Helio Ventura

Helio Ventura
Helio Ventura, Cientista Social e Músico

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Apostila 1º Ano 3º B CIEP 201


Sociologia – 1º ano do ensino médio

Professor: Helio Ventura

A PALAVRA CULTURA


Cultura provém do latim medieval significando cultivo da terra.
Do verbo latino original COLO que é igual a cultivar, que juntando a cultum, forma a palavra CULTURA, que volto a dizer, no início era relativo ao cultivo da terra.
Sua transformação começa a partir da sabedoria acumulada no trato do ambiente natural e a experiência secular de pastores e agricultores acabaram conferindo ao termo cultura, o sentido de conhecimento intelectual, aplicado à ação transformadora do mundo. Por outro lado, podemos dizer que é a convicção do saber acumulado pela existência do trabalho que produz uma libertação de condicionamento.
ANTROPOLOGICAMENTE sabemos que “a cultura é o conjunto de experiências humanas adquiridas pelo contato social e acumuladas pelos povos através do tempo.

 

CONCEITOS


Os conceitos que iremos listar nos levarão, quem sabe, por caminhos diferentes, porém alcançando um fim comum. Assim vejamos:
Italo Calvino diz “quem somos nós? Quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras e imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras”.
Analisando o que disse Calvino, refletimos que na realidade brasileira atual, podemos sim, ser uma biblioteca, mas uma biblioteca de livros editados e na melhor das hipóteses, editados por um único canal de televisão, ou por algumas vozes poderosas de um mesmo rádio, situado num sistema de comunicação a serviço de uma elite dominante.
Um outro conceito nos diz que a cultura é uma expressão simbólica das linguagens, da imensa diversidade que caracteriza o processo e os modos como os povos definem as suas identidades, num contexto, como o nosso, complexo, contraditório, difícil, rico, espelhado pela riqueza do saber popular, afirmamos então, que a cultura é um elemento fundamental de resgate dos valores sem os quais a experiência humana torna-se uma experiência empobrecida e amarga, por isso essa cultura deve ser solidaria, fraterna, igualitária, liberta, justa e que se contraponha à avalanche imposta pelo projeto neoliberal, que como diz o ex-prefeito petista de Belo Horizonte, Patrus Ananias “reduz o sonho humano a uma conta bancária, uma casinha de praia”.
A cultura vista desta forma, solidária, fraterna, liberta e justa, é um instrumento de luta permanente da memória, contra o esquecimento, é abrangente, criadora e mantenedora de valores, significados, símbolos, normas, mitos, imagens, etc... presentes nas práticas cotidianas, nas instituições, movimentos, pensamentos, na arte. É uma cultura que penetra nos coletivos humanos e nos indivíduos, dos conceitos de trabalhos as emoções. Com esse sentido ela é o modo de viver, ser, fazer, pensar, sentir, simbolizar e imaginar das sociedades humanas.
Constatamos, porém, que com essa diversidade ela é plural e com isso trás diferenças nos significados culturais, mas também cria certas condições que leva uma sociedade inteira a participar dessa mesma criação coletiva, quer seja através da cultura popular, da erudita, da cultura de massa ou da cultura revolucionária para a libertação, expressa através dos ritos religiosos (grandes procissões), espetáculos artísticos, movimentação política ou outros.
Porém cultura não significa tão somente esses momentos ou somente o espetáculo. Como diz Marilena Chauí “Cultura não é simplesmente a arte ou o evento”, não é área ou departamento, não é definida pela economia de mercado, é na verdade e, sobretudo, “criação individual e coletiva das obras de arte, do pensamento, dos valores, dos comportamentos e do imaginário.
Expresso isso, não podemos nos limitar a pensar a cultura apenas como manifestação cultural, temos que a pensar como parte da trajetória da raça humana, como a marca deixada do homem e da mulher na história do mundo, pois o ato que gera a cultura é a criação, a invenção, a transformação e trabalhar com a cultura é trabalhar com a revolução do próprio corpo, pensamento, no tempo e no espaço, a todo instante, trabalhando o momento de critica e de construção, de continuidade e percepção, porque a cultura faz com que você se olhe no espelho e se reconheça como o próximo, como o outro, como o diferente, como o igual, como o negro e o branco, trabalhando nas múltiplas possibilidades.
A cultura ao ser definida se refere à literatura, cinema, arte entre outras, porém seu sentido é bem mais abrangente, pois cultura pode ser considerada como tudo que o homem através da sua racionalidade, mais precisamente a inteligência, consegue executar, dessa forma todos os povos e sociedades possuem sua cultura por mais tradicional e arcaica que seja, pois todos os conhecimentos adquiridos são passados das gerações passadas para as futuras.
Os elementos culturais são artes, ciências, costumes, sistemas, leis, religião, crenças, esportes, mitos, valores morais e éticos, comportamento, preferências, invenções e todas as maneiras de ser (sentir, pensar e agir).
A cultura é uma das principais características humanas, pois somente o homem tem a capacidade de desenvolver culturas, distinguindo-se dessa forma de outros seres como os vegetais e animais.
Apesar das evoluções pelas quais passa o mundo, a cultura tem a capacidade de se permanecer quase intacta, e são passadas aos descendentes como uma memória coletiva, lembrando que a cultura é um elemento social, impossível de se desenvolver individualmente.

O conceito sociológico de cultura

O conceito de cultura, tal como o de sociedade, é uma das noções mais amplamente usadas em Sociologia. A cultura consiste nos valores de um dado grupo de pessoas, nas normas que seguem e nos bens materiais que criam. Os valores são ideias abstratas, enquanto as normas são princípios definidos ou regras que se espera que o povo cumpra. As normas representam o “permitido” e o “proibido” da vida social. Assim, a monogamia – ser fiel a um único parceiro matrimonial – é um valor proeminente na maioria das sociedades ocidentais. Em muitas outras culturas, uma pessoa é autorizada a ter várias esposas ou esposos simultaneamente. As normas de comportamento no casamento incluem, por exemplo, como se espera que os esposos se comportem com os seus parentes por afinidade. Em algumas sociedades, o marido ou a mulher devem estabelecer uma relação próxima com os seus parentes por afinidade; noutras, espera-se que se mantenham nítidas distâncias entre eles.
Quando usamos o termo, na conversa quotidiana comum, pensamos muitas vezes na “cultura” como equivalente às “coisas mais elevadas do espírito” – arte, literatura, música e pintura. Os sociólogos incluem no conceito estas atividades, mas também muito mais. A cultura refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos dessa sociedade. Inclui a forma como se vestem, os costumes de casamento e de vida familiar, as formas de trabalho, as cerimônias religiosas e as ocupações dos tempos livres. Abrange também os bens que criam e que se tornam portadores de sentido para eles – arcos e flechas, arados, fábricas e máquinas, computadores, livros, habitações.
A “cultura” pode ser distinguida conceitualmente da “sociedade”, mas há conexões muito estreitas entre estas noções. Uma sociedade é um sistema de inter-relações que ligam os indivíduos em conjunto. Nenhuma cultura pode existir sem uma sociedade. Mas, igualmente, nenhuma sociedade existe sem cultura. Sem cultura, não seríamos de modo algum “humanos”, no sentido em que normalmente usamos este termo. Não teríamos uma língua em que nos expressássemos, nem o sentido da autoconsciência, e a nossa capacidade de pensar ou raciocinar seria severamente limitada [...].
O principal tema deste capítulo e do próximo é, de fato, o da relação entre a herança biológica e a herança cultural da humanidade. As questões relevantes são: o que distingue os seres humanos dos animais? De onde provêm as nossas características distintivamente “humanas”? Qual a natureza da natureza humana? Estas questões são cruciais para a Sociologia, porque são as bases de todo o seu campo de estudo. Para lhes responder, devemos analisar tanto o que os humanos têm em comum como as diferenças entre as diversas culturas.
As variações culturais entre seres humanos estão ligadas a diferentes tipos de sociedade [...]

Cultura erudita

Erudito = instrução vasta adquirida pelo estudo. Advêm da elite social, econômica e política. Seu conhecimento é proveniente do pensamento científico, dos livros e das pesquisas universitárias.
Cultura erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional, sobretudo na universidade. Trata-se de uma cultura produzida por uma minoria de intelectuais das mais diversas especialidades, e geralmente saídos dos segmentos superiores da classe média e da classe alta. A cultura erudita está ligada à elite, ou seja, está subordinada ao capital pelo fato de este fator viabilizar este tipo de cultura. Esta exige estudo, pesquisa para se obter o conhecimento, portanto não é viável a uma maioria, e sim a uma determinada classe social que, por sua vez, possui condições para investir e obter esses conhecimentos. É uma cultura em que a sociedade valoriza como superior ou dominante.

