Helio Ventura

Helio Ventura
Helio Ventura, Cientista Social e Músico

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A imaginação Sociológica e o Papel do Sociólogo

Sociologia – 2º ano

Professor: Helio Ventura

A imaginação Sociológica e o Papel do Sociólogo

Aprender a pensar sociologicamente – olhando – em outras palavras, de forma mais ampla – significa cultivar a imaginação. Estudar Sociologia não pode ser apenas um processo rotineiro de adquirir conhecimento. Um sociólogo é alguém que é capaz de se libertar do imediatismo das circunstâncias pessoais e apresentar as coisas num contexto mais amplo. O trabalho sociológico daquilo que o autor norte-americano C. Wright Mills, numa frase famosa chamou de imaginação sociológica. (Mills, 1970)” (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).

A imaginação sociológica, acima de tudo, exige de nós que pensemos fora das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas a fim de que as observemos de modo renovado, livre dos juízos de valor e da influência do senso comum. Giddens[1] em seu livro Sociologia usa o exemplo do café, mas podemos aqui usar uma série de outros exemplos para demonstrar como “funciona” a imaginação sociológica. Ao usar o café como exemplo, Giddens ressalta que o café possui valor simbólico como parte de nossas atividades sociais diárias. Podemos então usar a cerveja como exemplo: geralmente ao fim do expediente de trabalho ou aos finais de semana, homens e mulheres se reúnem para “tomar uma cerveja para relaxar”, usando a bebida como subterfúgio. Mas neste ato aparentemente simples, inofensivo, corriqueiro, existe uma série de questões, como por exemplo o alcoolismo, a lei seca, o “não saber parar”, a produção desta bebida, o consumo por menores de idade, iniciado geralmente em casa, sua história, a publicidade etc.
Outro exemplo é o chá, o que poderíamos dizer, a partir de uma perspectiva sociológica acerca do consumo desta bebida, deste ritual associado geralmente a britânicos, a pontualidade e a reuniões de mulheres (chá de bebê, chá de panela)?
Para começar, muito embora este “ritual”, esta tradição do consumo de chá esteja associada aos britânicos, na verdade a história do chá  remonta à antiguidade no território chinês. Entre muitas lendas que narram o “surgimento” desta bebida, a mais famosa relata que suas raízes provém de 5000 anos atrás, ao governo do Imperador Sheng Nong (ou Nung, dependendo da fonte), popularmente conhecido como o Curandeiro Divino. Tentando solucionar a constante incidência de surtos epidêmicos em seus domínios, ele criou uma lei que obrigava o povo a ferver a água antes de ingeri-la. Diz a lenda que repousando sob uma árvore, o soberano deixou sua xícara de água esfriando, e logo percebeu que algumas folhas haviam caído sobre o líquido, conferindo-lhe um tom castanho. Ao experimentar a bebida, descobriu que ela possuía um sabor agradável, disseminando o consumo desta bebida entre os seus súditos; a China desempenha um papel crucial na disseminação do consumo do chá pelo mundo.
Viu só? Iniciamos uma linha de pensamento acerca do surgimento do ritual de consumo do chá, e descobrimos que esta bebida não é proveniente da Inglaterra e nem está associada à sofisticação e a pontualidade britânica.
Em princípios do século IX alguns monges provenientes do Japão levaram consigo algumas sementes, iniciando assim o cultivo do hábito que se tornaria tradição neste país. Tanto na China quanto no Japão, o chá conquistou um desenvolvimento sem igual, em todos os ambientes, até mesmo os artísticos e os religiosos, campo no qual passou a integrar um cerimonial sagrado. O desembarque do chá na Europa se deu gradativamente através da Ásia Central e da Rússia, logo após dos portugueses, que difundiram o uso do chá por toda a Europa, a partir do fim do século XV. Os navios de Portugal transportavam a mercadoria até os portos de Lisboa, sendo daí conduzida para a Holanda e a França.
O aventureiro Marco Pólo, ao registrar suas famosas viagens, teria incluído referências ao chá em suas narrativas; do século XIX em diante, o hábito de consumir o chá se disseminou velozmente na Inglaterra, tornando-se tradição. A partir das terras inglesas esta bebida se propagou rapidamente aos Estados Unidos, à Austrália e ao Canadá, até se tornar popular em todo o planeta. Enquanto isso, no Japão, o preparo do chá tornou-se uma arte, bem como o seu consumo.
Dando prosseguimento a nossa análise acerca do chá, agora partimos para uma perspectiva sociológica direcionada a questões políticas e econômicas, neste sentido devemos lembrar do ano de 1773, quando uma certa lei foi criada, estudamos isso na disciplina de história, lembram?
Esta lei aumentou consideravelmente a aquisição de impostos sobre a comercialização do chá, que era muito consumido nas colônias. Também foi instituída a exclusividade de sua venda (o monopólio comercial) à Companhia das Índias Orientais. Foi uma medida inglesa que impediu os colonos de participar do comércio de chá, que era bastante lucrativo, o que favorecia os comerciantes ingleses, dando-lhes o monopólio do mercado desse produto nas treze colônias[2], seu nome: Lei do Chá. A resposta americana teve lugar em Boston, no episódio conhecido como Festa do Chá, quando americanos vestidos como índios saquearam navios ingleses, jogando ao mar sua carga de chá.
