Helio Ventura

Helio Ventura
Helio Ventura, Cientista Social e Músico

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CARTA ABERTA DA RREMAS SOBRE CASO DO MENINO DAS AGULHAS

NOTA PÚBLICA

NÓS DA REDE RELIGIOSA DE MATRIZ AFRICANA DO SUBÚRBIO (RREMAS), VIMOS A PÚBLICO MANIFESTAR NOSSA INDIGNAÇÃO DIANTE DE MAIS UMA BRUTALIDADE QUE A IGNORÂNCIA POPULAR ATRIBUI A NóS COMO PRÁTICA RELIGIOSA. MAIS AINDA, NOS INDIGNAMOS COM O FATO EM SÍ QUE VITIMOU UM SER PEQUENINO NO TAMANHO, MAS GRANDE EM SUA ESSÊNCIA, INOCENTE E POR TUDO ISSO SAGRADO PARA NóS: UMA CRIANÇA (QUE ATÉ O NOME ESQUECERAM E QUE ESTÁ SENDO CHAMADO “MENINO DAS AGULHAS”); VÍTIMADA PELA INSANIDADE DE PESSOAS VISIVELMENTE DESCOMPENSADAS.

TÃO PASMOS COMO TODA POPULAÇÃO, TEMOS ACOMPANHADO AS REPORTAGENS ESPERANDO PARA ELE UM DESFECHO POSITIVO E QUE OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ACORRAM ÀS NOSSAS LIDERANÇAS RELIGIOSAS PARA ALGUMA DECLARAÇÃO, COMO É DE PRAXE SE FAZER, EM CIRCUNSTÂNCIAS COMO ESTA, QUANDO UM IMPORTANTE SEGMENTO DA SOCIEDADE É CITADO OU RESPONSABILIZADO.

VIMOS A FALA DO MÉDIUM DIVALDO FRANCO, POR QUEM DEVOTAMOS RESPEITO; CONTUDO, NÃO PODE SER CONSIDERADA COMO BASTANTE A PONTO DE NÃO SE BUSCAR OUVIR OUTROS SEGMENTOS ESPIRITUALISTAS, PRINCIPALMENTE, O CITADO PELO REU-CONFESSO.

PREOCUPADOS COM O CRESCIMENTO DA CALÚNIA, ESTAMOS NOS ANTECIPANDO, PARA QUE NÃO CRESÇA SOBRE NÓS A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA OU PIOR, O ÓDIO RELIGIOSO, JÁ TÃO FORTEMENTE DISCEMINADO POR DETERMINADOS SETORES NEOPENTECOSTAIS, ATRAVÉS DE SUAS TÃO PÚBLICAS E “NOTÓRIAS” ATIVIDADES MERCADOLÓGICAS.

PORTANTO, DECLARAMOS QUE NUNCA HOUVE E NÃO HÁ EM NENHUMA DAS NAÇÕES RELIGIOSAS, DE CULTO A ANCESTRALIDADE AFRICANA E BRASILEIRA, AS QUAIS CHAMAMOS DE “RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA”, RITUAL, DE QUALQUER OBJETIVO, ENVOLVENDO SACRIFÍCIO DE VIDA HUMANA, SEJA QUAL FOR A FAIXA ETÁRIA, MUITO MENOS HAVERIA DA INFANTIL, QUE É POR NÓS TÃO RESPEITADA.

VALE RESSALTAR, QUE NÃO HÁ EM NENHUM DOS SACRIFÍCIOS RITUAIS QUE REALIZAMOS COM ANIMAIS, REQUINTES DE CRUELDADE. AS FAMÍLIAS BRASILEIRAS CONSOMEM TODOS OS DIAS, TONELADAS E MAIS TONELADAS DE CARNE ANIMAL SEM QUESTIONAR QUAIS OS MÉTODOS ADOTADOS PARA ABATÊ-LOS E, PODEMOS GARANTIR QUE NÃO SÃO NADA GENEROSOS, BOA PARTE DELES SÃO EXTREMAMENTE CRUÉIS. A DISPEITO DO QUE TRATAMOS AQUI, CONSIDERAMOS UMA RESSALVA IMPORTANTE, POIS QUE COMPLETA A INFORMAÇÃO E SE ANTECIPA AS ARGUMENTAÇÕES, HIPÓCRITAS E AMORAL EM SUA MAIORIA, DE QUE SACRIFICAMOS ANIMAIS.

AINDA VALE OUTRA RESSALVA, PARA O FATO DE QUE MESMO SE UMA DAS ACUSADAS FOSSE IYÁLÒRIXÁ (“MÃE DE SANTO”), NÃO SE PODERIA CONDENAR O CANDOMBLÉ; POIS QUE QUANDO UM MÉDICO ERRA, NÃO SE CONDENA TODA A MÉDICINA. ASSIM COMO O ERRO DE LÍDERES RELIGIOSOS, NÃO SE ATRIBUE ÀS SUAS MATRIZES RELIGIOSAS.

NÃO HÁ HISTÓRICO NEM LUGAR PARA ESTA MONSTRUOSIDADE QUE INSISTEM EM DAR VISIBILIDADE NO DISCURSO IGNORANTE E NÃO INOCENTE (PORQUE BUSCA SE EXIMIR DA RESPONSABILIDADE), DO CRIMONOSO, DE QUE UMA DAS ACUSADAS USAVA “OS CABOCLOS E ORIXÁS”, PARA SUA PRÁTICA ASSASSINA E DOENTIA. OS CABOCLOS, ORIXAS, VODUNS E INQUICES, DE CERTO VÃO COBRAR DELE E DE QUEM MAIS AFIRMAR TAL BARBARIDADE. ELES SÃO SERES DE LUZ E NA LUZ, RESPONSÁVEIS PELO EQUILÍBRIO DA TERRA, DAS PESSOAS E DE SUAS RELAÇÕES.

POR FIM, CONCLAMAMOS A TODAS AS ORGANIZAÇÕES DOS “POVOS DE SANTO” A QUEM PREFERIMOS CHAMAR DE “POVOS DE TERREIRO”, DA BAHIA E DE TODO O PAÍS, A SE MANIFESTAREM, PARA QUE MAIS ESTA INJUSTIÇA _ QUE ALIÁS, JÁ DESPONTA EM OUTROS ESTADOS, A EXEMPLO DO MARANHÃO, COMO “MAGIA NEGRA” E, AÍ AUTOMATICAMENTE AFIRMAM AUTORIA A Nós _ NÃO SE ATRIBUA A NOSSA TÃO BONITA RELIGIÃO. EMBORA, DIGA-SE DE PASSAGEM, NADA TEM HAVER O TERMO “MAGIA NEGRA” COM O CONHECIMENTO DA MAGIA AFRICANA, PASSADA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO HÁ MILHARES DE ANOS, , QUE MANIPULA OS ELEMENTOS DA NATUREZA PARA NOS EQUILIBRAR DIANTE DELA E NOS RELIGAR A ANCESTRALIDADE, LEMBRANDO QUE A HUMANIDADE SURGIU NA ÁFRICA. VALE DESTACAR, QUE MAGIA NEGRA é COISA DE SÉCULOS REMOTOS DA EUROPA.

AXÉ.

Comissão Organizadora: ILÊ AXÉ TORRUNDÊ / ILÊ AXÉ ODETOLÁ / ILÊ AXÉ OYÁ DEJI / ILÊ AXÉ OMIN ALA / ILÊ AXÉ GEDEMERÊ / TERREIRO GÊGE DAHOMÉ / ILÊ AXÉ IYÁ TOMIN / ILÊ AXÉ OGODOGÊ / ILÊ AXÉ LOGEMIN – contatos: 9966-6506 / 3394-8184,Guilherme de Xangô - Bàbálòrixá; 9908-5566 / 3408-1455 Valdo Lumumba-Ogan; 8716-5833 Edvaldo Pena - Huntó; 3521-1423 Dari Mota – Bàbálòrixá; 3394-8175, Wilson Santos - Bàbálòrixá.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Rede Record faz mais uma reportagem tendenciosa contra religiosidade afro-brasileira

Rede Record faz mais uma reportagem tendenciosa contra religiosidade afro-brasileira

Por Helio Ventura*

Na manhã de segunda-feira, dia 21 de dezembro, eu assistia a uma reportagem na Rede Record sobre o caso do menino de 2 anos que teve dezenas de agulhas inseridas em todo o corpo por seu padrasto, Roberto Carlos Magalhães Lopes, de 30 anos, e sua amante Angelina, em Ibotirama / BA. Assistia normalmente, quando percebi que havia algo a mais naquela reportagem que somente informar os telespectadores. Usando a expressão “magia negra”, a reportagem atribuía o fato a um ritual sugerido por uma Yalorixá (a reportagem se referiu a ela como “mãe-de-santo”). Maria Nascimento, conhecida como Bia, está à frente de uma Casa chamada Terreiro de Ogum. A reportagem tendenciosamente atribuiu a responsabilidade do ocorrido ao Orixá que dá nome á Casa. Segundo o padrasto do menino, “Senhor Ogum e Orixá ‘baixavam’ na mulher (Bia) e faziam isso (introduziam as agulhas no menino)”.