Cultura Popular

A cultura popular não está ligada ao conhecimento científico. Diz respeito ao conhecimento espontâneo e ao senso comum. A cultura popular também pode ser objeto de estudo das pesquisas universitárias.
Uma opinião amplamente sustentada é a de que a cultura popular tende a ser superficial. Os itens culturais que requerem grande experiência, treino ou reflexão para serem apreciados, dificilmente se tornam itens da cultura popular. Cultura Popular ou Cultura Pop é a cultura vernacular (passada de geração para geração), isto é, do povo, que existe numa sociedade moderna. O conteúdo da cultura popular é determinado em grande parte pelas indústrias que disseminam o material cultural, como por exemplo, as indústrias do cinema, televisão e editorais, bem como os meios de comunicação de massa. No entanto, a cultura popular não pode ser descrita como o produto conjunto dessas indústrias.
Arte popular: um tipo de linguagem por meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Na arte popular, o artista é o homem do povo, do meio rural ou das periferias das grandes cidades. Arte popular do século XVIII é diferente da arte popular hoje, como o rap, o hip hop, etc. A Cultura popular incorpora sempre novos elementos sociais, no entanto, ela é também conservadora da identidade de uma representação social ou grupo social. Ex.: o carnaval era uma festa popular, mas com os meios de comunicação de massa se tornou um espetáculo para turistas. O artista popular tira sua “inspiração” de acontecimentos locais rotineiros e regionais.

Nunca podemos dizer que a cultura erudita possui qualidade e a cultura popular não! Elas podem ter a mesma sofisticação. No entanto, elas não possuem o mesmo status social. A cultura erudita é transmitida pelas escolas e outras instituições formais. A cultura popular não, como, por exemplo, a literatura de Cordel normalmente não é usada nas instituições escolares como forma de expressão cultural e objeto de desenvolvimento pedagógico.  Existem estudos e pesquisa que comprovam a idéia de que a literatura de Cordel poderia ser usada como mecanismo de alfabetização infantil.
Os intelectuais discutem a cultura erudita e a popular, mas o artista da cultura popular não! Quem define o que é erudito e o que é popular é a elite intelectual.
CULTURA E IDENTIDADE
Identidade é conceito-chave na construção de políticas culturais. Além de dar sentido a um território cultural, reúne dentro de si elementos simbólicos compartilhados entre um grupo de tal modo a garantir a sua soberania como nação.
Segundo Teixeira Coelho (1997), “tratava-se de encontrar os traços dessa identidade e de preservá-los estimulando sua reprodução por intermédio de programas de ação cultural e de políticas de comunicação de massa de que resultaram as redes nacionais de televisão”.
A identidade cultural de um povo é geralmente reconhecida por seus elementos unificadores, como território, língua e religião. Tratar do assunto sob o ponto de vista das políticas públicas de cultura torna-se cada vez mais complexo e espinhoso. Geralmente atrelado ao nacionalismo e utilizado como política de Estados concentradores, o conceito passou a ser visto com certa ressalva por formuladores e pesquisadores contemporâneos.
A construção do sentido de nação significa, para Zygmunt Bauman, a negação de diversificação étnica e cultural. Os processos civilizadores presididos e monitorados pelo poder do Estado apagam os resquícios de traços culturais do passado. A nacionalidade desempenha um papel de legitimação na unificação política do Estado, “e a invocação das raízes comuns e de um caráter comum deveria ser importante instrumento de mobilização ideológica – a produção de lealdade e obediência patrióticas”.
A cultura, cada vez mais homogeneizada, resulta de um certo hibridismo cultural da sociedade global, capaz de agir com a mesma intensidade e força de comando em sociedades tão distintas quanto o Brasil e o Iraque, por exemplo. Nesse ambiente global, a questão da identidade assume outras características.
Para Bauman, o aumento da rede de dependências adquire com rapidez um âmbito mundial, gerando desenvolvimento desigual da economia, da política e da cultura. “O poder, enquanto incorporado na circulação mundial do capital e da informação, torna-se extraterritorial, enquanto as instituições políticas existentes permanecem, como antes, locais. Isso leva inevitavelmente ao enfraquecimento do Estado-nação”. Como consequência disso, “os governos dos Estados têm de abrir mão do controle dos processos econômicos e culturais, e entregá-los às ‘forças do mercado’”.
No plano individual, identidade é condição de cidadania, de conquista de direitos e ciência de deveres. E se a sociedade lhe garante acesso aos conteúdos diversos e liberdade de expressão, isso pode significar a construção da própria subjetividade, por meio do reconhecimento e valorização dos fatores constitutivos da sua herança cultural, assim como a possibilidade de identificação com outras culturas e modos de vida ao seu redor.
Por outro lado, a globalização deveria potencializar o processo de construção e consolidação de uma identidade própria, legitimada por escolhas e vínculos de herança. Isso se for garantido ao cidadão o acesso irrestrito e não mediado por mecanismos de domínio e controle, a conteúdos de todas as culturas. Em diálogo e contraposição
com os seus próprios referenciais, o indivíduo exerce de maneira mais clara e rica a construção e o exercício da sua subjetividade.
A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados valores entre os membros de uma sociedade. Sendo um conceito de trânsito intenso e tamanha complexidade, podemos compreender a constituição de uma identidade em manifestações que podem envolver um amplo número de situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos.
Durante muito tempo, a idéia de uma identidade cultural não era devidamente problematizada no campo das ciências humanas. Com o desenvolvimento  das sociedades modernas, muitos teóricos tiveram grande preocupação em apontar o enorme “perigo” que o avanço das transformações tecnológicas, econômicas e políticas poderiam oferecer a determinados grupos sociais. Nesse âmbito, principalmente os folcloristas, defendiam a preservação de certas práticas e tradições.
Por outro lado, algumas recentes teorias culturais desenvolvidas no campo das Ciências Humanas desempenharam o papel inovador de questionar o próprio conceito de identidade cultural. De acordo com essa nova corrente, muito em voga com o desenvolvimento da globalização, a identidade cultural não pode ser vista como sendo um conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade a qual ele faz parte.
Um dos mais conhecidos exemplos dessa nova tendência que pensa a questão das identidades pode ser encontrada na obra do pesquisador Nestor Garcia Canclini. Em vários de seus escritos, este pensador tem a recorrente preocupação de analisar diversas situações onde mostra que a cultura e as identidades não podem ser pensadas como um patrimônio a ser preservado. Longe disso, ele assinala que o intercâmbio e a modificação são caminhos que orientam a formulação e a construção das identidades.
Com esses referenciais, antigos problemas que organizavam os estudos culturais perdem a sua força para uma visão de natureza mais ampla e flexível. A antiga dicotomia que propunha a cisão entre “cultura popular” e “cultura erudita”, por exemplo, deixa de legitimar a ordenação das identidades por meio de pressupostos que atestavam a presença de esferas culturais intocáveis em uma mesma sociedade. Além disso, outras investigações cumpriram o papel de questionar profundamente o clássico conceito de aculturação.
Partindo dessas novas noções de identidade, antigos temas relacionados à cultura que aparentavam completo esgotamento ganharam um novo fôlego interpretativo. As identidades passaram a ser trabalhadas com definições menos rígidas. Diversos estudos vão contra a idéia de que uma população deve abraçar a sua cultura e garantir todas as formas possíveis de cristalizá-la. Dessa forma, presenciamos a abertura de novas possibilidades de entender o comportamento do homem com seu mundo.
Identidade cultural é o sentimento de identidade de um grupo ou cultura, ou de um indivíduo, na medida em que ele é influenciado pela sua pertença a um grupo ou cultura e/ou seus mecanismos de afiliação/ exclusão do mesmo.
Identidade é a igualdade completa. Cultural é um adjetivo de saber. Logo, a junção das duas palavras produz o sentido de saber se reconhecer. Muitas questões contemporâneas sobre cultura se relacionam com questões sobre identidade. A discussão sobre a identidade cultural acaba influenciada por questões sobre: lugar, gênero, raça, história, nacionalidade, orientação sexual, crença religiosa e etnia.
Na percepção individual ou coletiva da identidade, a cultura exerce um papel principal para delimitar as diversas personalidades, os padrões de conduta e ainda as características próprias de cada grupo humano. A influência do meio constantemente modifica um ser já que nosso mundo é repleto de inovações e características temporárias, os chamados "modismos". No passado as identidades eram mais conservadas devido à falta de contato entre culturas diferentes; porém, com a globalização, isso mudou fazendo com que as pessoas interagissem mais, entre si e com o mundo ao seu redor. Uma pessoa que nasce em um lugar absorve todas as características deste, entretanto, se ela for submetida a uma cultura diferente por muito tempo, ela adquirirá características do novo local onde está agregada.
Para o teórico Milton Santos, o conhecimento e o saber se renovam do choque de culturas, sendo a produção de novos conhecimentos e técnicas, produto direto da interposição de culturas diferenciadas - com o somatório daquilo que anteriormente existia. Para ele, a globalização que se verificava já em fins do século XX tenderia a uniformizar os grupos culturais, e logicamente uma das conseqüências seria o fim da produção cultural, enquanto gerador de novas técnicas e sua geração original. Isto refletiria, ainda, na perda de identidade, primeiro das coletividades, podendo ir até ao plano individual.
Segundo Stuart Hall (1999) uma identidade cultural enfatiza aspectos relacionados a nossa pertença a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas, regionais e/ou nacionais. Ao analisar a questão, este autor focaliza particularmente as identidades culturais referenciadas às culturas nacionais. Para ele, a nação é além de uma entidade política – o Estado –, ela é um sistema de representação cultural. Noutros termos, a nação é composta de representações e símbolos que fundamentam a constituição de uma dada identidade nacional. Segundo Hall (1999), as culturas nacionais produzem sentidos com os quais podemos nos identificar e constroem, assim, suas identidades. Esses sentidos estão contidos em estórias, memórias e imagens que servem de referências, de nexos para a constituição de uma identidade da nação. Entretanto, segundo Hall (1999), vivemos atualmente numa “crise de identidade” que é decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas nas sociedades modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das estruturas e processos centrais dessas sociedades, abalando os antigos quadros de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social. A modernidade propicia a fragmentação da identidade. Conforme ele, as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade não mais fornecem “sólidas localizações” para os indivíduos. O que existe agora é descentramento, deslocamentos e ausência de referentes fixos ou sólidos para as identidades, inclusive as que se baseiam numa idéia de nação.

Diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo e alteridade
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É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada. Os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita). Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correto; a maior parte das sociedades condenam esse ato. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.
Centenas de páginas seriam insuficientes para documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade de normas e práticas culturais que existem atualmente e também as que existiram.
Até há bem pouco tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das outras.
Os europeus que viajaram para as Américas no século XVI acreditavam que iam encontrar gigantes, amazonas e pigmeus, a Fonte da Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca envelheciam e homens que viviam centenas de anos. Os índios americanos foram inicialmente olhados como criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os seres humanos. Paracelso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas. Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta, na Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude.
Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos “pagãos”. Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças.
Se bem que o complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus visitantes ingleses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selvagens.
O etnocentrismo é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas. Adaptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana.
Quais os perigos da atitude etnocêntrica? A negação da diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse preferível ao arco-íris) e, sobretudo os crimes, massacres e extermínios que a conjugação dessa atitude ilegítima com ambições econômicas provocou ao longo da História.
Depois da Segunda Guerra Mundial e do extermínio de milhões de indivíduos pertencentes a povos que pretensos representantes de valores culturais superiores definiram como subumanos, a antropologia cultural promoveu a abertura das mentalidades, a compreensão e o respeito pelas normas (valores das outras culturas Mensagens fundamentais: a) Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores negativos; b) Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis; c) O conhecimento metódico e descomplexado de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário em alguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com a natureza, etc.
A defesa legítima da diversidade cultural conduziu, contudo, muitos antropólogos atuais a exagerarem a diversidade das culturas e das sociedades: não existiriam valores universais ou normas de comportamentos válidos independentemente do tempo e do espaço. As valorações são relativas a um determinado contexto cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa sociedade, não existindo escala de valores universalmente aceite, seria avaliá-los em função dos valores que vigoram na nossa cultura.
Cairíamos de novo, segundo a maioria dos antropólogos, nessa atitude dogmática que é o etnocentrismo.
O etnocentrismo é a tendência a considerar um grupo étnico como superior a outros. É uma atitude de avaliar qualquer outro grupo social com base nos valores próprios do seu grupo. O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “normal” ou “anormal”, os comportamentos e as formas de ver o mundo de outros povos, desmerecendo suas práticas. O etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipos, que consiste na generalização e atribuição de valor (geralmente negativo) a algumas características de um grupo, reduzindo-o a essas características e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de julgamentos subjetivos, feitos em relação a um determinado grupo, impondo-lhe o lugar de inferior, no caso de estereótipos negativos.
A reação diante da alteridade[1] faz parte da natureza das sociedades, de acordo com Frei Beto alteridade “é ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença”. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. Em todas as épocas, sociedades particulares reagiram de forma específica diante do contato com uma cultura diversa à sua, inclusive ocorrendo o que o antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira chamou de “fricção interétnica”.
As culturas costumam definir o que as pessoas devem usar, se tratar etc., a nossa cultura, a ocidental, negou-se a ver nas pinturas corporais, nos adornos e adereços dos grupos indígenas sul-americanos os correspondentes às roupas impostas por ela, e criou-se assim a idéia de que o “índio/a” andaria pelado/a avaliando esse comportamento como incivilizado. Acreditando na superioridade de sua cultura, os europeus intervieram na formas tradicionais de vida existentes nos outros continentes, procurando tranformá-las.
Costumamos “ver” o mundo através de nossa cultura, utilizando-a como parâmetro para julgarmos outras culturas, acreditando que a nossa visão, nosso modo de vida, a nossa cultura são corretos, normais.
Tal tendência, denominada etnocentrismo é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. O etnocentrismo de fato é um conceito universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade ou mesmo a sua única expressão. O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo.
O costume de discriminar os que são diferentes porque pertencem a outro grupo pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade. Os estereótipos são exemplo disso, pois são também uma forma de “biologizar” as características de um grupo, considerando-as como resultado exclusivo da biologia, da anatomia, o processo de naturalização ou biologização das diferenças etnicorraciais, de gênero ou de orientação sexual que marcou os séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição da cidadania a negros, mulheres e homossexuais.
Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. A nossa herança cultural nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões. Por isso discriminamos o comportamento desviante.
O relativismo cultural sugere conformar e não confrontar as diferenças culturais, tanto em nossa sociedade quanto em outra cultura particular. Este conceito pode ser considerado precipitado, se levarmos em conta o fato de que tudo pode ser aceito, ameaçando imposições dos limites sociais.
O relativismo é uma doutrina que prega que algo é relativo, contrário de uma idéia absoluta, categórica. Atitude ou doutrina que afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar. O relativismo é a "Postura segundo qual toda avaliação é relativa a algum padrão, seja qual for, e os padrões derivam de culturas." O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos tipos de análise, mesmo sendo análises aparentemente contraditórias. As diversas culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as avaliações são geradas. Max Weber, em suas obras sobre epistemologia[2], abre espaço para o relativismo nas ciências da cultura quando diz que a ciência é verdade para todos que querem a verdade, ou seja, por mais diferentes que sejam as análises geradas por pontos de vista culturais diferentes, elas sempre serão cientificamente verdadeiras, enquanto não refutadas.
O relativismo é um ponto de vista extremo oposto ao etnocentrismo, que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais. Porém, os críticos dessa visão apontam que o relativismo torna impossível um avanço científico nas ciências da cultura na medida em que coloca todos os tipos de análise, absurdas ou não, em igualdade de veracidade. Assim podemos concluir que o Relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. “Todo ponto de vista é válido”.



Pluralidade Cultural

:: Questão para início de conversa
http://www.educarede.org.br/educa/img_conteudo/1512_criancas_carolquintanilha.jpg
Diferenças fazem parte da espécie humana
Foto: Carol Quintanilha
Instituto Sou da Paz
Os seres humanos são muito diferentes. Variam na cor da pele, na altura, na forma dos olhos, no cabelo, no sexo e em muitas outras características físicas. Nós diferimos também em nossas crenças religiosas, nossos valores, nossos modos de estabelecer os laços familiares, no modo como assumimos os papéis de homem e mulher e em tantos outros aspectos da organização da vida em sociedade. Também somos diversos nas características de nosso mundo subjetivo. Dentro de uma sociedade, ainda, o acesso às riquezas materiais e simbólicas resulta em diferentes possibilidades de organizar a vida. Isso sem falar naquelas diferenças que existem entre povos que vivem dentro de uma mesma nação e naquelas que existem entre nações.

Enfim, discutir o tema "pluralidade cultural" significa colocar em destaque uma questão bastante intrigante: por que nós, humanos, embora sejamos uma única espécie biológica, desenvolvemos modos de vida tão diferentes e conflitantes? Ao explorarmos algumas possibilidades de explicação, podemos pensar também nas formas de convívio com as diferenças humanas para o desenvolvimento de nosso modo de viver.

:: As diferenças culturais

Nós não nascemos inteiramente prontos para viver. Ao contrário, precisamos de cuidados, orientação e ensinamentos; ou seja, só nos tornamos de fato humanos na medida em que convivemos e aprendemos com outras pessoas em uma dada cultura. Por meio desse aprendizado na vida social formamos nossa personalidade e elaboramos nossos planos de vida, nossos sentimentos e desejos. Nossa vida só pode acontecer verdadeiramente se participarmos de um mundo cultural, se partilharmos um conjunto de referências sociais.

Todas as culturas humanas criaram modos de viver coletivamente, de organizar sua vida política, de se relacionar com o meio ambiente, de trabalhar, distribuir e trocar as riquezas que produzem. Mais ainda, todos os povos desenvolveram linguagens, manifestações artísticas e religiosas, mitologias, valores morais, vestuários e moradias.

Assim, a pluralidade cultural indica, antes de tudo, um acúmulo de experiências humanas que é patrimônio de todos nós, pois pode enriquecer nossa vida ao nos ensinar diferentes maneiras de existir socialmente e de criar o futuro.

:: Diferenças sociais, econômicas e políticas

Devemos reconhecer que a pluralidade cultural representa o acúmulo das experiências e das conquistas humanas. No entanto, nem todas as diferenças são positivas. Quando elas se transformam em desigualdades precisam ser encaradas criticamente.

Dentro das sociedades e entre povos há relações de desigualdade e dominação em que alguns grupos sociais acumulam bens materiais, saberes, prestígio e poder ao mesmo tempo em que impedem o amplo acesso de outros grupos a essas riquezas.