Agora que sabemos um pouco mais sobre a história do chá podemos concluir que o chá não é simplesmente uma bebida que pode ser consumida quente ou gelada. Possui, sobretudo, valor simbólico em muitas culturas como a inglesa, a chinesa e principalmente a japonesa. No Japão, o preparo do chá tornou-se uma arte, bem como o seu consumo. Os participantes da cerimônia do chá devem sempre esperar em um recinto, até se desconectarem das preocupações do dia-a-dia. Se pensarmos bem, em todas as sociedades, em todos os tempos, comer e beber são ações que produzem oportunidades para interação social e para a encenação de rituais, ou seja, um ótimo tema para estudos sociológicos.
Outro ponto, um indivíduo que bebe chá está envolvido em uma complicada rede de relações sociais, econômicas e culturais que se estendem pelo mundo desde os tempos antigos. O chá é um produto que conecta as pessoas, o rico, o pobre. Todos e todas podem consumir chá hoje em dia, inclusive tornou-se mais acessível do que o café, mas nem sempre foi assim. O entusiasmo dos britânicos pelo chá é algo que ainda hoje se mantém, no entanto, nos primeiros anos de consumo, esta bebida não estava ao alcance de todos porque tinha um imposto tão alto que, em 1689 as vendas de chá quase pararam, ocasionando contrabando de chá em larga escala que, infelizmente, adulterava muitas vezes as folhas de chá, adicionando-lhes folhas de outras plantas. Este negócio de mercado clandestino chegou a tais proporções que, em 1784, o primeiro-ministro William Pitt colocou um ponto final na situação ao reduzir o imposto de 119% para 12.5%. De um dia para o outro, o chá tornou-se acessível e o contrabando deixou de ser um negócio lucrativo.
Aqui no Brasil o chá é produzido em várias regiões, entre elas São Miguel (Açores) onde os produtores criaram uma associação para certificar o seu chá produzido de forma orgânica; hoje, a produção de chá no mundo é calculada por volta de 2,34 bilhões de kg por ano. A Índia, um país pobre, e repleto de contradições econômicas é o numero 1 na produção como a maior nação produtora de chá do mundo, com uma produção anual de aproximadamente 850 milhões kg.  A China, onde o chá originou-se, hoje sustenta a segunda posição e contribui com 22% da produção mundial de chá. Outros paises são importantes produtores de chá como a Argentina, Sri Lanka, Turquia, Geórgia, Kenya, Indonésia e Japão. A produção, o tranporte, e a distribuição do chá demandam transações entre pessoas a milhares de quilômetros de distância do seu consumidor, estudar estas transações também é tarefa da sociologia.
Atualmente, o chá continua a ser consumido por diversos povos espalhados pelo mundo, sendo ainda mais popular do que o café. Ao bebermos chá nos envolvemos em todo um processo passado de desenvolvimento social e econômico, por exemplo, a Stassen Natural Food é um dos principais produtores e exportadores de chá de qualidade do Sri Lanka e um antigo parceiro do Comércio Justo[3]. O Sri Lanka é um importante exportador de chá no mundo, a economia do país depende fortemente da produção de chá, o governo é detentor da maioria das fábricas de processamento de chá, e o chá é vendido em leilões controlados pelo Estado.
Logo, os pequenos produtores de chá são excluídos da produção e comercialização, e isso torna difícil para as organizações de Comércio Justo introduzir o Comércio Justo de fato como uma alternativa à produção e exportação de chá neste país,  entretanto esta empresa mostrou um particular interesse no Comércio Justo e possuí aparentemente objetivos partilhados, como a melhoria das condições de trabalho e de vida das pessoas que trabalham nas plantações de chá, e a promoção da agricultura biológica[4]. Podemos escolher entre acreditar ou não neste “comprometimento”. Também podemos escolher entre tomarmos chá proveniente de produtores que objetivam o comércio justo e não fazem uso de fertilizantes, pesticidas e que respeitam os ciclos de vida naturais, ou dos que exploram mão de obra, utilizam fertilizantes comprometendo nossa saúde e não respeitam a natureza, claro que a partir de pesquisas acerca dos produtores, obtendo informações através de fontes confiáveis etc.
Politizamos assim o consumo desta bebida, e seguramente contribuímos para uma análise sociológica acerca das questões que envolvem a produção do chá; após todas estas informações, mesmo que ainda superficiais iniciamos um processo de análise contextualizando historicamente seu consumo e produção para compreender uma série de questões, os sociólogos estão interessados em compreender como a globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de assuntos que vêm ocorrendo em locais distantes, como por exemplo na Índia, no Sri Lanka, encorajando-as a produzir novos conhecimentos, a ponderar, e pensar criticamente.
Atividade I
Pesquise:
O que é comércio justo e solidário? Precisamos disso? É fácil realizar? Existe em quais partes do Brasil e do mundo?