Destaco que foi dito na reportagem que eram imagens exclusivas de uma conversa informal com Roberto. Para quem sabe como agem muitos repórteres, dá para imaginar que ele deve ter sido induzido a frisar alguns termos em sua fala, como “Orixá” e “Senhor Ogum”. E mais: a reportagem desrespeitou e violou mais um terreiro, pois mesmo com Bia detida temporariamente na delegacia, filmaram no interior do terreiro, ao qual atribuíram os adjetivos de “escuro e sombrio”. Havia fixada em uma das paredes uma afiliação à Federação de Umbanda e Candomblé dos Cultos Afro-Brasileiros de Feira de Santana.

Somente depois de mais da metade da reportagem, foi colocada a parte em que Roberto diz que foi a amante quem introduziu as agulhas, quando o subconsciente já havia internalizado as primeiras informações, que culpava a Yalorixá Bia e o Orixá Ogum. Somente quando vi pela segunda vez a reportagem, na Internet, é que percebi que havia “entendido errado”, que Roberto não atribuiu toda a culpa à Bia e Ogum, o que mais uma vez evidenciou a tendenciosidade da reportagem, que fez com que eu e sabe lá quantos mais entendêssemos o que era de interesse da emissora. Então antes eu havia “entendido certo”, na perspectiva da emissora!

Na única vez que foi dada a chance da Yalorixá Bia falar, ela negou conhecer Roberto e a criança, e disse que eles jamais foram à sua Casa. Também tentou explicar que é uma benzedeira e que não faz “magia negra”. Já o delegado que cuida do caso disse que, em depoimento, Roberto confessou ter inserido ele mesmo as agulhas no menino. É contradição demais para uma reportagem só: na versão da emissora, foi a Yalorixá em ritual de “magia negra”; falando informalmente com a reportagem, sabe-se lá como e sem nenhum valor investigativo, Roberto disse ter sido “Senhor Ogum e Orixá”, e depois culpou a amante; já a versão oficial, informada pelo delegado que recolheu o depoimento de Roberto, diz que foi o próprio Roberto o autor. O advogado e Doutor em Psicologia, Jacob Goldberg, disse que os acusados não podem atribuir o fato a nenhuma questão religiosa, pois revela mais a má índole dos envolvidos, que ele definiu como “formação de quadrilha”, enfatizando que há quem se reúne para supostamente fazer louvores a Deus, mas que na verdade escondem uma tendência criminosa.

A produção da reportagem foi de Fabiano Falsi, Inês Salles e Ricardo Andreoni, e a edição de Claudia Dominguez e Fabio Harnbacher. Ela pode ser vista na íntegra no endereço http://noticias.r7.com/rio-e-cidades/noticias/menino-que-teve-agulhas-retiradas-do-corpo-esta-estavel-20091221.html

Reportagens como essas não podem ser veiculadas livremente sem que sejam minimamente chamadas à responsabilidade pela ética. Gostaria de ver a emissora respondendo por este ataque gratuito à religiosidade de matriz africana. Estou indignado.

*Helio Ventura é Cientista Social e músico (helioventura@gmail.com).

Jurema Werneck para presidência do Conselho Nacional de Saúde

Jurema Werneck para presidência do Conselho Nacional de Saúde

Dia 10 de de novembro de 2009 acontecerá, em Brasília, a eleição para a presidência do Conselho Nacional de Saúde.

Jurema Werneck, formada em medicina, coordenadora do Criola - Organização de Mulheres Negras do Rio de Janeiro é candidata à presidência do CNS pela Articulação de ONGs de Mulheres Negras brasileiras, representando os usuários que, em reunião realizada ontem em Brasília, se definiram por uma candidatura única.
Apoiamos a candidatura de Jurema Werneck para a presidência do CNS por toda sua trajetória em defesa dos direitos humanos e de uma sociedade inclusiva, sem sexismo, sem racismo, sem lesbofobia e sem discriminação e preconceito de qualquer natureza.

Apoiamos Jurema Werneck por suas posições intransigentes em defesa de um SUS totalmente estatal e inclusivo.

Apoiamos candidatura de Jurema Werneck sobretudo porque a diversidade de sujeitos no SUS passa também pela presença na presidência do CNS de uma mulher, negra, feminista com a força, a ética e dignidade de Jurema Werneck. Seu conhecimento e sua luta em defesa da saúde pública e integral de toda a população, e em especial da população negra é sem dúvida um deferencial qualitativo que fortalecerá a ação estratégica de controle social à frente do Conselho Nacional de Saúde.

Apóie você também. Manifeste-se!



Liga Brasileira de Lésbicas
Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras
Rede de Mulheres Negras do Paraná/PR
Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra
Congresso Nacional Afrobrasileiro - SP
Rede Lai Lai Apejo - População Negra e Aids
ACMUN - Associação Cultural de Mulheres Negras -Rio Grande do Sul
AMMA Psique e Negritude -São Paulo
Bamidelê – Organização de Mulheres Negras da Paraíba -Paraíba
CACES Rio de Janeiro
Casa da Mulher Catarina Santa Catarina – Santa Catarina
Casa Laudelina de Campos Melo São Paulo
CEDENPA - Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
Coletivo de Mulheres Negras Esperança Garcia - Piauí
CONAQ- Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas - Maranhão
Criola - Rio de Janeiro
Eleekó - Rio de Janeiro
Felipa de Sousa - Rio de Janeiro
Geledés - Instituto da Mulher Negra - São Paulo
Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa - Maranhão
Grupo de Mulheres Negras Malunga - Goiás
Irohin - Brasília
IMENA- Instituto de Mulheres Negras do Amapá - Amapá
Instituto Negras do Ceará - Ceará
Kuanza - São Paulo
Kilombo - Rio Grande do Norte
Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras - Rio Grande do Sul
Mulheres em União Minas Gerais
Nzinga - Minas Gerais
Observatório do Negro - Pernambuco
OMIN – Grupo de Mulheres Negras Maria do Egito – Sergipe
Promotoras Legais Populares Geledés – São Matheus - SP
SACI - Sociedade Afrosergipana de Estudos e Cidadania - Sergipe
Uiala Mukaji - Pernambuco
IBÁ - Instituto Brasil África - Goiás
Associação Pérola Negra - Goiânia - Goiás
CIA. DE TEATRO É TUDO CENA! - RJ
YÚN ASÉ ORIN- RJ
ILÊ AXÉ OMIM -RJ
Ruth Pinheiro - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos neves
Helio Lucio dos Reis Ventura - Cientista Social e Músico (www.helioventura.blogspot.com)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

LINDO!!! SAMBA-ENREDO DA VILA ISABEL 2010!!!





Coisa linda o samba-enredo do G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel para 2010. Confesso que me emocionei. Martinho da Vila foi impecável na composição do samba, que fala sobre ninguém mais que Noel Rosa, no ano que marca o centenário de nascimento do eterno Poeta da Vila. Abaixo encontram-se link para ouvir o samba-enredo, a letra do samba e o próprio enredo do Carnaval 2010 da escola de Vila Isabel.


Ouça o samba da Vila Isabel para o Carnaval 2010: http://www.youtube.com/watch?v=VZRmTSyzadc








Samba-Enredo G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel 2010
Compositor: Martinho da Vila

Se um dia na orgia me chamassem
Com saudades perguntassem
Por onde anda Noel
Com toda minha fé responderia
Vaga na noite e no dia
Vive na terra e no céu
Seus sambas muito curti
Com a cabeça ao léu
Sua presença senti
No ar de Vila Isabel
Com o sedutor não bebi
Nem fui com ele a bordel
Mas sei que está presente
Com a gente neste laurel

Veio ao planeta com os auspícios de um cometa
Naquele ano da Revolta da Chibata
A sua vida foi de notas musicais
Seus lindos sambas animavam carnavais
Brincava em blocos com boêmios e mulatas
Subia morros sem preconceitos sociais

(Foi um grande!)