A rigor, a desigualdade no acesso aos meios para organizar a própria vida compromete a plena existência da pluralidade cultural. Isso porque se alguns grupos em uma sociedade ou algumas culturas se afirmam em detrimento de outras, é sinal de que uma parcela dessa diversidade está sendo reprimida, constrangida ou até mesmo eliminada.

Nos noticiários e no estudo da história podemos ver inúmeros exemplos disso, como a destruição física e cultural de tantos povos indígenas que habitavam a costa brasileira antes da presença portuguesa, a violência que significa a escravidão ou as tantas formas de pobreza que convivem com a riqueza em nossas cidades.

Assim, a autêntica afirmação da pluralidade cultural é inseparável das lutas pela extensão dos direitos humanos a todos e pela construção de relações cidadãs e democráticas. Em nossos dias, a luta contra as desigualdades e pela afirmação de um convívio pacífico entre as culturas e grupos humanos tem se tornado um tema cada vez mais importante. Assim, em novembro de 2001, a Unesco, vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), aprovou a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, que no seu artigo 4º afirma:
"A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito à dignidade humana. Ela implica o compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em particular os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones. Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos garantidos pelo direito internacional, nem para limitar seu alcance."
:: Troca e preconceito
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Todos merecem direitos e oportunidades iguais
Foto: Cristiane Beneton,
Instituto Sou da Paz
A importância de imperativos éticos válidos mundialmente e que assegurem o direito à manifestação da diversidade cultural fica ainda mais clara se levarmos em conta que nenhuma cultura humana se desenvolveu sem estabelecer relações de troca, aproximação e diferenciação com seus vizinhos. Muitas mudanças nos modos de viver de um grupo não ocorreram a partir de alguma necessidade do próprio grupo mas sim da necessidade de imitação ou de diferenciação em relação a outro grupo. Entretanto, além de proporcionar o intercâmbio de valores, línguas, conhecimentos, instrumentos e artes, esse convívio pode, muitas vezes, se manifestar de forma violenta, com uso de dominação e marcada por preconceitos.

Ao longo da história, diversas opiniões preconceituosas sobre traços físicos ou de comportamento foram criadas e reproduzidas. São comuns as manifestações preconceituosas sobre gênero, cor da pele, origem socioeconômica, orientação sexual, nacionalidade, etnia, língua, modo de falar, deficiências, religião.

Ouvimos com freqüência comentários preconceituosos como "os portugueses são burros e trabalhadores", "os japoneses são talentosos para as ciências exatas e não gostam de se misturar", "os judeus são avarentos", "os indígenas são selvagens" e tantos outros. As formas de discriminação e preconceito entre manifestações culturais são muitas, mas todas têm uma característica comum: o não-reconhecimento do outro como igualmente humano e com o direito de ser diferente. Com isso, as vítimas de preconceito ou discriminação sofrem limites severos para manifestar sua cultura, seu modo de pensar, seus sentimentos, desejos, projetos ou valores.

:: Crescimento econômico e desenvolvimento humano

Uma das fontes de tratamento preconceituoso e discriminatório para outras culturas é a crença de que as sociedades que tiveram um maior desenvolvimento técnico e econômico são superiores às outras. Essa crença se baseia na idéia de que o progresso tecnológico e o crescimento econômico são sinônimos de desenvolvimento civilizatório e um salto evolutivo da humanidade.

O aprimoramento das técnicas e das relações econômicas aumentou sem dúvida a nossa capacidade de ação sobre a natureza. Há que se questionar, no entanto, se esse desenvolvimento representa, por si só, um avanço qualitativo da vida humana.

Salta aos olhos a evidente contradição entre as enormes possibilidades de vida geradas pelo progresso tecnológico e econômico e a miséria em que vive parte expressiva da humanidade. Ao longo da história ocidental, embora a invenção de novas tecnologias respondesse às necessidades humanas que surgiam, ela tem sido associada prioritariamente ao aumento da eficiência na produção de mercadorias.

Além disso, o desenvolvimento tecnológico e econômico que se verifica em alguns países capitalistas responde apenas à parte das necessidades humanas. Se considerarmos critérios diferentes, observamos que outros povos, em alguns campos, atingiram graus de desenvolvimento indiscutivelmente mais sofisticados do que as sociedades ocidentais. A Índia criou um sistema religioso e filosófico bastante eficiente para reduzir as conseqüências do desequilíbrio demográfico. As civilizações do Oriente e do Extremo-Oriente desenvolveram conhecimentos extremamente complexos sobre o corpo humano. Os povos indígenas do Brasil Central e da Amazônia detêm conhecimentos valiosos sobre a floresta e seus mistérios.

Há muitos outros exemplos que poderiam ser citados e todos eles revelam que a técnica e a economia desvinculadas de políticas de distribuição de renda e de ideais humanitários - referente à dignidade, ao ambiente, à diversidade, aos direitos dos cidadãos, entre outros, não atendem plenamente às necessidades dos seres humanos. Portanto, a afirmação da pluralidade cultural nos leva à constatação de que não há um único modo de organizar a existência nem de fazer a história.

Ao contrário, na vida de cada grupo cultural há um conjunto imenso de possibilidades. E o reconhecimento dessa diversidade traria muito mais riqueza a todos. Mais ainda, a afirmação da pluralidade cultural nos permite assumir a tese de que o aprimoramento das relações econômicas e o avanço das tecnologias fazem sentido se partirem das necessidades de desenvolvimento humano, ou seja, se tiverem como objetivo a ampliação das possibilidades de um povo buscar a realização dos objetivos que valoriza.

Assim, o convívio com o outro, o diferente, pode enriquecer e desenvolver nossa condição humana. O antropólogo Claude Lévi-Strauss usa uma imagem bastante clara para defender essa idéia. Segundo ele, o desenvolvimento das formas de vida humana pode ser comparado a um jogo de cartas no qual cada carta representa uma conquista cultural. Assim, cada jogador - ou cultura - só consegue fazer pequenas seqüências; Entretanto, se houver o intercâmbio entre as séries construídas pelos jogadores, a seqüência resultante torna-se muito maior e mais rica, tanto em conquistas quanto em novas possibilidades.

Dessa forma, a garantia em escala local e mundial de condições econômicas, sociais e políticas para os diferentes grupos culturais organizarem sua própria vida e se desenvolverem significa, acima de tudo, preservar o enorme acervo vivo dos modos de viver que a humanidade criou. Trata-se de um acervo que representa não só um acúmulo de conquistas já realizadas, mas também um enorme conjunto de possibilidades de reinventar essas conquistas e construir o futuro.

:: Tolerância e convívio da pluralidade cultural

O debate sobre esse tema tem se tornado bastante intenso nesse início de século, que expande o circuito de relações dos povos e nações por todo o globo e ao mesmo tempo reafirma as identidades dos grupos específicos.

Assim, a pluralidade cultural é também um foco constante de conflitos, pois traz consigo concepções que questionam profundamente nossas crenças e valores.

Por esse motivo, a realização das possibilidades de desenvolvimento humano depende do enfrentamento de um desafio: como reconhecer o direito à diversidade quando há discordância de condutas e pensamentos? Para dar conta disso, tem havido um esforço grande para se desenvolver uma ética universal que afirme valores morais para a regulação do comportamento entre os diversos grupos culturais e as pessoas que manifestam essas diferenças. Um exemplo desse debate é o relatório da Unesco "Nossa diversidade criadora", coordenado por Javier Pérez de Cuéllar.

A idéia da tolerância está no centro desse debate. Entretanto, é preciso esclarecer dois usos diferentes para essa palavra. É comum a palavra tolerância ser usada para expressar uma relação na qual uma pessoa suporta outra como quem agüenta uma carga que a oprime e a constrange. Nesse sentido, a pessoa que suporta o outro está em condição de desvantagem, pois aquele que é suportado está manifestando seu modo de ser - e o seu poder - oprimindo a manifestação da vida de quem está agüentando. Trata-se, portanto, de uma relação em que um afirma a sua liberdade negando a liberdade do outro.

Para expressar uma ética universal que respeita e afirma a pluralidade cultural, a tolerância tem sido definida com um sentido bastante diferente. Há tolerância efetivamente quando o convívio com o outro está baseado na manifestação livre e sem constrangimentos tanto de nossas particularidades quanto das particularidades do outro. Trata-se, portanto, de um encontro de liberdades que se afirmam sem se negar.

O filósofo Adolfo Sánchez Vázquez definiu tolerância do seguinte modo:
·               a tolerância existe entre indivíduos ou grupos com diferentes convicções, modos de vida etc.;
·               é necessário reconhecer conscientemente essas diferenças;
·               as diferenças reconhecidas têm de ser importantes e afetar os indivíduos, não se pode ficar indiferente a sua existência;
·               as diferenças referem-se a pensamentos, hábitos, valores, crenças diferentes daquelas aceitas ou aprovadas pelos indivíduos como padrão de vida;
·               embora não se concorde com as diferenças, admite-se o direito do outro de ser diferente e manter livremente suas diferenças;
·               ao admitir esse direito, permite-se o diálogo e a argumentação com a intenção de persuadir o outro a mudar de posição.
Dessa forma, a tolerância só pode existir quando há o dissentimento e a discórdia. Se não há conflito, ela deixa de ser necessária. O que a torna valiosa é justamente a possibilidade de criar uma relação entre homens que se reconhecem como iguais mesmo que tenham discordâncias e vivam de modos diferentes.