A imaginação sociológica nos permite ver que muitos eventos que parecem dizer respeito somente ao indivíduo, na verdade refletem questões muito mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil para alguém que passa por ele – o que Mills chama de “problema pessoal” – mas o divórcio, assinala Mills, é também um problema público, numa sociedade como a atual Grã-Bretanha, onde mais de um terço de todos os casamentos termina dentro de dez anos. O desemprego, para usar outro exemplo, pode ser uma tragédia pessoal, para alguém despedido de um emprego e inapto para encontrar outro. Mesmo assim, isso vai bem além de uma questão geradora de uma aflição pessoal, se considerarmos que milhões de pessoas numa sociedade estão na mesma situação: é um assunto público expressando amplas tendências sociais.”  (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).

Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos encontramos, nenhum de nós tem o comportamento simplesmente modelado por esses contextos, possuímos, criamos, construímos nossa própria individualidade. É trabalho da sociologia investigar as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos. As nossas atividades tanto estruturam, modelam, como ao mesmo tempo são estruturadas por esse mundo social. O conceito de estrutura social é muito importante na Sociologia. Ele se refere ao fato de que os contextos sociais de nossas vidas não se consistem apenas em conjuntos esporádicos de eventos ou ações, são constituídos ou uniformizados de formas distintas. Há regularidades nos modos como nos comportamos e nos relacionamentos que temos uns com os outros. Entretanto, a estrutura social não é como uma estrutura física, como um edifício que existe independentemente das ações humanas. As sociedades humanas estão sempre em processo de estruturação. Elas são reestruturadas a todo momento pelos próprios blocos de construção  que as compõe, os seres humanos. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).
A sociologia tem muitas implicações práticas para nossas vidas, primeiramente a Sociologia nos permite ver o mundo social a partir de outros pontos de vista que não o nosso. Se compreendermos precisamente como os outros vivem, também adquirimos melhor entendimento de quais são os seus problemas. Políticas práticas que não são baseadas numa consciência bem informada dos modos de vida das pessoas afetadas por elas têm poucas chances de sucesso. Por exemplo, uma assistente social branca, operando numa comunidade predominantemente negra, não ganhará a confiança de seus membros sem desenvolver uma sensibilidade às diferenças na experiência social que separam brancos e negros. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).
“A sociologia pode nos fornecer auto-esclarecimento, uma maior autocompreensão. Quanto mais sabemos porque agimos como agimos e como se dá o completo funcionamento de nossa sociedade provavelmente seremos mais capazes de influenciar nossos próprios futuros. Não deveríamos ver a Sociologia como uma ciência que auxilia somente os que fazem políticas, ou seja, grupos poderosos, com o propósito de tomarem decisões informadas. Não se pode supor que os que estão no poder sempre levarão em consideração em suas políticas os interesses dos menos poderosos ou menos privilegiados. Grupos de auto-esclarecimento podem frequentemente se beneficiar da pesquisa sociológica e responder de forma efetiva as políticas governamentais ou formar iniciativas políticas próprias”. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).

Quando começamos a estudar Sociologia pela primeira vez, alguns e algumas de nós ficam confusos com a diversidade de abordagens que encontramos e muitas vezes questionamos de que nos serviria tais abordagens e conhecimentos. A Sociologia nunca foi uma disciplina em que há um conjunto de idéias que todos aceitam como válidas. Os sociólogos frequentemente discutem entre si sobre como abordar o estudo do comportamento humano e sobre como os resultados das pesquisas podem ser melhor interpretados. Por que deveria ser assim? A reposta está ligada a própria natureza da área. A Sociologia diz respeito às nossas vidas e ao nosso próprio comportamento, e estudar nós mesmos é o mais complexo e árduo trabalho que podemos realizar, afinal somos indivíduos, e como indivíduos possuímos características individuais, peculiares. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005). Os dedos das mãos fazem parte de uma mesma “estrutura” certo? Mas ele são iguais?
Em uma coisa todos os sociólogos concordam, que a Sociologia é uma disciplina na qual deixamos de lado nossa visão pessoal do mundo para olhar mais cuidadosamente para as influências que moldam nossas vidas e as dos(as) outros(as). A Sociologia não é apenas um campo intelectual abstrato, mas tem implicações práticas mais importantes para as vidas das pessoas. Aprender a tornar-se um sociólogo não deveria ser um esforço acadêmico maçante. A melhor forma de se evitar isso é abordar o assunto pesquisado de um modo imaginativo e relacionar idéias e achados sociológicos a situações de nossas vidas. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).
Uma forma de fazer isso é estar consciente das diferenças entre os modos de vida, que nós, nas sociedades modernas, tomamos por normais e aqueles de outros grupos humanos. Ainda que os seres humanos tenham muito em comum, há muitas variações entre diferentes sociedades e culturas. A prática da Sociologia envolve a habilidade de pensar imaginativamente e afastar-se de idéias preconcebidas sobre a vida social. A Sociologia nos fornece os meios de aumentar nossas sensibilidades culturais, permitindo que as políticas se baseiem em uma consciência de valores culturais divergentes. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).
Para compreendermos a Sociologia devemos estar conscientes de nós próprios como seres humanos entre outros seres humanos. Ao procurarmos ampliar a nossa compreensão dos processos humanos e sociais e adquirir uma base crescente de conhecimentos mais sólidos acerca desses processos, isto já constitui uma das tarefas fundamentais da Sociologia. Também neste âmbito as pessoas verificam que estão sujeitas a forças que as coagem. “Procuram compreendê-las para que com a ajuda desse conhecimento, possam adquirir certo controle sobre o discurso cego dessas forças compulsivas, cujos efeitos são muitas vezes destruidores e destituídos de qualquer significado. O objetivo é orientar essas forças de modo a encontrar-lhes significados, tornando-as menos destruidoras de vidas e de recursos. Daqui decorre ser fundamental para o ensino da Sociologia e para sua prática de investigação, a aquisição de uma compreensão geral dessas forças e um aumento de conhecimentos seguros das mesmas, através de campos especializados de investigação.”
Atividade II
1 – Cite um exemplo da vida em sociedade e de como a Sociologia poderia explicá-lo:
2 – Cite uma das utilidades da Sociologia para a compreensão da vida dos indivíduos:
3 – Você é a favor de um ensino médio somente com a aprendizagem de conhecimentos técnicos ou também acha que se devem aprender os conhecimentos das áreas humanas? Justifique sua resposta.
4 – Procure em jornais e revistas ou na internet notícias que divulgam dados decorrentes de análises quantitativas e outras que se valem de análises qualitativas. Escolha uma notícia que lhe parece mais embasada (fundamentada, crível).
5 – Quais são os métodos de pesquisa utilizados nas pesquisas das ciências sociais? O que é decisivo para a garantia do sucesso em uma pesquisa?