Foi um grande chororô
Quando o gênio descansou
Todo o samba lamentou
Ô ô ô
Que enorme dissabor
Foi-se o nosso professor
A Lindaura soluçou
E a Dama do Cabaré não dançou

Fez a passagem pro espaço sideral
Mas está vivo neste nosso carnaval
Também presentes Cartola
Araci e os Tangarás
Lamartine, Ismael e outros mais
E a fantasia que se usa
Pra sambar com o menestrel

Tem a energia da nossa Vila Isabel
Tem a energia da nossa Vila Isabel


Fonte: http://www.sidneyrezende.com/noticia/58696+ouca+o+samba+da+vila+isabel+para+o+carnaval+2010






Título do Enredo - Noel a Presença do "Poeta da Vila"

Presidente: WilsonVieira Alves

Presidente de Honra: Martinho da Vila
Superintendente: Wilson da Silva Alves
Carnavalesco: Alex de Souza
Comissão de Carnaval: Evandro Bocão, Decio Bastos, Amauri de Oliveira
Autores do Enredo: Alex de Souza & Alex Varela & Martinho da Vila

» Sinopse

1910. Ano marcado por grandes transformações, prenunciadas com a passagem do Cometa de Halley. Entre outros fatos: a Revolta da Chibata, liderada pelo “Almirante Negro”, João Cândido, cujo motim ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, e o nascimento de Noël de Medeiros Rosa, popularmente conhecido como Noël Rosa, em 11 de dezembro. A partir deste dia, a música popular brasileira nunca mais seria a mesma.

O pai era um amante da cultura francesa. Pela proximidade com o período das festas natalinas deu ao filho o nome de Noël, termo que equivale a Natal entre os franceses. Também era tradição no bairro de Vila Isabel, no período natalino, passar o rancho, quando todos iam ouvir o canto das “Pastorinhas”.

Desde sua infância, Noël se revelava irreverente. Ele era da rua. Na escola, gostava das piadas proibidas e das brincadeiras obscenas. Começou estudando numa escola pública, e, depois se transferiu para o tradicional São Bento, onde imperavam os rigores educacionais.

A rua e os seus tipos eram a sua grande paixão. “Poeta-cronista” da cidade; cidade que cabia em Vila Isabel. Bairro síntese dos personagens cariocas: os pequenos burgueses, o bicheiro, os malandros, o seresteiro, o sinuqueiro, o carteador, o mendigo, o vigarista, o proxeneta, o valentão, entre tantos outros.

Noël preferia a luz das estrelas à luz solar. Ele acompanhava os cantores da madrugada com o seu inseparável violão. Ficou conhecido pelo bairro. No ano de 1929, um grupo formado por jovens de classe média do conjunto musical Flor do Tempo o convidou para formar um novo grupo: o Bando dos Tangarás, grupo composto por Almirante, Braguinha, Henrique Brito e Alvinho. O conjunto se dedicou à moda da época: a música nordestina; emboladas; sambas com tempero do nordeste; embora, seus trajes e sotaques mais pareciam de caipiras. A indústria e o comércio fonográfico cresciam bastante no Rio de Janeiro, quando foram convidados para gravar pela Parlophon, subsidiária da Odeon.

A inserção no Bando dos Tangarás abriu o caminho para Noël iniciar sua carreira como compositor popular. Ainda em 1929, ele escreveu a sua primeira composição, uma embolada, intitulada “Minha Viola”.

Noël Rosa tinha grande admiração por Sinhô, freqüentador assíduo da Casa da Tia Ciata, localizada na Praça Onze, onde os batuques do samba, influenciado pelo maxixe, ecoavam livremente. O “Poeta da Vila”, contudo, se integrou a outro tipo de samba, que veio do bairro do Estácio, onde vivia Ismael Silva, e se espalhou pelos morros da cidade como Salgueiro, Mangueira, Favela, Saúde, Macacos. Noël subiu o morro e se integrou aos sambistas que lá viviam e compôs com alguns deles, como Cartola, do morro da Mangueira, e Canuto e Antenor Gargalhada, do Salgueiro. O “poeta” e Francisco Alves (que juntos fizeram parceria no grupo Ases do Samba) foram os maiores responsáveis pela consagração de diversos compositores negros de samba.

Este tipo de samba que veio do Estácio, mais marcheado e acompanhado por instrumentos de percussão, era aquele tocado nos blocos, como o “Deixa Falar”, que deu origem à primeira “Escola de Samba”. No carnaval de Vila Isabel havia dois blocos: o Cara de Vaca, organizado, com componentes selecionados e cercados por um cordão de isolamento, e o Faz Vergonha, composto por populares e com sambas improvisados, do qual fazia parte Noël Rosa. As batalhas de confete no Boulevard eram o ponto alto do desfile de blocos.

Desde a adolescência, Noël adorava as serenatas e serestas. O local favorito das noitadas era o cruzamento do Ponto dos Cem Réis, em Vila Isabel, onde os bondes “mudavam de seção”, ponto de botequins e esquinas. Era ali que se reunia com os amigos e tomava a sua cerveja preferida, a Cascatinha. No Café Vila Isabel, ele compôs a maior parte das suas composições. De bar em bar, em “Conversa de Botequim”, e de amores em amores, como o que sentia por Fina, para quem fez “Os Três Apitos”, teceu suas canções. Freqüentava também os prostíbulos do Mangue, e era fascinado pelos malandros, homens que exploravam as mulheres, minas ou mariposas, e viviam da jogatina. Na Lapa chegou a conhecer o famoso Madame Satã, como também Ceci, a sua “Dama do Cabaré”.

O ano de 1930 mudou a história do Brasil e a vida de Noël Rosa. Na política nacional, Getúlio Vargas assumiu a presidência do país por meio da chamada Revolução de 30. Nosso “Poeta” gravou o seu primeiro samba de sucesso: “Com que Roupa?”, que fazia alusão, de forma humorada, a um Brasil de tanga, ilhado em pobreza, a fome e a miséria alastrando-se como praga, conseqüência imediata da crise da bolsa de Nova York que abalou o mundo inteiro. O samba conquistou a cidade. A composição de sucesso passou a integrar o programa de diversas peças do teatro de Revista, todas encenadas nos palcos da Praça Tiradentes, que vivia dias de fulgor e esplendor. No mesmo ano, conseguiu ser aprovado no vestibular para a Faculdade de Medicina. Contudo, ficou insatisfeito com o curso e abandonou-o. Ainda assim compôs “Coração”, conhecido como “um samba anatômico”. O “novo regime” de Vargas e suas medidas governamentais também não passariam desapercebidas pelo compositor, ganhando tons de crítica bem humoradas nas letras de alguns de seus sambas como “O Pulo da Hora” ou “Que Horas São?” sobre a criação do horário de verão; “Psilone” composto em função da nova reforma ortográfica; “Samba da Boa Vontade”, sobre o pedido de Vargas aos brasileiros para manter o sorriso, mesmo num momento de crise; e, ainda “Tenentes...do Diabo”, samba jocoso quanto aos tenentes getulistas, rivais dos “Democratas”.

No começo de 1934 teve início a famosa polêmica envolvendo os compositores Noël Rosa e Wilson Batista. Este último compôs “Lenço no Pescoço”. Noël rebateu com “Rapaz Folgado”. Em resposta, Wilson compôs “Mocinho da Vila”. Ainda no mesmo ano, no período da primavera, Noël compôs “Feitiço da Vila”, uma homenagem para a rainha primaveril de Vila Isabel, Lela Casatle. Samba que colocou Noël em evidência, uma vez que o Brasil inteiro cantou a composição. A polêmica deu uma trégua e reacendeu no ano seguinte. O sucesso do “Filósofo do Samba” incomodou Wilson Batista, que gravou “Conversa Fiada”. Noel reagiu com “Palpite Infeliz”. Wilson respondeu com dois novos sambas: “Frankstein da Vila” e “Terra de Cego”.

Os anos trinta foram a chamada Era do Rádio, consagrada com a criação da Rádio Nacional. Em pouco tempo, o país inteiro ouviria suas rádio-novelas, seus programas de auditório e viria surgir muitas estrelas da nossa música, as chamadas cantoras do rádio. Aracy de Almeida e Marília Baptista foram as maiores intérpretes das canções de Noël. Este também atuou no rádio. No Programa do Casé, de Adhemar Casé, na Rádio Philips, Noël cantava e trabalhava como contra-regra. E, em 1935, Almirante conseguiu-lhe um emprego na Rádio Clube do Brasil, trabalhando como libretista no programa “Como se as óperas célebres do mundo houvessem nascido aqui no Rio”. Escreveu o libreto da ópera “O Barbeiro de Niterói”, uma paródia ao “Barbeiro de Sevilha”. Fez também as revistas radiofônicas “Ladrão de Galinhas” e a “Noiva do Condutor”. As composições de Noël também foram utilizadas no cinema. Em Alô, Alô, Carnaval (1936), compôs “Pierrot Apaixonado”, em parceria com Heitor dos Prazeres. Para o filme Cidade Mulher (1936), ele compôs seis músicas, dentre as quais “Tarzan, Filho do Alfaiate”, em parceria com Vadico.

No ano de 1937, os céus do Brasil foram atravessados pelo cometa de Hermes. Os cometas inspiraram durante milénios profundos temores na humanidade, que os considerava sinais divinos de maus presságios. O medo persistia. Foi assim com o cometa de Halley naquele ano de 1910 e voltou a ser vinte sete anos depois. E, de fato, realmente foi. Na noite do dia 04 de maio, no mesmo chalé onde nasceu na rua Theodoro da Silva, em Vila Isabel, faleceu Noël Rosa, acometido pelo “mal do século”.