Assim, a tolerância pressupõe reciprocidade de direitos. Isso implica reconhecer que não se deve tolerar simplesmente para ser tolerante. A tolerância não serve de justificativa para si mesma. Ao contrário, o que lhe confere importância e determina sua razão de ser são valores irrenunciáveis com os quais ela se relaciona. Assim, justifica-se ser tolerante quando se criam relações pautadas no respeito à liberdade e à autonomia nossa e do outro, na convivência fraterna e solidária, e na democracia como modo de relação entre as pessoas e os grupos.

Portanto, não se deve aceitar a intolerância, a discriminação, a violência, as perseguições religiosas, étnicas e raciais, os comportamentos e as idéias que negam o respeito à liberdade e à autonomia dos outros, que impedem um convívio fraterno e solidário e que obstruem a construção de relações democráticas.

A tolerância efetiva permite ao outro manifestar suas diferenças, mesmo que elas afetem nossas convicções. Ao mesmo tempo, nos possibilita manifestar nossas particularidades que podem parecer estranhas para alguém. Certamente, não é um exercício fácil. Mas ele garante um convívio respeitoso, fraterno e democrático no qual a pluralidade cultural pode se afirmar com toda sua possibilidade de nos ensinar outros pontos de vista e de enriquecer nossas formas de vida.
:: Para outras conversas

A formação histórica brasileira é marcada pela atuação de muitos povos, culturalmente muito diversos.

Somos um povo que se vê como pertencente a uma nação e a um Estado, é verdade. Entretanto, há uma vasta pluralidade cultural entre nós, que se expressa, por exemplo, nas diferenças entre os modos de viver do Norte e do Sul, do litoral e do Centro-Oeste, entre os grupos originários de outros continentes, entre as populações rurais e urbanas, entre os jovens e os adultos, entre os meios letrados e as manifestações da tradição oral.

Existe entre nós uma riqueza de experiências humanas que constitui um dos maiores patrimônios nacionais. Entretanto, o predomínio da discriminação, as imensas desigualdades sociais, políticas e econômicas, os preconceitos e a intolerância reduzem muito as possibilidades dessa pluralidade se manifestar.

Por isso criar condições para a afirmação da pluralidade que marca nossa formação cultural é a melhor maneira de compartilhar esse acervo de experiências humanas, esse patrimônio cultural existente no Brasil. Assim podemos encontrar respostas inesperadas aos limites e às potencialidades do presente e abrir novos caminhos para o nosso futuro. 
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Crianças do Mundo Inteiro, Unicef

Os sites indicados nesse texto foram visitados em 05/02/2004

Curiosidades sobre diferenças culturais
- No Líbano, os homens podem legalmente ter relações sexuais com animais, mas tem que ser fêmeas. Relações sexuais com machos são punidas com a morte.
- Em Bahrain, um médico pode legalmente examinar a genitália feminina, mas ele é proibido de olhar diretamente para ela durante o exame. Ele pode apenas olhar através de um espelho.
- Os muçulmanos não podem olhar os genitais de um cadáver. Isto também se aplica aos funcionários da funerária. Os órgãos sexuais do defunto devem estar sempre cobertos por um tijolo ou por um pedaço de madeira.
- A penalidade para a masturbação na Indonésia é a decapitação.
- Há homens em Guam cujo emprego em tempo integral é viajar pelo país e deflorar virgens, que os pagam pelo privilégio de ter sexo pela primeira vez. Razão: pelas leis de Guam, é proibido virgens se casarem.
- Em Hong Kong, uma mulher traída pode legalmente matar seu marido adúltero, mas deve fazê-lo apenas com suas mãos. Em contrapartida, a amante do marido pode ser morta de qualquer outra maneira.
- A lei autoriza vendedoras a ficarem de topless em Liverpool, Inglaterra, mas somente em lojas de peixes tropicais.
- Em Cali, na Colômbia, uma mulher só pode ter relações com seu marido e, na primeira vez que isso ocorre, sua mãe deve estar no quarto para testemunhar o ato.
- Em Santa Cruz, na Bolívia, é ilegal um homem ter relações com uma mulher e a filha dela ao mesmo tempo.
- Em Maryland, preservativos podem ser vendidos em máquinas somente "em lugares onde são vendidas bebidas alcoólicas para consumo no local".


[1] Alteridade é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu - individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo).
Dessa forma eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo, sensibilizado que estou pela experiência do contato.
A “noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através das dinâmicas das relações sociais. Assim sendo, a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito” (G. Velho, 1996:10)

[2] Epistemologia ou teoria do conhecimento é a crítica, estudo ou tratado do conhecimento da ciência, ou ainda, o estudo filosófico da origem, natureza e limites do conhecimento. Pode-se remeter a origem da "epistemologia" a Platão ao tratar o conhecimento como "crença verdadeira e justificada". O desafio da "epistemologia" é responder "o que é" e "como" alcançamos o conhecimento?. Diante dessas questões da epistemologia surgem duas posições:
Empirista: que diz que o conhecimento deve ser baseado na experiência, ou seja, no que for apreendido pelos sentidos. Como defensores desta posição temos Locke, Berkeley e Hume; e
Racionalista: que prega que as fontes do conhecimento se encontram na razão, e não na experiência. Como defensores desta posição temos Leibniz e Descartes.
A expressão "epistemologia" deriva das palavras gregas "episteme", que significa "ciência", e "Logia" que significa "estudo", podendo ser definida em sua etimologia como "o estudo da ciência".

Apostilia 2º Ano 3º B CIEP 201


Sociologia – 2º ano do ensino médio
Professor: Helio Ventura
1 – Visão filosófica do trabalho:
·         Pelo trabalho o homem transforma a natureza. Sua ação é intencional, dirigida por um projeto político (antecipação da ação pelo pensamento). O projeto orienta a ação e esta altera o projeto, que de novo altera a ação, fazendo com que haja mudança dos procedimentos empregados, o que gera o processo histórico.
·         O homem faz uso da linguagem, comunicando-se com o outro e tornando presente no pensamento o que está ausente.
·         O trabalho é atividade coletiva.
·         Além de transformar a natureza, o trabalho transforma o próprio homem. Ou seja, pelo trabalho o homem se auto-produz. O trabalho altera a visão que o homem tem do mundo e de si mesmo.
2 – Visão histórica do trabalho:
·         A etmologia da palavra trabalho vem do vocábulo latino tripaliari, do substantivo tripalium, um aparelho de tortura. Daí a associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena, labuta.
·         Na Antigüidade grega, todo manual era desvalorizado por ser feito por escravos.
·         Na Idade Medieval consideravam a ars mechanica (arte mecânica) uma ars inferior.
·         Na Idade Moderna a situação começou a mudar com a ascensão dos burgueses, que tinham origem fora da nobreza e que, portanto, tinham outra concepção a respeito do trabalho. A burguesia busca novos mercados e há a necessidade de estimular as navegações.
A história do trabalho é tão antiga quanto à do homem. Em muitos momentos elas se confundem. Mas, por incrível que pareça, nem sempre trabalho foi sinônimo de tortura como a etimologia da palavra demonstra. O termo deriva do latim, tripalium, instrumento de tortura, derivando do adjetivo tripális, que significa sustentado por três estacas ou mourões. O termo tripaliare, influenciou vários idiomas, entre eles o português trabalhar, o francês travailler, o espanhol trabajar e o italiano traballare. Mas quando exatamente o trabalho deixou de ser algo simples e encantador para se tornar sinônimo de sacrifício? E para onde está indo essa atividade que ocupa mais de um terço de nossas vidas?
Podemos conceituar trabalho como o método pelo qual se produz bens e serviços. O trabalho está bastante presente em nossa sociedade, sendo um elemento de troca. O conceito de trabalho é importante para designar justamente, a necessidade do homem em ter um convívio social, visto que ninguém pode produzir sozinho todos os bens ou serviços que necessita, fazendo necessário haver trocas desses bens e serviços com outros indivíduos.
O conceito de trabalho é generalizado, não se restringindo ao tipo de trabalho realizado. Assim, em uma fábrica, por exemplo, as atividades do presidente e do funcionário com menor posição hierárquica são consideradas igualmente como trabalhos, visto que resultam em bens e serviços.
O que diferencia um trabalho é o tipo das atividades realizadas. Não existe nenhum trabalho exclusivamente manual ou exclusivamente intelectual, mas sim, uma combinação entre as atividades manuais e intelectuais. Assim, podemos dizer que a atividade de um cientista é predominantemente intelectual, porém também existem algumas atividades manuais em seu trabalho. Da mesma forma, no caso de operário de construção civil, o trabalho é predominantemente manual, porém existem certas atividades intelectuais envolvendo seu trabalho.
O trabalho ainda pode ser classificado segundo o grau de capacitação exigido dos profissionais. O trabalho qualificado é aquele que só é feito mediante certo grau de aprendizagem e conhecimento, exemplo: trabalho de um médico. Já o trabalho não qualificado se trata daquele onde não é necessário possuir um grau de instrução, visto que as atividades podem ser desenvolvidas por imitações ou simples instruções, exemplo: trabalho de um servente de pedreiro.
É mesmo difícil de imaginar, mas já houve um tempo em que não precisávamos trabalhar para viver. Naquela época, nossa comida era banana e nossa casa um galho. E vivíamos felizes! Tudo o que necessitávamos estava ali, ao alcance das nossas mãos. Vida simples, pouco stress. Passávamos o tempo comendo, brincando, namorando e descansando. Um verdadeiro paraíso. Daí, a Mãe Natureza nos “deu um gelo” e tivemos que abandonar o nosso jardim do Éden à procura de alimento e abrigo. Jogados ao mundo, inexperientes e indefesos, enfrentamos não apenas a fome, mas também alguns predadores famintos. A situação apertou muito para o nosso lado até percebermos que tínhamos um diferencial competitivo: mãos! Graças a elas, conseguimos criar alguns artifícios capazes de garantir a nossa sobrevivência. Foi o início da Era “gente que faz”, pois para ter alimento e proteção, precisávamos fazer alguma coisa. A fórmula era, simplesmente, fazer = ter. E nós realmente fizemos. Plantamos, industrializamos, informatizamos e globalizamos. De uma espécie em risco de extinção com menos de dois milhões de seres, crescemos para mais de seis bilhões sobre a face da Terra.
É nesse processo de agricultura, industrialização e informatização que vamos nos aprofundar neste texto para saber para onde estamos caminhando.