[2] As Treze Colônias foram as colônias Norte-Americanas que se rebelaram contra o domínio britânico, em 1775, quando formaram um governo provisório, Norte-Americano, o qual proclamou a sua independência no dia 4 de julho de 1776. Subsequentemente, as colônias constituíram-se nos treze primeiros Estados americanos. As demais colônias britânicas na América do Norte não aderiram imediatamente ao movimento de independência. As colônias foram fundadas entre 1607 (Virgínia) e 1733 (Georgia).
[3] O comércio justo é um dos pilares da sustentabilidade econômica e ecológica.Trata-se de um movimento social e uma modalidade de comércio internacional que busca o estabelecimento de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais equilibrados, nas cadeias produtivas.A idéia de um comércio justo surgiu nos anos 1960 e ganhou corpo em 1967, quando foi criada, na Holanda, a Fair Trade Organisatie. Dois anos depois, foi inaugurada a primeira loja de comércio justo. O café foi o primeiro produto a seguir o padrão de certificação desse tipo de comércio, em 1988. O comércio justo é definido pela News! (a rede européia de lojas de comércio justo) como "uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentável. O comércio justo procura criar os meios e oportunidades para melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos. Sua missão é promover a eqüidade social, a proteção do ambiente e a segurança econômica através do comércio e da promoção de campanhas de conscientização".
[4] Agricultura orgânica ou agricultura biológica é o termo frequentemente usado para designar a produção de alimentos e outros produtos vegetais que não faz uso de produtos químicos sintéticos, tais como fertilizantes e pesticidas, nem de organismos geneticamente modificados, e geralmente adere aos princípios de agricultura sustentável.

Definição de Sociologia

Sociologia – 1º ano

Professor: Helio Ventura

Definição de Sociologia

Por que somos como somos? Por que agimos como agimos? Principais dúvidas que norteiam o pensamento sociológico, principais premissas. A sociologia é o estudo da vida social humana, dos grupos e das sociedades, e seu objeto de estudo é nosso próprio comportamento como seres sociais.
Para compreendermos de que trata a sociologia temos que nos distanciar de nós mesmos, temos que nos considerar seres humanos entre os outros. Na verdade a sociologia trata dos problemas da sociedade e a sociedade é formada por nós e pelos outros. Aquele que estuda e pensa a sociedade, o sociólogo, é ele próprio um dos seus membros.
Justamente, a sociologia nos mostra a necessidade de assumir uma visão sobre por que somos como somos e por que agimos como agimos, ela nos ensina que aquilo que encaramos como natural, inevitável, bom ou verdadeiro, pode não ser exatamente assim, afinal nem tudo é o que parece ser, e que os “dados” de nossa vida são fortemente influenciados por forças históricas e sociais.
Aprender a pensar sociologicamente significa, antes de tudo, cultivar a imaginação; um sociólogo é alguém que é capaz de se libertar do imediatismo das circunstâncias pessoais e apresentar as coisas num contexto mais amplo.
A imaginação sociológica (Mills, 1970), exige de nós que pensemos fora das rotinas familiares de nossas vidas cotidianas , a fim de que as observemos  de modo renovado. (Giddens, A. Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005).
Como seriam suas respostas se alguém lhe fizesse as seguintes perguntas:
— Por que o Brasil é visto como um país em desenvolvimento, para não dizer atrasado, em relação aos países mais ricos, mesmo sendo uma das maiores economias do mundo?
— Por que o homem moderno cada vez mais se faz prisioneiro do trabalho?
— Apesar de tanta riqueza produzida pelo trabalho no sistema capitalista, por que se tem, em boa parte dos países, a maioria dos trabalhadores em situação de pobreza?
Talvez você consiga dar boas respostas às perguntas acima, apontando, inclusive, as origens dos problemas questionados, porém, outros, não tendo argumentos para dar boas respostas, diriam:
“eu acho que...”.
Com certeza você já ouviu a frase: “Quem acha, pode não saber muita coisa”
Todos podemos ir além do que já sabemos, ou “achamos” saber sobre nossa sociedade. E o papel da Sociologia como disciplina é justamente nos ajudar nesse sentido: a percebermos, por exemplo, que fatos considerados naturais na sociedade, como a miséria de muitos, o enriquecimento de poucos, os crimes, os suicídios, enfim, a dinâmica e a organização social podem não ser tão naturais assim.
Os questionamentos apresentados acima, poderão ser elucidados pelas teorias, pelas perspectivas (visões) teóricas sociológicas, que nos ajudarão a ver nossa sociedade de maneira muito mais crítica e com base científica. ( Sociologia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. 2ª edição, Governo do Estado do Paraná)