Da mesma forma que nasceu num ano turbulento, Noël disse “Adeus” num ano de grandes transformações, cumprindo assim um ciclo de mudanças. Ele mudou a história da música popular brasileira. As serestas e serenatas aqui na Terra não seriam mais as mesmas sem a sua presença. Uma outra “Festa no Céu” faria ele entre anjos e arcanjos. Para sua felicidade, não viu a instalação do Estado Novo, com seu caráter repressivo e censurador, nem mesmo a chegada do “Tio Sam”. Não viu também a vida boêmia da Lapa ser susbtituída pelas boates chiques de Copacabana, onde Aracy de Almeida o imortalizou. Também não teve o prazer de ver a fundação do GRES Unidos de Vila Isabel, Agremiação carnavalesca do bairro que tanto cantou. No firmamento do samba, assim como a estrela Dalva, a estrela de Noël, finalmente, no céu despontou e jamais se apagou. Foi o seu “Último Desejo”. Por isso, cantamos: “Quem nasce lá na Vila, nem sequer vacila, ao abraçar o samba”. Saudades de ti, Noël!!!


Carnavalesco: Alex de Souza
Autores do Enredo: Alex de Souza, Alex Varela (historiador) & Martinho da Vila.
Texto da Sinopse: Alex Varela


Bibliografia:


CABRAL, Sérgio. No Tempo de Almirante. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991.
. As Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 1996.

CALDEIRA, Jorge. A construção do Samba. São Paulo: Mameluco, 2007.

MÁXIMO, João; DIDIER, Carlos. Noel Rosa: Uma biografia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1990.

Gostaríamos de registrar um agradecimento especial aos jornalistas João Máximo e Sérgio Cabral que colaboraram para a pesquisa e elaboração do enredo.

Fonte: http://www.gresunidosdevilaisabel.com.br/carnaval2009.asp

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Seminário: “Pensamentos Políticos do Movimento Negro: Reparação ou Ação Afirmativa?”

CONVITE

O Centro Cultural José Bonifácio e o Movimento de Luta pela Reparação para o Povo Negro e Povos Indígenas - MORENE

Convidam para o seminário:

“Pensamentos Políticos do Movimento Negro: Reparação ou Ação Afirmativa?”

Data: 12/12/2009 (sábado)

Local: CENTRO CULTURAL JOSÉ BONIFÁCIO(Rua Pedro Ernesto, 80 - Gamboa).

Horário: 9h às 18h

PROGRAMAÇÃO

9h - Abertura e credenciamento
10h às 10h30min - Apresentação dos Temas
Reparação -Yedo Ferreira
Ação Afirmativa - Ministro Edson Santos (a confirmar)
10h30min às 13h - Grupos Temáticos
13h às 15h- Almoço
15h às 18h - Plenário Conclusivo com apresentação dos relatórios dos grupos.

APOIO CCJB

Contatos: CCJB (21) 9550-7241 - Amauri

www.reparationsbrasil.org

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

COJIRA: Seminário discute o papel da mídia na produção de conteúdo sobre afrodescendentes no Censo 2010!!!

Seminário discute o papel da mídia na produção de conteúdo sobre afrodescendentes no Censo 2010



A Comissão de Jornalistas Pela Igualdade Racial do Rio (Cojira-Rio), vinculada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ), realiza no próximo dia 09/12, a partir das 19h, o Seminário "O papel da mídia e o impacto na opinião pública sobre os dados desagregados de raça e etnia no Censo 2010". O evento integra a programação anual da Cojira-Rio no mês de dezembro pelo Dia Internacional da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A entrada é franca.


O encontro, que acontecerá no auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, à Rua Evaristo da Veiga 16, 17º andar – Centro/RJ, vai reunir especialistas em indicadores econômicos, pesquisadores, jornalistas, estudantes e interessados em avaliar o papel da mídia brasileira na produção de conteúdos e na sensibilização junto à opinião pública a partir dos dados desagregados de raça e etnia que serão coletados no próximo Censo.


Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai realizar a coleta de dados que irá compor o mais completo retrato da população brasileira. Pela primeira vez, o Censo vai incorporar os itens “raça e etnia” na pesquisa feita pelos recenseadores em todos os domicílios residenciais. Até agora, os dados divulgados pelo IBGE sobre essa temática eram realizados apenas por amostragem.



O Censo 2010 irá orientar todo o planejamento público e privado na próxima década. Portanto, a desagregação dos dados por raça e etnia deverá influenciar no aperfeiçoamento das políticas públicas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial e étnica no Brasil. Neste sentido, opinião pública precisa ter acesso às informações e ser sensibilizada a partir da produção de conteúdos que visibilize as condições sócio-econômicas de afrodescendentes e indígenas no país.


Os palestrantes serão Maria Inês Barbosa, coordenadora do Programa Gênero, Raça e Etnia do UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher) Brasil e Cone Sul – que virá de Brasília especialmente para o evento –, José Luis Petruccelli (pesquisador titular do IBGE), Wania Santanna (consultora da Ouvidoria da Petrobras e membro do Grupo de Trabalho Afrodescendentes das Américas) e Aziz Filho (jornalista e gerente regional da TV Brasil). A mediação será da jornalista Angélica Basthi.



O Seminário "O papel da mídia e o impacto na opinião pública sobre os dados desagregados de raça e etnia no Censo 2010" é uma realização da Cojira-Rio vinculada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.



SERVIÇO
Evento: Seminário O papel da mídia e o impacto na opinião pública sobre os dados desagregados de raça e etnia no Censo 2010
Data: 09/12/09 (quarta-feira)
Horário: Das 19h às 21h
Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, à Rua Evaristo da Veiga 16, 17º andar – Centro/RJ
Entrada franca!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

DIA NACIONAL DO SAMBA - PAGODE DO TREM - PROGRAMAÇÃO 2009




DIA NACIONAL DO SAMBA

A idéia de se estabelecer um dia para homenagear o samba surgiu no encerramento do I Congresso Nacional, realizado entre os dias 28 de novembro e 2 dezembro de 1962, onde se consagrou o Dia do Samba.

Criada por decreto-lei, a data é o reconhecimento aos artistas e a todos aqueles que ao longo de muitos anos fizeram do Carnaval a maior expressão da cultura popular brasileira. O IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional aprovou, em 9 de outubro de 2007, em votação de seu conselho consultivo, o samba carioca como patrimônio cultural imaterial do Brasil, nas suas três principais formas de expressão: o partido alto, o samba de terreiro e o samba-enredo.

TREM DO SAMBA

O "Trem do Samba" mantém a tradição nas comemorações do Dia Nacional do Samba. Rodas de Samba e grupos tradicionais cariocas ocupam os vagões de trens numa festa super animada, da Central do Brasil a Oswaldo Cruz.

Em comemoração ao Dia Nacional do Samba, será realizada a 14ª edição do Trem do Samba, no dia 2 de dezembro, a partir das 17 horas, na estação Central do Brasil.

No palco montado na estação, o compositor e idealizador do evento, Marquinhos de Oswaldo Cruz, receberá seus convidados, entre eles, a Bateria do Mestre Faísca, a Velha Guarda da Portela, Mangueira, Vila Isabel, Império Serrano e Salgueiro, além dos sambistas Wilson Moreira, Nelson Sargento, Walter Alfaiate, entre outros.

Após esquentar os tamborins, quatro trens da SuperVia terão seus vagões ocupados por várias rodas de samba, de grupos tradicionais do Rio de Janeiro, como o Pagode da Tia Doca, Cacique de Ramos e a Velha Guarda das Escolas de Samba. Todas as viagens sairão da estação Central do Brasil com destino à estação de Oswaldo Cruz, sem paradas nas demais estações.

Para embarcar nesta festa, será necessário trocar 1 kg de alimento não perecível por um ticket de entrada, a partir das 14 horas do dia 2 de dezembro, na estação Central do Brasil. A troca é limitada as primeiras 3 mil pessoas e os alimentos arrecadados serão doados para o Banco Rio de Alimentos, do programa Fome Zero. Os foliões também poderão viajar comprando uma passagem de trem no valor normal de R$ 2,50. O primeiro trem sairá às 19h15min, seguido por viagens às 19h45min, 20h15min e às 20h45min, encerrando o evento na Central. Os passageiros viram foliões e cedem espaço para surdos, repiques e tamborins, no ritmo do samba.

Em Oswaldo Cruz, três palcos estarão montados para a festa continuar, começando às 19 horas. No primeiro, ao lado da via férrea, nomes como Noca da Portela, Almir Guineto, Tia Doca e Marquinhos de Oswaldo Cruz, entre outros. O segundo, localizado na Rua Átila da Silveira, receberá sambistas como os Partideiros do Cacique, Mauro Diniz, Ernesto Pires e Zé Luiz do Império. Localizado na Praça da Portela, o terceiro palco terá shows com grupo Descendo a Serra, Ari do Cavaco, Velha Guarda da Portela, Império Serrano, Salgueiro, Mangueira e Portela.