O ser humano teve muita dificuldade em se adaptar à Era do Gelo

O trabalho de caça e coleta
Após a era glacial há cerca de 150 mil anos, que secou nosso habitat natural, que eram as árvores, caímos num mundo novo e totalmente desconhecido, o chão. Nas árvores sabíamos nos virar e sobreviver, na terra não conseguíamos ser mais velozes que um rato ou uma galinha, não tínhamos olfato apurado e nem uma boa visão noturna para fugir dos predadores. O trabalho desse período era manter-se vivo. Preservar a espécie era o melhor que poderíamos fazer, o homem trabalhava apenas para ele mesmo. Precisamos de alguns milhares de anos de alimentação de insetos para nos darmos conta de que com as mãos, poderíamos agarrar um pedaço de pau e caçar bichos maiores e mais saborosos. Nesse momento o homem deixa de lado a coleta para passar à caça. Caçar exige muito mais esforço, planejamento e dedicação. O homem caçador tornou-se, desde aquela época, escravo de seu trabalho. Somente quando trabalhava bem conseguia alimentar-se e dar de comer à sua prole. O trabalho passou a ser uma obrigação que deveria ser feita todos os dias, afinal não sabíamos se a caça daria certo naquele dia ou não. Ao contrário dessa era, no tempo em que vivíamos nas árvores o labor era algo que se fazia apenas quando necessário.

Agricultura
Há mais de 12 mil anos, na pré-história do período neolítico, surgiu a agricultura, baseada em duas observações:
1. Notamos que ao colocar alguns grãos na terra, esses seriam semeados, cresceriam e dariam origem a muitos outros na planta que nascia. Isso permitiu que nossa maior riqueza na época, o alimento, se multiplicasse.
2. Constatamos que em alguns períodos era mais difícil caçar. Concluímos por tanto, que se colhêssemos sementes conseguiríamos armazenar o alimento por muito mais tempo o que nos manteria vivos em épocas de “vacas magras”.
A agricultura possibilitou ao homem se estabelecer em uma região (ser sedentário), não precisando mais correr atrás da presa e se deslocar por territórios desabitados (ser nômade). Com mais permanência no mesmo lugar geramos riquezas e melhoramos por conseqüência nosso padrão de vida. No entanto, acabamos por desnaturalizar o ambiente, desmatando a vegetação nativa para implantar a monocultura de poucas plantas. Buscamos sempre maior quantidade com menor variedade. Posteriormente passamos a utilizar pesticidas e outros elementos químicos, causando um grande impacto no solo, na água, na fauna e na flora das regiões exploradas.
A agricultura, diferente da caça, era exercida por homens e mulheres.

O escambo e o comércio
Até esse momento da história o trabalho tinha um único propósito: sobrevivência. Caso ele nos proporcionasse subsistência estava cumprido seu papel. Surge timidamente o comércio, que se inicia pelo processo de troca direta. Na verdade o ser humano sempre usou o câmbio de produtos quando tinha uma necessidade imediata. Com o passar do tempo, o comércio se organizou e se consolidou. Concentrava-se principalmente em cidades que eram pontos de passagem de peregrinações religiosas. Ele foi a primeira manifestação institucionalizada de vontades mais elaboradas. Há cerca de 3000 anos, o homem começou a não se contentar apenas em alimentar-se ele desejava sabores diferentes e sensações inéditas.
Surgem nessa época os artesãos, que introjetaram na sociedade a troca do trabalho pela auto-estima ou pela utilidade de seus produtos. Os seus afazeres eram realizados em oficinas construídas nas casas dos próprios artesãos, utilizando poucas ferramentas, energia humana, animal e hidráulica, para criar um produto único e não padronizado. Um artesão conseguia realizar todo o trabalho sozinho, às vezes se aliava a um grupo para dividir as etapas do processo da produção. Esse processo se chamava manufatura, pois não havia o uso de máquinas. Com cada vez mais produção, as trocas começaram a ficar mais elaboradas , gerando a necessidade de criar uma moeda. Esse é outro momento muito marcante na história do labor. Até então, nenhum trabalho tinha um valor determinado. Era algo subjetivo, todas as realizações valiam o preço da subsistência ou da necessidade de outros. A partir da moeda, o trabalho começou a ter diferentes valores. Iniciou-se também a especialização, por mais rude que ainda pudesse ser.

Modos de produção pré-capitalistas
O modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e os distribui. O modo de produção de uma sociedade é formado por suas forças produtivas e pelas relações de produção existentes nessa sociedade.
Modo de produção = forças produtivas + relações de produção
Portanto, o conceito de modo de produção resume claramente o fato de as relações de produção serem o centro organizador de todos os aspectos da sociedade.
Os modos de produção são elementos que marcaram toda a história. Podemos afirmar que na vida em sociedade, sempre há algum tipo de modo de produção. Embora o capitalismo tenha surgido e se consolidado como o sistema produtivo mais importante da história, houve muitos outros modos de produção pré-capitalistas. É importante ressaltar que nenhum modo de produção é único, ou seja, numa sociedade feudal, por exemplo, também pode haver trabalho escravo.

Modo de produção comunal primitivo
É considerado o primeiro modo de produção da história. Se iniciou a partir da época em que o homem deixou de ser nômade e passou a plantar e caçar. Tal modo se baseia no uso coletivo dos meios de produção, nas relações familiares e no cooperativismo, semelhantemente ao que ocorre em muitas aldeias indígenas. Assim, no modo de produção comunal primitivo, não havia propriedade privada, uma vez que todos os bens e modos de produção eram coletivos.
O modo de produção comunal primitivo designa uma formação econômica e social que abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período compreendido pelo escravismo, pelo feudalismo e pelo capitalismo juntos mal ultrapassa cinco milênios.
Na comunidade primitiva os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de produção e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, ou seja, de todos. Não existia ainda a idéia da propriedade privada dos meios de produção, nem havia a oposição proprietários x não proprietários.
As relações de produção eram relações de amizade e ajuda entre todos; elas eram baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, a terra em primeiro lugar.
Também não existia o estado. Este só passou a existir quando alguns homens começaram a dominar outros. O estado surgiu como instrumento de organização social e de dominação.

Modo de produção escravista
Diferentemente do comunal primitivo, o modo de produção escravista foi o primeiro a estabelecer o conceito de propriedade privada. Os senhores, a minoria, eram proprietários dos escravos. As relações aqui não são de cooperação, como no modo comunal primário, mas sim, de domínio e sujeição, uma vez que os escravos eram vistos como instrumentos, como objetos, animais, etc.
Outro importante fato referente a esse sistema é que foi a partir dele – e do surgimento da propriedade privada – que surgiu a necessidade de se criar um órgão para garantir o bem-estar, a justiça, a ordem e a manutenção dos direitos dos proprietários de terras: o Estado.
Na sociedade escravista os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedade do senhor. O escravo era considerado um instrumento, um objeto, assim como um animal ou uma ferramenta.
Assim, no modo de produção escravista, as relações de produção eram relações de domínio e de sujeição: senhores x escravos. Um pequeno número de senhores explorava a massa de escravos, que não tinham nenhum direito.
Os senhores eram proprietários da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção (terras, gado, minas, instrumentos de produção) e do produto de trabalho.

Modo de produção asiático
Presente principalmente nas civilizações da antiguidade, como Egito e Mesopotâmia, bem como na China e na Índia. Foi marcado pela existência de um Estado forte que apresentava mecanismos burocráticos e eficientes com o fim de submeter toda a sociedade ao seu poder. Todos os bens e meios de produção eram pertencentes ao Estado, sendo este encarnado pelo rei, imperador, etc.
A agricultura, base da economia desses Estados, era praticada por comunidades de camponeses presos à terra, que não podiam abandonar seu local de trabalho e viviam submetidos a um regime de trabalho compulsório. Na verdade, esses camponeses (ou aldeões) tinham acesso à coletividade das terras de sua comunidade, ou seja, pelo fato de pertencerem a tal comunidade, eles tinham o direito e o dever de cultivar as terras desta.
Fatores que determinaram o fim do modo de produção asiático:
·         A propriedade de terra pelos nobres;
·         O alto custo de manutenção dos setores improdutivos;
·         A rebelião dos servos e escravos.