Desenvolvendo uma perspectiva sociológica
Considere o ato de tomar uma xícara de café, o que poderíamos dizer, a partir de um ponto de vista sociológico sobre esse exemplo de comportamento aparentemente comum, simples, desinteressante?
Muitas coisas… poderíamos ressaltar que o café não é apenas uma bebida, ele possuí valor simbólico como parte de nossas atividades sociais diárias, para muitos a xícara de café matinal ocupa o centro de uma rotina pessoal, ela é um primeiro passo essencial para começar o dia. Durante o dia muitos tomam café acompanhados de uma ou mais pessoas como parte de um ritual social, duas pessoas que combinam se encontrar para tomar um café, estão provavelmente mais interessadas em ficarem juntas, a manter uma conversa, do que na bebida propriamente. Comer e beber em todas as sociedades, fornece ocasiões para a interação social e para a encenação de rituais.
Outro ponto: o café é uma droga, por conter cafeína, substância altamente estimulante, que consumida em doses excessivas pode fazer mal, muitas pessoas bebem café pelo estímulo extra que esta bebida propicia. O café causa dependência, mas os viciados em café não são vistos como usuários de drogas; assim como o álcool, o café é uma droga socialmente aceita, mas recentemente comprovou-se que pode contribuir para elevar os níveis de concentração, melhorar a memória e diminuir os níveis de colesterol. Contudo, mesmo assim, não devemos aconselhar o consumo excessivo desta bebida.
Mais uma questão: um indivíduo que bebe café é apanhado em uma complicada trama de relacionamentos sociais e econômicos que se estendem pelo mundo. O café é uma bebida consumida desde os mais pobres até os mais ricos em diversas partes do mundo, é consumido em grandes quantidades nos países ricos, contudo cultivado nos países mais pobres, apesar da oscilação no mercado devido a inúmeros fatores, o café ainda é, ao lado do petróleo e de outros produtos, uma das mercadorias mais valiosas no comércio internacional. A produção, o transporte  e a distribuição de café requerem transações contínuas entre pessoas a milhares de quilômetros de distância de seu consumidor. Estudar essas transações globais é uma importante tarefa da Sociologia.
Outra: O café é um produto que permanece no centro dos debates contemporâneos sobre globalização, comércio internacional, direitos humanos e degradação/destruição ambiental, o café tornou-se uma marca e politizou-se: o consumidor pode escolher qual tipo de café beber e onde adquiri-lo, tornou-se estilo de vida. Os indivíduos podem escolher entre beber somente café orgânico, café naturalmente descafeinado, ou café comercializado “honestamente” (através de esquemas que pagam integralmente o preço de mercado a pequenos produtores de café em países em desenvolvimento), podem optar por ser clientes de cafeterias independentes ao invés de “cadeias corporativas” de café como a Starbucks, os consumidores de café podem boicotar o café vindo de certos países que violam os direitos humanos e acordos ambientais. Os sociólogos buscam compreender como a globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de fatos que vem ocorrendo em diversas partes do mundo, estimulando-as, construindo conhecimentos sobre assuntos até então desconhecidos, e a construir uma perspectiva crítica acerca de assuntos que influenciam suas vidas direta ou indiretamente.
Quando alguém começar uma resposta com as palavras “eu acho que...”, esta resposta pode não ser satisfatória, ou corresponder as nossas expectativas acerca do assunto tratado. O que não significa, porém, que ela deva ser rejeitada, ela precisa ser apurada, refinada. Por exemplo, se alguém nos perguntasse por que em um mesmo país, observamos realidades sociais tão distintas, poderíamos responder com base em dados, na história, na geografia etc., enfim poderíamos oferecer uma resposta certeira, ou apenas responder “eu acho que...” baseados no chamado senso comum.
Existem muitas outras coisas que acontecem na sociedade e que nos atingem diretamente. E para todas essas coisas seria muito bom que tivéssemos curiosidade para saber se aquilo que é mostrado é realmente como é. E a Sociologia?
A sociologia contribui para que possamos entender um pouco mais o lugar onde vivemos…
O senso comum não deve ser rejeitado, entretanto, você pode ir além desse conhecimento comum, neste caso, sobre a sociedade. Todos nós somos sociólogos, de uma forma ou de outra, pois estamos constantemente refletindo acerca de nossas experiências, analisando os nossos comportamentos e o comportamento dos outros. Avançar um pouco mais em relação a um conhecimento elaborado e investigativo vai nos trazer um entendimento mais claro sobre como funciona a sociedade, dentre outras coisas.
Além do fato de que você terá maior autonomia para CONCORDAR OU DISCORDAR sobre as questões que você vive na sociedade e não será influenciado pelo bombardeio de informações parciais oferecidas pela mídia. Essa é a independência que queremos: A DE REFLEXÃO.

Atividade I - Elite Social
Você já ouviu falar na existência dela na Sociedade? Pesquise e veja o que você consegue sobre esse termo (em livros, revistas, pessoas que você conhece, internet etc.). Traga os seus registros. Vamos iniciar uma discussão a partir do que sabemos, hoje, sobre a chamada elite. Por que ela é considerada elite e como surgiu?

O que é ser alienado?
Veja: se não tivermos nossa independência de pensamento e ação, ou seja, se não conseguimos refletir sobre aquilo que vemos e ouvimos, ou se concordamos com tudo o que acontece, com tudo o que nos é transmitido então podemos estar vivendo de forma alienada, e, conformista.
Segundo a filósofa brasileira Marilena Chauí, a alienação acontece quando o homem não se vê como sujeito (criador) da história e, nela, capaz de produzir obras.
Para o homem alienado, e segundo esta mesma visão, a história e as obras produzidas nela são fatos estranhos e externos a ele. E, sendo estranhos, tal homem não os pode controlar, ficando numa posição de dominado. Já o conhecimento pode nos fazer transformadores da história, e não apenas espectadores dela.
A Sociologia não é redentora ou solucionadora dos males sociais, ou dos problemas intelectuais das pessoas. Ela surge como uma ciência que vai fornecer novas visões sobre a sociedade. Sua contribuição está no fato de nos dar referenciais para refletirmos sobre as sociedades.

Atividade II * “AUTONOMIA DE REFLEXÃO”.
Observe sua comunidade e traga para nossa aula uma relação dos “problemas sociais” que nela existem. Vamos discutir a possível origem dos mesmos, a partir do que temos hoje, em termos de recursos teóricos, para mais tarde podermos retomar essas questões.

Surgimento da Sociologia: A “Gênesis Sociológica”

Apesar da ciência sociológica ser considerada nova, pois se consolidou por volta do século XIX, a necessidade de se entender as sociedades, a busca por explicações remonta de tempos antigos, tanto que na Grécia Antiga já havia o desejo de se entender a sociedade.
No século V a.C, havia uma corrente filosófica, chamada sofista[1], que começava a dar mais atenção para os problemas sociais e políticos da época. Porém, não foram os gregos os criadores da Sociologia. Mas foram os gregos que iniciaram o pensamento crítico filosófico. Eles criaram a Filosofia que foi um impulso para o surgimento daquilo que chamamos, hoje, de ciência, a qual se consolidaria a partir dos séculos XVI e XVII, sendo uma forma de interpretação dos acontecimentos da sociedade mais distanciada das explicações míticas.
Foram com os filósofos gregos Platão (427-347 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C), que surgiram os primeiros passos dos trabalhos mais reflexivos sobre a sociedade. Platão foi defensor de uma concepção idealista e acreditava que o aspecto material do mundo seria um tipo de fruto imperfeito das idéias universais, as quais existem por si mesmas.
Aristóteles já mencionava que o homem era um ser que, necessariamente, nasce para estar vivendo em conjunto, isto é, em sociedade. No seu livro chamado Política, no qual consta um estudo dos diferentes sistemas de governo existentes, percebe-se o seu interesse em entender a sociedade.