Os foliões não precisam se preocupar quanto à volta para casa. Repetindo a experiência de sucesso em 2008, a SuperVia programou trens extras saindo da estação de Oswaldo Cruz, com destino à Central do Brasil, às 23, 24 e 01 horas. Além disso, às 24 horas terá trens passando em Oswaldo Cruz com destino à Santa Cruz e Japeri, parando em todas as estações. A empresa recomenda aos clientes para adquirirem o ingresso de volta antecipado nas bilheterias das estações.

O Trem do Samba é realizado pela SuperVia, com produção da LOS Moraes e patrocínio da Petrobras, Governo Federal e Lei de Incentivo a Cultura. O evento conta com o apoio da Caixa Econômica Federal, SEBRAE, Capemisa, Ministério do Turismo, Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, Prefeitura do Rio de Janeiro, Cumba Discos, com promoção do Samba Social Clube.

PROGRAMAÇÃO:

Pagode do Trem 2009 (Dia Nacional do Samba – 02 de dezembro)
A partir das 16h
Ingresso para os shows: grátis
Ingressos dos trens: 1Kg de alimento não perecível. Troca por bilhete do trem especial limitado à lotação dos trens.Troca de tickets: Sex-Ter, a partir das 14, na estação Central do Brasil. Não haverá troca no domingo.

Partida dos trens:
Central do Brasil – Av. Presidente Vargas, s/nº
Ida: Trem 1 (19h15), Trem 2 (19h45), Trem 3 (20h15) e Trem 4 (20h45)
Volta: Trem 1 (23h), Trem 2 (23h30), Trem 3 (00h) e Trem 4 (01h)

SHOWS NA CENTRAL DO BRASIL

Local: Central do Brasil, a partir das 16h

A companhia “Dançando para não dançar” homenageia Luiz Carlos da Vila e Pixinguinha
16:00 - ABERTURA: BATERIA DO MESTRE FAÍSCA
17:00 - MARQUINHOS DE OSWALDO CRUZ
17:30 - VELHA GUARDA DA PORTELA
17:50 - VELHA GUARDA DO IMPÉRIO SERRANO
18:10 - VELHA GUARDA DA MANGUEIRA
18:30 - VELHA GUARDA DO SALGUEIRO
18:45 - VELHA GUARDA DE VILA ISABEL
19:00 - WILSON MOREIRA
19:15 - WALTER ALFAIATE
19:30 - NELSON SARGENTO

PARTIDAS DOS TRENS PARA OSWALDO CRUZ

Primeiro trem – Saída: 19h15 – Plataforma 2A

Vagão 1 – Velha Guarda da Portela e Marquinhos de Oswaldo Cruz
Vagão 2 – Pagoda da Tia Doca
Vagão 3 – Bloco da Cachaça
Vagão 4 – Pagode do Negão da Abolição
Vagão 5 – Grupo Autonomia
Vagão 6 – Clube do Samba
Vagão 7 – Embaixadores da Folia
Vagão 8 – Quilombo

Segundo trem – Saída: 19h45 – Plataforma 2B

Vagão 1 - Velha Guarda do Império Serrano e Ruivão
Vagão 2 - Grupo Roda do Bip Bip
Vagão 3 – Pagode do Nelsinho e da Wilma
Vagão 4 - Bateria do Mestre Faísca
Vagão 5 –Manga Preta
Vagão 6 – Pagode da Tia Ciça

Terceiro Trem – Saída: 20h15 – Plataforma 2A

Vagão 1 – Velha Guarda da Mangueira
Vagão 2 – Velha Guarda do Salgueiro
Vagão 3 – Pagode do Sambola com Democráticos de Guadalupe
Vagão 4 – Bloco Voltar pra Quê?
Vagão 5 – Grupo Samba pra Valer
Vagão 6 – Grupo Regente

Quarto Trem – Saída: 20h45 – Plataforma 2B

Vagão 1 – Velha Guarda da Vila Isabel
Vagão 2 – Grupo Parados na Ponte
Vagão 3 – Quizomba
Vagão 4 – Cacique de Ramos
Vagão 5 – Pagode do Renascença
Vagão 6 – Democráticos de Guadalupe
Vagão 7 – Grupo Nossa Arte de Niterói
Vagão 8 – Locomotivas do Samba

SHOWS EM OSWALDO CRUZ

PALCO 1: Local: Rua João Vicente, ao lado da Estação de Oswaldo Cruz - 19:00 às 01:00h

Abertura: Nem e Pagode da Tia Doca
Marquinhos de Oswaldo Cruz
Délcio Carvalho
Bandeira Brasil
Noca da Portela
Marquinhos Diniz
Almir Guineto
PALCO 2: Local: Rua Átila da Silveira - 19:00 às 01:00h
Abertura: Grupo do César
21:00h - Pagode do Negão

Mauro Diniz
Ernesto Pires
Marquinhos de Oswaldo Cruz
Zé Luiz
Toninho Geraes
Partideiros do Cacique

PALCO 3: Local: Praça Paulo da Portela - 19:00h às 01:00h
Abertura: Grupo Descendo a Serra
Ari do Cavaco
Velha Guarda do Salgueiro
Velha Guarda da Mangueira
Tantinho da Mangueira
Marquinhos de Oswaldo Cruz
Velha Guarda da Portela
Velha Guarda do Império Serrano
Velha Guarda de Vila Isabel
Anderson Paz

RODAS DE SAMBA EM OSWALDO CRUZ – DAS 20H À 01H

RODA DE SAMBA 01 – Bloco da Cachaça
RODA DE SAMBA 02 – Grupo Manga Preta
RODA DE SAMBA 03 – Grupo Autonomia
RODA DE SAMBA 04 – Quizomba
RODA DE SAMBA 05 – Mestre Faísca
RODA DE SAMBA 06 – Democráticos de Guadalupe
RODA DE SAMBA 07 – Clube do Samba
RODA DE SAMBA 08 – Pagode do Gil com Grupo Parados na Ponte
RODA DE SAMBA 09 – Pagode da Tia Ciça
RODA DE SAMBA 10 – Pagode da Dulcinha e do Zau
RODA DE SAMBA 11 – Luciano da Carvoaria com Quilombo
RODA DE SAMBA 12 – Pagode do Renascença
RODA DE SAMBA 13 – Grupo Senzala
RODA DE SAMBA 14 – Pagode da Vera Caju com Embaixadores da Folia
RODA DE SAMBA 15 – Grupo Regente
RODA DE SAMBA 16 – Pagode do Nelsinho e da Wilma
RODA DE SAMBA 17 – Roda do Bip Bip

São varias rodas de samba em locais tradicionais de Oswaldo Cruz, onde moraram figuras ilustres do bairro e sambistas tradicionais.

BLOCO DE PARTIDO ALTO
Início: 20h - Bloco de Partido Alto com:
• Marquinhos de Oswaldo Cruz
• Cacique de Ramos
• Renatinho Partideiro

Local: Vai da Rua Carolina Machado (esquina com Rua Fernandes Marinho) à Praça Paulo da Portela (Oswaldo Cruz)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Entrevista!!! Kabengele Munanga: "Nosso Racismo é um Crime perfeito"

"Nosso Racismo é um Crime perfeito"

O antropólogo Kabengele Munanga fala sobre o mito da democracia racial brasileira, a polêmica com Demétrio Magnoli e o papel da mídia e da educação no combate ao preconceito no país.

