na Sala Abdias Nascimento, sede do Coletivo DeNegrir. Além do caso das últimas pichações racistas e neonazistas, ainda foram lembrados outros casos de violência:
  • uma estudante negra de Serviço Social foi agredida por aluno branco do IME UERJ, que a xingou de chimpanzé;
  • 3 alunos brancos de Filosofia chutaram a porta da sede do Coletivo DeNegrir, gritando as palavras: "COTISTAS DE MERDA! PODER ARIANO, PODER BRANCO, SOMOS BRANCOS POR ISSO SOMOS SUPERIORES E DOMINAMOS TUDO";
  • uma estudante membro do Coletivo DeNegrir foi abordada de forma truculenta e desrespeitosa ao passar de táxi por uma blitz policial;
  • foi lembrado o episódio de agressão gratuita que o estudante e membro do DeNegrir Paulo sofreu anos atrás, sendo espancado por agentes de segurança da UERJ ao discutir com sua namorada no hall dos elevadores;
  • desde 2003, com o advento das cotas, não é raro encontrar pichações racistas nos banheiros da UERJ, uma delas no banheiro feminino dizia: "MULHERES NEGRAS SÓ PODEM TER 3 FILHOS POR QUE O 4º É FORMAÇÃO DE QUADRILHA”;
  • isso tudo sem falar nas manifestações preconceituosas de parte tanto de professores quanto de alunos não cotistas.
Dr. Leopoldo ouviu a tudo e, de forma a orientar as possíveis ações a serem realizadas, falou dos caminhos jurídicos, administrativos e de mobilização. São tantos os caminhos que teremos de fazer outra reunião em breve, ainda sem data, antes de fazermos um ato público. A idéia é juntar provas de todos os fatos ocorridos e desmentir a posição da universidade sobre as últimas pichações, a de que isso foi um "caso isolado". Dr. Leopoldo também está disposto a orientar os procedimentos nos casos de agressão que geraram B.O. (Boletim de Ocorrência).

Enfim, há muito trabalho a ser feito, e um canal de comunicação e informação foi aberto com esta primeira reunião, onde foram pontuadas as linhas gerais de atuação, sendo agora necessário amarrar mais as idéias expostas para delinearmos o passo a passo das ações. Estará sendo marcada outra reunião em breve, e assim que eu souber informo.
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Afroabraços,

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Caderno Megazine, Jornal O Globo, Coluna "Eu Repórter", de 26/01/2010.