Idade Média.
Séculos mais tarde, no período chamado de Idade Média (que vai do século V ao XV, mas exatamente entre os anos 476 a 1453), houve, segundo os renascentistas, um período de “trevas” quanto à maneira de se ver o mundo, por isso a Idade Média é conhecida também por “idade das trevas”.
Segundo eles, havia um predomínio da fé, onde os campos mítico e religioso, tendiam a oferecer as explicações mais viáveis/aceitáveis para os fatos do mundo. Na Europa Medieval, esse predomínio religioso foi da Igreja Católica. Tal predomínio da fé, de certo modo, e segundo os humanistas renascentistas, asfixiava as tentativas de explicações mais especulativas e racionais (científicas) sobre a sociedade. Não cumprir uma regra ou lei estabelecida pela sociedade, poderia ser entendido como um pecado, heresia, tamanha era a mistura entre a vida cotidiana e a esfera sobrenatural.
Se olharmos a Idade Média somente pela ótica dos renascentistas podemos entendê-la como uma época improdutiva, em termos de evolução do conhecimento, contudo, ela também foi um período muito rico para a história da humanidade, importante, inclusive, para a formação da nossa casa, o mundo ocidental.

Tudo caminhava para o uso da razão
O predomínio, na organização das relações sociais, dos princípios religiosos durou até pelos menos o século XV. Mas já no século XIV começava a acontecer uma renovação cultural. Era o início do período conhecido por Renascimento.
Os renascentistas, com base naquilo que os gregos começaram, isto é, a questionar o mundo de maneira reflexiva, rejeitavam tudo aquilo que seria parte da cultura medieval, presa aos moldes da igreja, no caso, a Católica.
O renascimento espalhou-se por muitas partes da Europa e influenciava a arte, a ciência, a literatura e a filosofia, defendendo, sempre, o espírito crítico. Nesse tempo, começaram a aparecer homens que, de forma mais realista, começavam a investigar a sociedade. A exemplo disso temos Nicolau Maquiavel (1469-1527) que, em sua obra intitulada de O Príncipe, faz uma espécie de manual de guerra para Lorenzo de Médici. Ali comenta como o governante pode manipular os meios para a finalidade de conquistar e manter o poder em suas mãos, “O Príncipe” pode ser considerada a primeira obra de ciência política, por isso Maquiavel é considerado o pai da Ciência política. Obras como esta davam um novo olhar para sociedade, olhar pelo qual, através da razão os homens poderiam dominar a sociedade, longe de influências divinas.
Era a doutrina do antropocentrismo ganhando força. O homem passava a ser visto como o centro de tudo, inclusive do poder de inventar e transformar o mundo pelas suas ações. Além de Maquiavel, outros autores renascentistas, como Francis Bacon [2](1561-1626), filósofo e criador do método científico conhecido por experimental, ajudavam a dar impulso aos tempos de domínio da ciência que se iniciavam.
Precisamos ter conhecimento da história para podermos perceber que nem sempre as pessoas puderam contar com a ciência para entender o mundo, sobretudo o social, que é o queremos compreender.
Dessa maneira, muitas pessoas no passado, ficaram ‘presas’ principalmente, àquelas explicações a respeito da realidade que eram baseadas na tradição, em mitos antigos ou em explicações religiosas.

O Iluminismo
Já no século XVIII, houve um momento na Europa, chamado de Iluminismo, que começou na Inglaterra e na França, mas que posteriormente espalhou-se por todo o continente, a idéia de valorizar a ciência e a racionalidade no entendimento da vida social tornou-se ainda mais forte.
Uma característica das idéias do Iluminismo era o combate ao Estado absoluto, ou absolutismo, que começou a surgir na Europa ainda no final da Idade Média, no século XV, em que o rei concentrava todo o poder em suas mãos e governava sendo considerado um representante divino na terra, uma voz de Deus, a qual até a igreja se sujeitava.
Com a ciência ganhando força, era inviável o fato de voltar a pensar a vida e a organização social por vias que não levassem em conta as considerações da ciência em debate com as de fundo religioso. Como por exemplo, imaginar os governantes como sendo representantes sobrenaturais.
Nesse período, a continuada consolidação da reflexão sistemática sobre a sociedade foi ajudada por autores como Voltaire (1694-1778), filósofo que defendia a razão e combatia o fanatismo religioso; Jean- Jacques Rousseau (1712-1778), que estudou sobre as causas das desigualdades sociais e defendia a democracia; Montesquieu (1689-1755), que criticava o absolutismo, e defendia a criação de poderes separados (executivo, legislativo e judiciário), os quais dariam maior equilíbrio ao Estado, uma vez que não haveria centralidade de poder na mão do governante.
A partir das teorias sobre a sociedade que no período Iluminista surgiram, é que começa a ser impulsionada, ou preparada, a idéia da existência de uma ciência que pudesse ajudar a interpretar os movimentos da própria sociedade. Consolidação do Capitalismo e a Revolução Industrial.
Estamos mudando de assunto, em parte, porém não estamos deixando de falar do surgimento da Sociologia. Há outros elementos que a motivaram surgir. As transformações na sociedade européia não estavam ocorrendo somente no campo das idéias, como era o caso da consolidação da ciência como ferramenta de interpretação do mundo.
Há também a desagregação  da sociedade feudal, a consolidação do sistema capitalista, culminando com a Revolução Industrial, que ocorreu em meados do século XVIII, na Inglaterra, gerando grandes alterações no estilo de vida das pessoas, sobretudo nas das que viviam no campo e do campo ou por meio de atividades artesanais. Estes temas despertavam o interesse de críticos da época.
Dessa maneira, quando a Sociologia iniciou os seus trabalhos, ela o fez com base em pensadores que viram os problemas sociais ocasionados a partir da crise gerada pelos fatos acima mencionados.