Por Camila Souza Ramos e Glauco Faria

Fórum - O senhor veio do antigo Zaire que, apesar de ter alguns pontos de contato com a cultura brasileira e a cultura do Congo, é um país bem diferente. O senhor sentiu, quando veio pra cá, a questão racial? Como foi essa mudança para o senhor?
Kabengele - Essas coisas não são tão abertas como a gente pensa. Cheguei aqui em 1975, diretamente para a USP, para fazer doutorado. Não se depara com o preconceito à primeira vista, logo que sai do aeroporto. Essas coisas vêm pouco a pouco, quando se começa a descobrir que você entra em alguns lugares e percebe que é único, que te olham e já sabem que não é daqui, que não é como “nossos negros”, é diferente. Poderia dizer que esse estranhamento é por ser estrangeiro, mas essa comparação na verdade é feita em relação aos negros da terra, que não entram em alguns lugares ou não entram de cabeça erguida.
Depois, com o tempo, na academia, fiz disciplinas em antropologia e alguns de meus professores eram especialistas na questão racial. Foi através da academia, da literatura, que comecei a descobrir que havia problemas no país. Uma das primeiras aulas que fiz foi em 1975, 1976, já era uma disciplina sobre a questão racial com meu orientador João Batista Borges Pereira. Depois, com o tempo, você vai entrar em algum lugar em que está sozinho e se pergunta: onde estão os outros? As pessoas olhavam mesmo, inclusive olhavam mais quando eu entrava com minha mulher e meus filhos. Porque é uma família inter-racial: a mulher branca, o homem negro, um filho negro e um filho mestiço. Em todos os lugares em que a gente entrava, era motivo de curiosidade. O pessoal tentava ser discreto, mas nem sempre escondia. Entrávamos em lugares onde geralmente os negros não entram.
A partir daí você começa a buscar uma explicação para saber o porquê e se aproxima da literatura e das aulas da universidade que falam da discriminação racial no Brasil, os trabalhos de Florestan Fernandes, do Otavio Ianni, do meu próprio orientador e de tantos outros que trabalharam com a questão. Mas o problema é que quando a pessoa é adulta sabe se defender, mas as crianças não. Tenho dois filhos que nasceram na Bélgica, dois no Congo e meu caçula é brasileiro. Quantas vezes, quando estavam sozinhos na rua, sem defesa, se depararam com a polícia?
Meus filhos estudaram em escola particular, Colégio Equipe, onde estudavam filhos de alguns colegas professores. Eu não ia buscá-los na escola, e quando saíam para tomar ônibus e voltar para casa com alguns colegas que eram brancos, eles eram os únicos a ser revistados. No entanto, a condição social era a mesma e estudavam no mesmo colégio. Por que só eles podiam ser suspeitos e revistados pela polícia? Essa situação eu não posso contar quantas vezes vi acontecer.
Lembro que meu filho mais velho, que hoje é ator, quando comprou o primeiro carro dele, não sei quantas vezes ele foi parado pela polícia. Sempre apontando a arma para ele para mostrar o documento. Ele foi instruído para não discutir e dizer que os documentos estão no porta-luvas, senão podem pensar que ele vai sacar uma arma. Na realidade, era suspeito de ser ladrão do próprio carro que ele comprou com o trabalho dele. Meus filhos até hoje não saem de casa para atravessar a rua sem documento. São adultos e criaram esse hábito, porque até você provar que não é ladrão... A geografia do seu corpo não indica isso.
Então, essa coisa de pensar que a diferença é simplesmente social, é claro que o social acompanha, mas e a geografia do corpo? Isso aqui também vai junto com o social, não tem como separar as duas coisas. Fui com o tempo respondendo à questão, por meio da vivência, com o cotidiano e as coisas que aprendi na universidade, depoimentos de pessoas da população negra, e entendi que a democracia racial é um mito. Existe realmente um racismo no Brasil, diferenciado daquele praticado na África do Sul durante o regime do apartheid, diferente também do racismo praticado nos EUA, principalmente no Sul. Porque nosso racismo é, utilizando uma palavra bem conhecida, sutil. Ele é velado. Pelo fato de ser sutil e velado isso não quer dizer que faça menos vítimas do que aquele que é aberto. Faz vítimas de qualquer maneira.
Revista Fórum - Quando você tem um sistema como o sul-africano ou um sistema de restrição de direitos como houve nos EUA, o inimigo está claro. No caso brasileiro é mais difícil combatê-lo...
Kabengele - Claro, é mais difícil. Porque você não identifica seu opressor. Nos EUA era mais fácil porque começava pelas leis. A primeira reivindicação: o fim das leis racistas. Depois, se luta para implementar políticas públicas que busquem a promoção da igualdade racial. Aqui é mais difícil, porque não tinha lei nem pra discriminar, nem pra proteger. As leis pra proteger estão na nova Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. Antes disso tinha a lei Afonso Arinos, de 1951. De acordo com essa lei, a prática do racismo não era um crime, era uma contravenção. A população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para discriminar nem para proteger.
Revista Fórum - Aqui no Brasil há mais dificuldade com relação ao sistema de cotas justamente por conta do mito da democracia racial?
Kabengele - Tem segmentos da população a favor e contra. Começaria pelos que estão contra as cotas, que apelam para a própria Constituição, afirmando que perante a lei somos todos iguais. Então não devemos tratar os cidadãos brasileiros diferentemente, as cotas seriam uma inconstitucionalida de. Outro argumento contrário, que já foi demolido, é a ideia de que seria difícil distinguir os negros no Brasil para se beneficiar pelas cotas por causa da mestiçagem. O Brasil é um país de mestiçagem, muitos brasileiros têm sangue europeu, além de sangue indígena e africano, então seria difícil saber quem é afro-descendente que poderia ser beneficiado pela cota. Esse argumento não resistiu. Por quê? Num país onde existe discriminação antinegro, a própria discriminação é a prova de que é possível identificar os negros. Senão não teria discriminação.
Em comparação com outros países do mundo, o Brasil é um país que tem um índice de mestiçamento muito mais alto. Mas isso não pode impedir uma política, porque basta a autodeclaração. Basta um candidato declarar sua afro-descendê ncia. Se tiver alguma dúvida, tem que averiguar. Nos casos-limite, o indivíduo se autodeclara afrodescendente. Às vezes, tem erros humanos, como o que aconteceu na UnB, de dois jovens mestiços, de mesmos pais, um entrou pelas cotas porque acharam que era mestiço, e o outro foi barrado porque acharam que era branco. Isso são erros humanos. Se tivessem certeza absoluta que era afro-descendente, não seria assim. Mas houve um recurso e ele entrou. Esses casos-limite existem, mas não é isso que vai impedir uma política pública que possa beneficiar uma grande parte da população brasileira.
Além do mais, o critério de cota no Brasil é diferente dos EUA. Nos EUA, começaram com um critério fixo e nato. Basta você nascer negro. No Brasil não. Se a gente analisar a história, com exceção da UnB, que tem suas razões, em todas as universidades brasileiras que entraram pelo critério das cotas, usaram o critério étnico-racial combinado com o critério econômico. O ponto de partida é a escola pública. Nos EUA não foi isso. Só que a imprensa não quer enxergar, todo mundo quer dizer que cota é simplesmente racial. Não é. Isso é mentira, tem que ver como funciona em todas as universidades. É necessário fazer um certo controle, senão não adianta aplicar as cotas. No entanto, se mantém a ideia de que, pelas pesquisas quantitativas, do IBGE, do Ipea, dos índices do Pnud, mostram que o abismo em matéria de educação entre negros e brancos é muito grande. Se a gente considerar isso então tem que ter uma política de mudança. É nesse sentido que se defende uma política de cotas.
O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. As pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. A própria pesquisa do IPEA mostra que se não mudar esse quadro, os negros vão levar muitos e muitos anos para chegar aonde estão os brancos em matéria de educação. Os que são contra cotas ainda dão o argumento de que qualquer política de diferença por parte do governo no Brasil seria uma política de reconhecimento das raças e isso seria um retrocesso, que teríamos conflitos, como os que aconteciam nos EUA.
Fórum - Que é o argumento do Demétrio Magnoli.
Kabengele - Isso é muito falso, porque já temos a experiência, alguns falam de mais de 70 universidades públicas, outros falam em 80. Já ouviu falar de conflitos raciais em algum lugar, linchamentos raciais? Não existe. É claro que houve manifestações numa universidade ou outra, umas pichações, "negro, volta pra senzala". Mas isso não se caracteriza como conflito racial. Isso é uma maneira de horrorizar a população, projetar conflitos que na realidade não vão existir.
Fórum - Agora o DEM entrou com uma ação no STF pedindo anulação das cotas. O que motiva um partido como o DEM, qual a conexão entre a ideologia de um partido ou um intelectual como o Magnoli e essa oposição ao sistema de cotas? Qual é a raiz dessa resistência?
Kabengele – Tenho a impressão que as posições ideológicas não são explícitas, são implícitas. A questão das cotas é uma questão política. Tem pessoas no Brasil que ainda acreditam que não há racismo no país. E o argumento desse deputado do DEM é esse, de que não há racismo no Brasil, que a questão é simplesmente socioeconômica. É um ponto de vista refutável, porque nós temos provas de que há racismo no Brasil no cotidiano. O que essas pessoas querem? Status quo. A ideia de que o Brasil vive muito bem, não há problema com ele, que o problema é só com os pobres, que não podemos introduzir as cotas porque seria introduzir uma discriminação contra os brancos e pobres. Mas eles ignoram que os brancos e pobres também são beneficiados pelas cotas, e eles negam esse argumento automaticamente, deixam isso de lado.