Modo de produção feudal
Predominante na Europa ocidental entre os séculos V e XVI, foi marcado pelas relações entre senhores e servos. Os senhores eram os donos da terra e do trabalho agrícola do servo, contudo, os servos não eram vistos apenas como objetos, como no modo escravista. O servo tinha o direito de cultivar um pedaço de terra cedido pelo senhor e viver ali com sua família. Em troca, ele pagava impostos, rendas, além de trabalhar para o senhor. Os senhores feudais tinham certa independência em relação ao sistema político presente, visto que possuíam seus próprios exércitos.
A sociedade feudal era constituída pelos senhores x servos. Os servos não eram escravos de seus senhores, pois não eram propriedade deles. Eles apenas os serviam em troca de casa e comida. Trabalhavam um pouco para o seu senhor e outro pouco para eles mesmos.
Num determinado momento, as relações feudais começaram a dificultar o desenvolvimento das forças produtivas. Como a exploração sobre os servos no campo aumentava, o rendimento da agricultura era cada vez mais baixo. Na cidade, o crescimento da produtividade dos artesãos era freado pelos regulamentos existentes e o próprio crescimento das cidades era impedido pela ordem feudal.Já começava a aparecer às relações capitalistas de produção.


Modo de produção capitalista
O que caracteriza o modo de produção capitalista são as relações assalariadas de produção (trabalho assalariado). As relações de produção capitalistas baseiam-se na propriedade privada dos meios de produção pela burguesia, que substituiu a propriedade feudal, e no trabalho assalariado, que substituiu o trabalho servil do feudalismo. O capitalismo é movido por lucros, portanto temos duas classes sociais: a burguesia e os trabalhadores assalariados.
Grandes mudanças começaram a ocorrer em toda a Europa independentemente da vontade daqueles que detinham o poder e a riqueza, a partir do século XV, o comércio já era a principal atividade econômica na Europa, nesse período, o capitalismo (mercantil ou comercial) estruturava-se definitivamente a partir da necessidade e do interesse dos países europeus ou algumas cidades européias em aumentar seu mercado para além dos limites nacionais e continentais. Essas mudanças ocorreram de forma gradativa, imperceptíveis para aqueles que viviam naquela época. Começaram a surgir novos grupos sociais: comerciantes, artesãos e camponeses livres, algo impossível durante o período feudal, pois a dificuldade de mobilidade social era fato.
A partir daí, ocorreu a decadência do feudalismo; a servidão da gleba (obrigações feudais dos servos) foi substituída pelo trabalho assalariado, e a primazia dos senhores feudais coube então à burguesia mercantil e ao rei. A ampliação do comércio internacional consolidou o sistema capitalista dentro de uma sociedade de classes, na qual, de um lado, surgia e se fortalecia uma burguesia mercantil que, em aliança com os reis, detinha o poder e a riqueza (capital), e, de outro lado, o proletariado que, separado do capital e de seus meios de produção, tinha a oferecer sua força de trabalho em troca de salário.
Foram dois séculos de amadurecimento até a Revolução Industrial (1750). As inovações técnicas aliadas às riquezas provenientes das áreas colonizadas acabaram por promover um acúmulo de capital e uma crescente expansão da economia. O capitalismo se tornou o modo de produção dominante a partir da Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra.
Surgiu, assim, a necessidade de garantir o fornecimento de matérias-primas, dominar os mercados consumidores e aplicar o capital de maneira segura, aumentando a capacidade de produzir e, conseqüentemente, os lucros. A riqueza provinha, então, da capacidade de produzir mercadorias e não mais do comércio.
Assim, o capitalismo industrial provocou a disputa pelas áreas fornecedoras de matérias-primas, pelos mercados compradores e pelos locais de investimentos seguros, levando as grandes potências dos séculos XIX e XX (Inglaterra, França, Bélgica, Japão, EUA e tardiamente Itália e Alemanha) a competir pela dominação política e econômica do mundo e pela partilha dos territórios asiáticos e africanos[1], de acordo com seus próprios interesses.
O resultado da competição foi o imperialismo expresso pelo domínio econômico de uma nação sobre outra, na tentativa de manter o abastecimento de matérias-primas e os mercados consumidores, o que teve como conseqüências o militarismo, o nacionalismo, o racismo e a hierarquização das nações.
A partir da Segunda Guerra Mundial, com as potências européias enfraquecidas e em crise, surgem os EUA como grandes investidores externos, graças ao acúmulo de capital e a seu crescente poder político-militar. O capitalismo entra em uma nova fase, financeira ou monopolista, com a expansão de grandes empresas[2], o incessante acúmulo de capitais em escala mundial, o monopólio e a internacionalização da produção. Uma das características do modo de produção capitalista são as relações assalariadas de produção; tais relações baseiam-se na propriedade privada dos meios de produção, livre concorrência e livre iniciativa (economia de mercado); lucro como objetivo; presença de duas classes sociais: burguesia e proletariado.
O capitalismo compreende quatro etapas:
Pré-capitalismo: o modo de produção feudal ainda predomina, mas já se desenvolvem relações capitalistas.
Capitalismo comercial: a maior parte dos lucros concentra-se nas mãos dos comerciantes, que constituem a camada hegemônica da sociedade; o trabalho assalariado torna-se mais comum.
Capitalismo industrial: com a revolução industrial, o capital passa a ser investido basicamente nas industrias, que se tornam a atividade econômica mais importante; o trabalho assalariado firma-se definitivamente.
Capitalismo financeiro: os bancos e outras instituições financeiras passam a controlar as demais atividades econômicas, através de financiamentos à agricultura, a industria, à pecuária, e ao comercio. 
Taylorismo
Taylorismo ou Administração científica é o modelo de administração desenvolvido pelo engenheiro estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915), que é considerado o pai da administração científica.
Taylor pretendia definir princípios científicos para a administração das empresas. Tinha por objetivo resolver os problemas que resultam das relações entre os operários, como conseqüência modifica-se as relações humanas dentro da empresa, o bom operário não discute as ordens, nem as instruções, faz o que lhe mandam fazer.
Organização Racional do Trabalho:
- Análise do trabalho e estudo dos tempos e movimentos: objetivava a isenção de movimentos inúteis, para que o operário executasse de forma mais simples e rápida a sua função, estabelecendo um tempo médio.
-Estudo da fadiga humana: a fadiga predispõe o trabalhador à diminuição da produtividade e perda de qualidade, acidentes, doenças e aumento da rotatividade de pessoal.
-Divisão do trabalho e especialização do operário
-Desenho de cargos e tarefas: desenhar cargos é especificar o conteúdo de tarefas de uma função, como executar e as relações com os demais cargos existentes.
-Incentivos salariais e prêmios por produtividade
-Condições de trabalho: O conforto do operário e o ambiente físico ganham valor, não porque as pessoas merecessem, mas porque são essenciais para o ganho de produtividade
-Padronização: aplicação de métodos científicos para obter a uniformidade e reduzir os custos
-Supervisão funcional: os operários são supervisionados por supervisores especializados, e não por uma autoridade centralizada.
-Homem econômico: o homem é motivável por recompensas salariais, econômicas e materiais.
A empresa era vista como um sistema fechado, isto é, os indivíduos não recebiam influências externas. O sistema fechado é mecânico, previsível e determinístico.
Fordismo
Idealizado pelo empresário estadunidense Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford Motor Company, o fordismo se caracteriza por ser um método de produção caracterizado pela produção em série, sendo um aperfeiçoamento do taylorismo.
Ford introduziu em suas fábricas as chamadas linhas de montagem, nas quais os veículos a serem produzidos eram colocados em esteiras rolantes e cada operário realizava uma etapa da produção, fazendo com que a produção necessitasse de altos investimentos e grandes instalações. O método de produção fordista permitiu que Ford produzisse mais de 2 milhões de carros por ano, durante a década de 1920. O veículo pioneiro de Ford no processo de produção fordista foi o mítico Ford Modelo T, mais conhecido no Brasil como "Ford Bigode".
O fordismo, teve seu ápice no período posterior à Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 1950 e 1960, que ficaram conhecidas na história do capitalismo como Os Anos Dourados. A crise sofrida pelos Estados Unidos na década de 1970 foi considerada uma crise do próprio modelo, que apresentava queda da produtividade e das margens de lucros. A partir da década de 1980, esboçou-se nos países industrializados um novo padrão de desenvolvimento denominado pós-fordismo ou modelo flexível (toyotismo), baseado na tecnologia da informação.
Princípios fordista:
·         Intensificação;
·         Produtividade;
·         Economicidade.
Toyotismo
O toyotismo é um modo de organização da produção capitalista que se desenvolveu a partir da globalização do capitalismo na década de 1980. Surgiu no Japão após a II Guerra Mundial, mas só a partir da crise capitalista da década de 1970 é que foi caracterizado como filosofia orgânica da produção industrial (modelo japonês), adquirindo uma projeção global.