Recorrendo à História:
Podemos dizer que o início do sistema capitalista se deu na chamada Baixa Idade Média, entre os séculos IX e XV, na Europa Ocidental. A partir do século XI, com as “cruzadas” realizadas pela Igreja Católica, para conquistar Jerusalém que estava dominada pelos muçulmanos, um canal de circulação de riquezas na Europa foi aberto.
O contato cultural e o comércio do ocidente com o oriente europeu foram retomados via Mar Mediterrâneo. Com a movimentação de pessoas e riquezas houve, na Europa Ocidental, o surgimento de núcleos urbanos, conhecidos por burgos. Destes, surgiram as cidades, pois existiam poucas naquele tempo.
As chamadas corporações de ofício, que eram uma espécie de associação comercial da época que organizava as atividades artesanais para ter acordo entre os preços de venda e qualidade do produto, por exemplo, começaram a aparecer a fim de regular o trabalho dos artesões que vinham para as cidades exercer sua profissão, a idéia do lucro se fortalecia.
Mais tarde, os europeus começaram a explorar o comércio em termos mundiais, principalmente depois dos séculos XV e XVI e das chamadas Grandes Navegações. Por exemplo, com o descobrimento da América, muita riqueza daqui era levada à Europa para a criação de mercadorias que seriam vendidas nesse mercado mundial que estava surgindo. A idéia de uma produção em série de mercadorias começava a surgir.
As antigas corporações de ofício foram transformadas pelos comerciantes da época em manufatura. O trabalho manufatureiro acontecia com vários artesãos, em locais separados e dirigidos por um comerciante que dava a eles a matéria-prima e as ferramentas. No final do trabalho encomendado, os artesões recebiam um pagamento acertado com o comerciante.
Os comerciantes (futuros empresários capitalistas) pensaram que seria melhor reunir todos esses artesãos num só lugar, pois assim poderiam ver o que eles estavam produzindo. Além de cuidar da qualidade do produto, o controle sobre a matéria-prima e o ritmo da produção poderia ser maior.
Foi então que surgiu a idéia da fábrica, um lugar com uma produção mais organizada, com a acentuação da divisão de funções (hierarquização), onde o artesão ia deixando de participar do processo inteiro de produção da mercadoria e onde passava a operar apenas parte da produção. Desse ponto para a implantação das máquinas movidas a vapor, restava somente o tempo da invenção das mesmas. Quando o inventor escocês James Watt (1736-1819) conseguiu patentear a máquina a vapor, em abril de 1784, ela veio dar grande impulso à industrialização que se instalava, aumentando a produção, diminuindo os gastos com mão-de-obra e aumentando o acúmulo de capital.
O sistema feudal da Europa Ocidental, estava sendo superado. Ele não conseguiria suprir as necessidades dos novos mercados que se abriam. O sistema capitalista, com base na propriedade privada dos meios de produção e no lucro, isto é, na acumulação de capital, estava sendo consolidado.
A partir da Revolução Industrial (século XVIII), as cidades da Europa Ocidental começavam a se transformar em grandes centros urbanos comerciais e, posteriormente, industriais. Muitas delas “intumescidas” e repletas de desempregados. O estilo de vida das pessoas estava se transformando – para alguns de forma violenta e radical – como era o caso de muitos camponeses que eram expulsos pelos senhores das terras onde trabalhavam que estavam seguindo a política de “cercamentos” de terra, para criar ovelhas e fornecer lã às fábricas de tecidos.
Já no caso dos artesãos, esses “perdiam” sua qualificação profissional e o controle sobre o que produziam, ou seja, de profissionais, passavam a “não ter profissão”, pois a indústria era quem ditava que tipo de profissional precisava ser. Não importava se fossem grandes artesãos, só precisariam aprender a operar a máquina da fábrica, como não tinham capital para ter uma produção autônoma e competir com a fábrica, submetiam-se ao trabalho assalariado.
Novas e grandes invenções estavam sendo realizadas no campo tecnológico, como as próprias máquinas a vapor das indústrias. O comércio mundial estava aumentando cada vez mais. E em meio a isto, duas classes distintas emergiam: a composta pelos empresários e banqueiros, chamada de classe burguesa, e a classe assalariada, ou proletária.
A classe burguesa é aquela que ao longo do tempo veio acumulando capital com o comércio e reteve os meios de produção em suas mãos, isto é, as ferramentas, os equipamentos fabris, o espaço da fábrica, etc., ou seja, eram os donos dos meios de produção, e também detinham o poder político. Já a classe proletária, sem capital e expropriada dos meios de produção por meio de sua expulsão dos feudos e das terras comuns, tornava-se fornecedora de mão de obra aos donos das fábricas.
O quadro social na Europa Ocidental do período passava, então, por transformações profundas, provocadas pela consolidação do sistema capitalista, pela valorização da ciência contrapondo as explicações míticas a respeito do mundo, pela abertura de mercados mundiais e pelas divergências ocasionadas pelas péssimas condições de vida dos operários, confrontadas com o enriquecimento da classe burguesa. É em meio a todas essas mudanças que a Sociologia começa a ser pensada como sendo uma ciência para dar respostas mais elaboradas sobre os novos problemas sociais.
A Sociologia e suas teorias, se constituem como ferramentas de reflexão sobre a sociedade industrial e científica que surgia. Sociologia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2ª edição, Governo do Estado do Paraná, 2006.)