Fórum – Mas isso não é um cinismo de parte desses atores políticos, já que eles são contra o sistema de cotas, mas também são contra o Bolsa-Família ou qualquer tipo de política compensatória no campo socioeconômico?
Kabengele - É interessante, porque um país que tem problemas sociais do tamanho do Brasil deveria buscar caminhos de mudança, de transformação da sociedade. Cada vez que se toca nas políticas concretas de mudança, vem um discurso. Mas você não resolve os problemas sociais somente com a retórica. Quanto tempo se fala da qualidade da escola pública? Estou aqui no Brasil há 34 anos. Desde que cheguei aqui, a escola pública mudou em algum lugar? Não, mas o discurso continua. "Ah, é só mudar a escola pública." Os mesmos que dizem isso colocam os seus filhos na escola particular e sabem que a escola pública é ruim. Poderiam eles, como autoridades, dar melhor exemplo e colocar os filhos deles em escola pública e lutar pelas leis, bom salário para os educadores, laboratórios, segurança. Mas a coisa só fica no nível da retórica.
E tem esse argumento legalista, "porque a cota é uma inconstitucionalida de, porque não há racismo no Brasil". Há juristas que dizem que a igualdade da qual fala a Constituição é uma igualdade formal, mas tem a igualdade material. É essa igualdade material que é visada pelas políticas de ação afirmativa. Não basta dizer que somos todos iguais. Isso é importante, mas você tem que dar os meios e isso se faz com as políticas públicas. Muitos disseram que as cotas nas universidades iriam atingir a excelência universitária. Está comprovado que os alunos cotistas tiveram um rendimento igual ou superior aos outros. Então a excelência não foi prejudicada. Aliás, é curioso falar de mérito como se nosso vestibular fosse exemplo de democracia e de mérito.
Mérito significa simplesmente que você coloca como ponto de partida as pessoas no mesmo nível. Quando as pessoas não são iguais, não se pode colocar no ponto de partida para concorrer igualmente. É como você pegar uma pessoa com um fusquinha e outro com um Mercedes, colocar na mesma linha de partida e ver qual o carro mais veloz. O aluno que vem da escola pública, da periferia, de péssima qualidade, e o aluno que vem de escola particular de boa qualidade, partindo do mesmo ponto, é claro que os que vêm de uma boa escola vão ter uma nota superior. Se um aluno que vem de um Pueri Domus, Liceu Pasteur, tira nota 8, esse que vem da periferia e tirou nota 5 teve uma caminhada muito longa. Essa nota 5 pode ser mais significativa do que a nota 7 ou 8. Dando oportunidade ao aluno, ele não vai decepcionar.
Foi isso que aconteceu, deram oportunidade. As cotas são aplicadas desde 2003. Nestes sete anos, quantos jovens beneficiados pelas cotas terminaram o curso universitário e quantos anos o Brasil levaria para formar o tanto de negros sem cotas? Talvez 20 ou mais. Isso são coisas concretas para as quais as pessoas fecham os olhos. No artigo do professor Demétrio Magnoli, ele me critica, mas não leu nada. Nem uma linha de meus livros. Simplesmente pegou o livro da Eneida de Almeida dos Santos, Mulato, negro não-negro e branco não-branco que pediu para eu fazer uma introdução, e desta introdução de três páginas ele tirou algumas frases e, a partir dessas frases, me acusa de ser um charlatão acadêmico, de professar o racismo científico abandonado há mais de um século e fazer parte de um projeto de racialização oficial do Brasil. Nunca leu nada do que eu escrevi.
A autora do livro é mestiça, psiquiatra e estuda a dificuldade que os mestiços entre branco e negro têm pra construir a sua identidade. Fiz a introdução mostrando que eles têm essa dificuldade justamente por causa de serem negros não-negros e brancos não-brancos. Isso prejudica o processo, mas no plano político, jurídico, eles não podem ficar ambivalentes. Eles têm que optar por uma identidade, têm que aceitar sua negritude, e não rejeitá-la. Com isso ele acha que eu estou professando a supressão dos mestiços no Brasil e que isso faz parte do projeto de racialização do brasileiro. Não tinha nada para me acusar, soube que estou defendendo as cotas, tirou três frases e fez a acusação dele no jornal.
Fórum - O senhor toca na questão do imaginário da democracia racial, mas as pessoas são formadas para aceitarem esse mito...
Kabengele - O racismo é uma ideologia. A ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam, naturalizam essa ideologia. Além das próprias vítimas, outros cidadãos também, que discriminam e acham que são superiores aos outros, que têm direito de ocupar os melhores lugares na sociedade. Se não reunir essas duas condições, o racismo não pode ser reproduzido como ideologia, mas toda educação que nós recebemos é para poder reproduzi-la.
Há negros que introduziram isso, que alienaram sua humanidade, que acham que são mesmo inferiores e o branco tem todo o direito de ocupar os postos de comando. Como também tem os brancos que introjetaram isso e acham mesmo que são superiores por natureza. Mas para você lutar contra essa ideia não bastam as leis, que são repressivas, só vão punir. Tem que educar também. A educação é um instrumento muito importante de mudança de mentalidade e o brasileiro foi educado para não assumir seus preconceitos. O Florestan Fernandes dizia que um dos problemas dos brasileiros é o “preconceito de ter preconceito de ter preconceito”. O brasileiro nunca vai aceitar que é preconceituoso. Foi educado para não aceitar isso. Como se diz, na casa de enforcado não se fala de corda.
Quando você está diante do negro, dizem que tem que dizer que é moreno, porque se disser que é negro, ele vai se sentir ofendido. O que não quer dizer que ele não deve ser chamado de negro. Ele tem nome, tem identidade, mas quando se fala dele, pode dizer que é negro, não precisa branqueá-lo, torná-lo moreno. O brasileiro foi educado para se comportar assim, para não falar de corda na casa de enforcado. Quando você pega um brasileiro em flagrante de prática racista, ele não aceita, porque não foi educado para isso. Se fosse um americano, ele vai dizer: "Não vou alugar minha casa para um negro". No Brasil, vai dizer: "Olha, amigo, você chegou tarde, acabei de alugar". Porque a educação que o americano recebeu é pra assumir suas práticas racistas, pra ser uma coisa explícita.
Quando a Folha de S. Paulo fez aquela pesquisa de opinião em 1995, perguntaram para muitos brasileiros se existe racismo no Brasil. Mais de 80% disseram que sim. Perguntaram para as mesmas pessoas: "você já discriminou alguém?". A maioria disse que não. Significa que há racismo, mas sem racistas. Ele está no ar... Como você vai combater isso? Muitas vezes o brasileiro chega a dizer ao negro que reage: "você que é complexado, o problema está na sua cabeça". Ele rejeita a culpa e coloca na própria vítima. Já ouviu falar de crime perfeito? Nosso racismo é um crime perfeito, porque a própria vítima é que é responsável pelo seu racismo, quem comentou não tem nenhum problema.
Revista Fórum - O humorista Danilo Gentilli escreveu no Twitter uma piada a respeito do King Kong, comparando com um jogador de futebol que saía com loiras. Houve uma reação grande e a continuação dos argumentos dele para se justificar vai ao encontro disso que o senhor está falando. Ele dizia que racista era quem acusava ele, e citava a questão do orgulho negro como algo de quem é racista.
Kebengele - Faz parte desse imaginário. O que está por trás que está fazendo uma ilustração de King Kong, que ele compara a um jogador de futebol que vai casar com uma loira, é a ideia de alguém que ascende na vida e vai procurar sua loira. Mas qual é o problema desse jogador de futebol? São pessoas vítimas do racismo que acham que agora ascenderam na vida e, para mostrar isso, têm que ter uma loira que era proibida quando eram pobres? Pode até ser uma explicação. Mas essa loira não é uma pessoa humana que pode dizer não ou sim e foi obrigada a ir com o King Kong por causa de dinheiro? Pode ser, quantos casamentos não são por dinheiro na nossa sociedade? A velha burguesia só se casa dentro da velha burguesia. Mas sempre tem pessoas que desobedecem as normas da sociedade.
Essas jovens brancas, loiras, também pulam a cerca de suas identidades pra casar com um negro jogador. Por que a corda só arrebenta do lado do jogador de futebol? No fundo, essas pessoas não querem que os negros casem com suas filhas. É uma forma de racismo. Estão praticando um preconceito que não respeita a vontade dessas mulheres nem essas pessoas que ascenderam na vida, numa sociedade onde o amor é algo sem fronteiras, e não teria tantos mestiços nessa sociedade. Com tudo o que aconteceu no campo de futebol com aquele jogador da Argentina que chamou o Grafite de macaco, com tudo o que acontece na Europa, esse humorista faz uma ilustração disso, ou é uma provocação ou quer reafirmar os preconceitos na nossa sociedade.
Fórum - É que no caso, o Danilo Gentili ainda justificou sua piada com um argumento muito simplório: "por que eu posso chamar um gordo de baleia e um negro de macaco", como se fosse a mesma coisa.