O Japão foi o berço da automação flexível pois apresentava um cenário diferente do dos Estados Unidos e da Europa: um pequeno mercado consumidor, capital e matéria-prima escassos, e grande disponibilidade de mão-de-obra não-especializada, impossibilitavam a solução taylorista-fordista de produção em massa. A resposta foi o aumento na produtividade na fabricação de pequenas quantidades de numerosos modelos de produtos, voltados para o mercado externo, de modo a gerar divisas tanto para a obtenção de matérias-primas e alimentos, quanto para importar os equipamentos e bens de capital necessários para a sua reconstrução pós-guerra e para o desenvolvimento da própria industrialização. O sistema pode ser teoricamente caracterizado por quatro aspectos:
mecanização flexível, uma dinâmica oposta à rígida automação fordista decorrente da inexistência de escalas que viabilizassem a rigidez.
processo de multifuncionalização de sua mão-de-obra, uma vez que por se basear na mecanização flexível e na produção para mercados muito segmentados, a mão-de-obra não podia ser especializada em funções únicas e restritas como a fordista. Para atingir esse objetivo os japoneses investiram na educação e qualificação de seu povo e o toyotismo, em lugar de avançar na tradicional divisão do trabalho, seguiu também um caminho inverso, incentivando uma atuação voltada para o enriquecimento do trabalho.
implantação de sistemas de controle de qualidade total, onde através da promoção de palestras de grandes especialistas norte-americanos, difundiu-se um aprimoramento do modelo norte-americano, onde, ao se trabalhar com pequenos lotes e com matérias-primas muito caras, os japoneses de fato buscaram a qualidade total. Se, no sistema fordista de produção em massa, a qualidade era assegurada através de controles amostrais em apenas pontos do processo produtivo, no toyotismo, o controle de qualidade se desenvolve por meio de todos os trabalhadores em todos os pontos do processo produtivo.
sistema just in time que se caracteriza pela minimização dos estoques necessários à produção de um extenso leque de produtos, com um planejamento de produção dinâmico. Como indicado pelo próprio nome, o objetivo final seria produzir um bem no exato momento em que é demandado.
O Japão desenvolveu um elevado padrão de qualidade que permitiu a sua inserção nos lucrativos mercados dos países centrais e, ao buscar a produtividade com a manutenção da flexibilidade, o toyotismo se complementava naturalmente com a automação flexível.
A partir de meados da década de 1970, as empresas toyotistas assumiriam a supremacia produtiva e econômica, principalmente pela sua sistemática produtiva que consistia em produzir bens pequenos, que consumissem pouca energia e matéria-prima, ao contrário do padrão norte-americano. Com o choque do petróleo e a conseqüente queda no padrão de consumo, os países passaram a demandar uma série de produtos que não tinham capacidade, e, a princípio, nem interesse em produzir, o que favoreceu o cenário para as empresas japonesas toyotistas. A razão para esse fato é que devido à crise, o aumento da produtividade, embora continuasse importante, perdeu espaço para fatores tais como a qualidade e a diversidade de produtos para melhor atendimento dos consumidores.
Modo de produção socialista
           A base econômica do socialismo é a propriedade social dos meios de produção, isto é, os meios de produção são públicos ou coletivos, não existindo empresas privadas. A finalidade da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades materiais e culturais da população: emprego, habitação, educação, saúde. Nela não há separação entre proprietário do capital (patrão) e proprietários da força do trabalho (empregados). Isto não quer dizer que não haja diferenças sociais entre as pessoas, bem como salários desiguais em função de o trabalho ser manual ou intelectual.
Conclusão
Para produzir os bens de consumo e de serviço de que necessitamos, os homens estabelecem relações uns entre os outros. As relações que se estabelecem entre os homens na produção, na troca e na distribuição dos bens são as relações de produção.
Nos últimos anos temos visto uma revolução tecnológica crescente e que tem trazido novos direcionamentos econômicos, culturais, sociais e educacionais à sociedade. A acelerada transformação nos meios e nos modos de produção, causada pela revolução tecnológica focaliza uma nova era da humanidade onde as relações econômicas entre as pessoas e entre os países e a natureza do trabalho sofrem enormes transformações.
Trabalho Formal
Os trabalhadores que têm registro em carteira e seus direitos trabalhistas garantidos, recolhendo uma taxa para a aposentadoria (contribuição ao INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social), ou as pessoas que, mesmo trabalhando por conta própria (sem que estejam empregadas em empresas ou órgãos do governo), recolhem determinadas taxas, desenvolvem atividades que são chamadas de formais, ou seja, estão de acordo com uma série de leis que se referem ao trabalho e às atividades econômicas.
Consiste em trabalho fornecido por uma empresa, com todos os direitos trabalhistas garantidos. O papel ocupado ou a função que a pessoa desempenha em alguma atividade econômica lhe confere uma remuneração. No caso dos empregados de uma empresa, por exemplo, essa remuneração pode ser chamada de salário ou de vencimentos, sendo esta muito utilizada para se referir aos rendimentos dos que trabalham em órgãos do governo.
Trabalho Informal
O uso da expressão trabalho informal tem suas origens nos estudos realizados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no âmbito do Programa Mundial de Emprego de1972. Ela aparece, de forma particular, nos relatórios a respeito das condições de trabalho em Gana e Quênia, na África.O trabalho informal é o tipo de trabalho desvinculado a qualquer empresa, ou seja, é o trabalho indireto onde não há vínculo empregatício por meio de documentação legalizada. Esse tipo de trabalho teve grande crescimento na década de 1990 quando a competitividade fez com que as empresas optassem por mão-de-obra qualificada e também frente à crise econômica, as empresas tiveram que diminuir seu quadro de funcionários e baixar o valor de suas mercadorias.
No decorrer do tempo, o homem foi substituído por máquinas, fazendo com que mais pessoas passassem para a condição de desempregados. Como maneira mais fácil e honesta, as pessoas se tornaram trabalhadoras de rua (camelôs) que apesar de não lhes oferecer garantias e benefícios, como férias, décimo terceiro salário, hora extra remunerada, FGTS, licença maternidade-paternidade, seguro desemprego e outros conseguem as mínimas condições de subsistência.
Mais da metade da população economicamente ativa (PEA) encontra-se no mercado informal de trabalho, consequência dos altos índices de desemprego, da falta de mão de obra qualificada, dentre outros motivos.
Trabalho Autônomo
No Brasil, o trabalhador autônomo é a pessoa física que exerce por conta própria atividade econômica com ou sem fins lucrativos. É o prestador de serviços que não tem vínculo empregatício porque falta o requisito da subordinação. Segundo dispõe a Lei Federal nº 8.212/91, trabalhador autônomo é a pessoa física que exerce por conta própria atividade econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não. É incorreta a definição da Lei 8.212 quando menciona que o autônomo é apenas quem exerce atividade de natureza urbana, pois profissões como a de engenheiro agrônomo, ou veterinário, podem exercer suas atividades no âmbito rural.
Em outras palavras, é a pessoa física que presta serviços a outrem por conta própria, por sua conta e risco. Não possui horário, nem recebe salário, mas sim uma remuneração prevista em contrato. Não se exige como requisito do trabalhador autônomo o diploma de curso superior. Tanto é autônomo o advogado, o médico, o engenheiro, o contador, como o vendedor de tecidos, o vendedor de livros religiosos, etc. Muitas empresas, com o objetivo de reduzir custos, contratam serviços de trabalhadores autônomos. Entretanto, essa opção pode não alcançar o objetivo pretendido, pois se os serviços não forem executados com autonomia, ficará caracterizado o vínculo empregatício, gerando custos ainda maiores do que aqueles resultantes da contratação normal de um empregado.
Como o próprio nome define, autônomo é sinônimo de independência; relativa a um certo grau de liberdade, porém com limites.Muitas das ações que tramitam pela Justiça do Trabalho têm como pretensão o reconhecimento da existência de vínculo empregatício, nos mais diversos setores de atividade econômica.Contudo, muitos problemas podem ser resolvidos através da prevenção, utilizando-se, para tanto, da correta interpretação da legislação em vigor, do estudo cuidadoso da doutrina e só alcance das decisões proferidas pelos tribunais trabalhistas.
Dentre as várias espécies de trabalhadores, o autônomo, como o próprio nome já declara, é o que desenvolve sua atividade com mais liberdade e independência. É ele quem escolhe os tomadores de seu serviço, assim como decide como e quando prestará, tendo liberdade, inclusive, para formar seus preços de acordo com as regras do mercado e a legislação vigente. O empregado por sua vez, espécie mais comum de trabalhador, tem sua atividade disciplinada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que, em seu art. 3° o considera como sendo “toda pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”.
Fontes:
http://educacao.uol.com.br/geografia/ult1694u77.jhtm
http://www.assimfaloudenardi.com/2007/05/histria-do-trabalho.html
http://www.coladaweb.com/economia/modos-de-producao
http://www.mundoeducacao.com.br/sociologia/modos-producao-precapitalistas.htm


[1]              (neocolonialismo)
[2]              (corporações multinacionais, hoje chamadas transnacionais)