Atividade IV
Que relação há entre o sistema capitalista, a existência de uma elite na sociedade e o processo de alienação? Retomando os problemas que você levantou para as atividades I e II , relacione-os com o estilo de vida imposto pelo sistema capitalista.

AS TEORIAS SOCIOLÓGICAS NA COMPREENSÃO DO PRESENTE

Auguste Comte (1798-1857),  foi  quem criou o termo “sociologia” a partir da organização do seu curso de Filosofia Positiva. O que desejava Comte com esse curso?
 -Ele pretendia fazer uma síntese da produção científica, ou seja, verificar aquilo que havia sido acumulado em termos de conhecimento, bem como os métodos das ciências já existentes, como os da matemática, da física e da biologia. Ele queria saber se os métodos utilizados nessas ciências, os quais já haviam alcançado um “status” de positivo, poderiam ser utilizados na física social, denominada, por ele de Sociologia.
Este pensador era de uma linha positivista, o que quer dizer que acreditava na superioridade da ciência e no seu poder de explicação dos fenômenos de maneira desprendida da religiosidade, como era comum se pensar naquela época. Como positivista ele acreditava que a ciência deveria ser utilizada para organizar a ordem social.
Na visão do conhecido “Pai” da Sociologia, naquela época, a sociedade estava em desordem, orientada pelo caos. Devemos considerar que Comte vislumbrava o mundo moderno que surgia, isto é, previa a consolidação de um mundo cada vez mais influenciado pela ciência e pelo estabelecimento da indústria, e a crise gerada por uma certa anarquia moral e política quando da transição do sistema feudal  para o sistema capitalista. Era essa positividade (instaurar a disciplina e a ordem) que ele queria para a Sociologia.
Assim sendo quando Comte pensava a Sociologia, colocava toda sua crença de que poderia estudar e entender os problemas sociais que surgiam e reestabelecer a ordem social e o progresso da civilização moderna. Ele queria que a Sociologia estudasse de forma aprofundada os movimentos das sociedades no passado para se entender o presente e, inclusive, para imaginar o futuro da sociedade.
Olhando o passado para compreender o presente, “Saber para prever e prever para poder”.
Comte via a consolidação do sistema capitalista como sendo algo necessário ao desenvolvimento das sociedades. Esse novo sistema, bem como o abandono da teologia para explicação do mundo seriam parte do progresso das civilizações. Já, os problemas sociais ou desordens que surgiam eram considerados obstáculos que deveriam ser resolvidos para que o curso do progresso pudesse continuar.
Portanto, a Sociologia se colocaria, na visão deste autor, como uma ciência para solucionar a crise das sociedades daquela época. Entretanto, Comte não chegou a viabilizar a sua aplicação. Seu trabalho apenas iniciou uma discussão que deveria ser continuada, a fim de que a Sociologia viesse a alcançar um estágio de maturidade e aplicabilidade.



[1] Os sofistas foram os primeiros filósofos do período socrático. Esses se opunham à filosofia pré-socrática dizendo que estes ensinavam coisas contraditórias e repletas de erros que não apresentavam utilidade nas polis (cidades). Dessa forma, substituíram a natureza que antes era o principal objeto de reflexão pela arte da persuasão. 
Os sofistas ensinavam técnicas que auxiliavam as pessoas a defenderem o seu pensamento particular e suas próprias opiniões contrárias sobre o mesmo para que dessa forma conseguisse seu espaço. Por desprezarem algumas discussões feitas pelos filósofos, eram chamados de céticos até mesmo por Sócrates que se rebelou contra eles dizendo que desrespeitavam a verdade e o amor pela sabedoria. Outros filósofos ainda acreditavam que os sofistas criavam no meio filosófico o relativismo e o subjetivismo. 
Dentre os sofistas, pode-se destacar: Protágoras, Górgias, Hípias, Isócrates, Pródico, Crítias, Antifonte e Trasímaco, sendo que destes, Protágoras, Górgias e Isócrates foram os mais importantes. Estes, assim como os outros sofistas, prezavam pelo desenvolvimento do espírito crítico e pela capacidade de expressão. Uma conseqüência importante que se fez pelos sofistas foi a abertura da filosofia para todas as pessoas das polis que antes era somente uma seita intelectual fechada formada apenas por nobres.Protágoras difundiu a frase: “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”. Por meio dela e de outras, foi acusado de ateísta tendo seus livros queimados em praça pública, o que o fez fugir de Atenas e refugiar-se em Sicília. Fonte:
[2]Atribui-se a ele, também a criação do lema saber é poder. Segundo Bacon, a ciência deveria valorizar a pesquisa experimental, tendo em vista proporcionar resultados objetivos para o homem. O método indutivo de investigação, baseado na observação rigorosa dos fenômenos naturais e do cumprimento das seguintes etapas: Observação da natureza para a coleta de informações; Organização racional dos dados recolhidos empiricamente;
Formulação de explicações gerais [hipóteses] destinadas à compreensão do fenômeno estudado; Comprovação da hipótese formulada mediante experimentações repetidas em novas circunstancias. A grande contribuição de Francis Bacon para a historia da ciência moderna foi apresentar conhecimento cientifico como resultado de um método de investigação capaz de conciliar a observação dos fenômenos, a elaboração racional das hipóteses e a experimentação controlada para comprovar as conclusões obtidas. Fonte: http://breviariodasideias.blogspot.com/2008/11/francis-bacon-o-mtodo-experimental.html