Kabengele - É interessante isso, porque tenho a impressão de que é um cara que não conhece a história e o orgulho negro tem uma história. São seres humanos que, pelo próprio processo de colonização, de escravidão, a essas pessoas foi negada sua humanidade. Para poder se recuperar, ele tem que assumir seu corpo como negro. Se olhar no espelho e se achar bonito ou se achar feio. É isso o orgulho negro. E faz parte do processo de se assumir como negro, assumir seu corpo que foi recusado. Se o humorista conhecesse isso, entenderia a história do orgulho negro. O branco não tem motivo para ter orgulho branco porque ele é vitorioso, está lá em cima. O outro que está lá em baixo que deve ter orgulho, que deve construir esse orgulho para poder se reerguer.
Fórum - O senhor tocou no caso do Grafite com o Desábato, e recentemente tivemos, no jogo da Libertadores entre Cruzeiro e Grêmio, o caso de um jogador que teria sido chamado de macaco por outro atleta. Em geral, as pessoas – jornalistas que comentaram, a diretoria gremista – argumentavam que no campo de futebol você pode falar qualquer coisa, e que se as pessoas fossem se importar com isso, não teria como ter jogo de futebol. Como você vê esse tipo de situação?
Kabengele - Isso é uma prova daquilo que falei, os brasileiros são educados para não assumir seus hábitos, seu racismo. Em outros países, não teria essa conversa de que no campo de futebol vale. O pessoal pune mesmo. Mas aqui, quando se trata do negro... Já ouviu caso contrário, de negro que chama branco de macaco? Quando aquele delegado prendeu o jogador argentino no caso do Grafite, todo mundo caiu em cima. Os técnicos, jornalistas, esportistas, todo mundo dizendo que é assim no futebol. Então a gente não pode educar o jogador de futebol, tudo é permitido? Quando há violência física, eles são punidos, mas isso aqui é uma violência também, uma violência simbólica. Por que a violência simbólica é aceita a violência física é punida?
Fórum - Como o senhor vê hoje a aplicação da lei que determina a obrigatoriedade do ensino de cultura africana nas escolas? Os professores, de um modo geral, estão preparados para lidar com a questão racial?
Kabengele - Essa lei já foi objeto de crítica das pessoas que acham que isso também seria uma racialização do Brasil. Pessoas que acham que, sendo a população brasileira uma população mestiça, não é preciso ensinar a cultura do negro, ensinar a história do negro ou da África. Temos uma única história, uma única cultura, que é uma cultura mestiça. Tem pessoas que vão nessa direção, pensam que isso é uma racialização da educação no Brasil.
Mas essa questão do ensino da diversidade na escola não é propriedade do Brasil. Todos os países do mundo lidam com a questão da diversidade, do ensino da diversidade na escola, até os que não foram colonizadores, os nórdicos, com a vinda dos imigrantes, estão tratando da questão da diversidade na escola.
O Brasil deveria tratar dessa questão com mais força, porque é um país que nasceu do encontro das culturas, das civilizações. Os europeus chegaram, a população indígena – dona da terra – os africanos, depois a última onda imigratória é dos asiáticos. Então tudo isso faz parte das raízes formadoras do Brasil que devem fazer parte da formação do cidadão. Ora, se a gente olhar nosso sistema educativo, percebemos que a história do negro, da África, das populações indígenas não fazia parte da educação do brasileiro.
Nosso modelo de educação é eurocêntrico. Do ponto de vista da historiografia oficial, os portugueses chegaram na África, encontraram os africanos vendendo seus filhos, compraram e levaram para o Brasil. Não foi isso que aconteceu. A história da escravidão é uma história da violência. Quando se fala de contribuições, nunca se fala da África. Se se introduzir a história do outro de uma maneira positiva, isso ajuda.
É por isso que a educação, a introdução da história dele no Brasil, faz parte desse processo de construção do orgulho negro. Ele tem que saber que foi trazido e aqui contribuiu com o seu trabalho, trabalho escravizado, para construir as bases da economia colonial brasileira. Além do mais, houve a resistência, o negro não era um João-Bobo que simplesmente aceitou, senão a gente não teria rebeliões das senzalas, o Quilombo dos Palmares, que durou quase um século. São provas de resistência e de defesa da dignidade humana. São essas coisas que devem ser ensinadas. Isso faz parte do patrimônio histórico de todos os brasileiros. O branco e o negro têm que conhecer essa história porque é aí que vão poder respeitar os outros.
Voltando a sua pergunta, as dificuldades são de duas ordens. Em primeiro lugar, os educadores não têm formação para ensinar a diversidade. Estudaram em escolas de educação eurocêntrica, onde não se ensinava a história do negro, não estudaram história da África, como vão passar isso aos alunos? Além do mais, a África é um continente, com centenas de culturas e civilizações. São 54 países oficialmente. A primeira coisa é formar os educadores, orientar por onde começou a cultura negra no Brasil, por onde começa essa história. Depois dessa formação, com certo conteúdo, material didático de boa qualidade, que nada tem a ver com a historiografia oficial, o processo pode funcionar.
Fórum - Outra questão que se discute é sobre o negro nos espaços de poder. Não se veem negros como prefeitos, governadores. Como trabalhar contra isso?
Kabengele - O que é um país democrático? Um país democrático, no meu ponto de vista, é um país que reflete a sua diversidade na estrutura de poder. Nela, você vê mulheres ocupando cargos de responsabilidade, no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, assim como no setor privado. E ainda os índios, que são os grandes discriminados pela sociedade. Isso seria um país democrático. O fato de você olhar a estrutura de poder e ver poucos negros ou quase não ver negros, não ver mulheres, não ver índios, isso significa que há alguma coisa que não foi feita nesse país. Como construção da democracia, a representatividade da diversidade não existe na estrutura de poder. Por quê?
Se você fizer um levantamento no campo jurídico, quantos desembargadores e juízes negros têm na sociedade brasileira? Se você for pras universidades públicas, quantos professores negros tem, começando por minha própria universidade? Esta universidade tem cerca de 5 mil professores. Quantos professores negros tem na USP? Nessa grande faculdade, que é a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), uma das maiores da USP junto com a Politécnica, tenho certeza de que na minha faculdade fui o primeiro negro a entrar como professor. Desde que entrei no Departamento de Antropologia, não entrou outro. Daqui três anos vou me aposentar. O professor Milton Santos, que era um grande professor, quase Nobel da Geografia, entrou no departamento, veio do exterior e eu já estava aqui. Em toda a USP, não sou capaz de passar de dez pessoas conhecidas. Pode ter mais, mas não chega a 50, exagerando. Se você for para as grandes universidades americanas, Harvard, Princeton, Standford, você vai encontrar mais negros professores do que no Brasil. Lá eles são mais racistas, ou eram mais racistas, mas como explicar tudo isso?
120 anos de abolição. Por que não houve uma certa mobilidade social para os negros chegarem lá? Há duas explicações: ou você diz que ele é geneticamente menos inteligente, o que seria uma explicação racista, ou encontra explicação na sociedade. Quer dizer que se bloqueou a sua mobilidade. E isso passa por questão de preconceito, de discriminação racial. Não há como explicar isso. Se você entender que os imigrantes japoneses chegaram, nós comemoramos 100 anos recentemente da sua vinda, eles tiveram uma certa mobilidade. Os coreanos também ocupam um lugar na sociedade. Mas os negros já estão a 120 anos da abolição. Então tem uma explicação. Daí a necessidade de se mudar o quadro. Ou nós mantemos o quadro, porque se não mudamos estamos racializando o Brasil, ou a gente mantém a situação para mostrar que não somos racistas. Porque a explicação é essa, se mexer, somos racistas e estamos racializando. Então vamos deixar as coisas do jeito que estão. Esse é o dilema da sociedade.
Revista Fórum – como o senhor vê o tratamento dado pela mídia à questão racial?
Kabengele - A imprensa faz parte da sociedade. Acho que esse discurso do mito da democracia racial é um discurso também que é absorvido por alguns membros da imprensa. Acho que há uma certa tendência na imprensa pelo fato de ser contra as políticas de ação afirmativa, sendo que também não são muito favoráveis a essa questão da obrigatoriedade do ensino da história do negro na escola.
Houve, no mês passado, a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Silêncio completo da imprensa brasileira. Não houve matérias sobre isso. Os grandes jornais da imprensa escrita não pautaram isso. O silêncio faz parte do dispositivo do racismo brasileiro. Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio. O silêncio é uma maneira de você matar a consciência de um povo. Porque se falar sobre isso abertamente, as pessoas vão buscar saber, se conscientizar, mas se ficar no silêncio a coisa morre por aí. Então acho que o silêncio da imprensa, no meu ponto de vista, passa por essa estratégia, é o não-dito.
Acabei de passar por uma experiência interessante. Saí da Conferência Nacional e fui para Barcelona, convidado por um grupo de brasileiros que pratica capoeira. Claro, receberam recursos do Ministério das Relações Exteriores, que pagou minha passagem e a estadia. Era uma reunião pequena de capoeiristas e fiz uma conferência sobre a cultura negra no Brasil. Saiu no El Pais, que é o jornal mais importante da Espanha, noticiou isso, uma coisa pequena. Uma conferência nacional deste tamanho aqui não se fala. É um contrassenso. O silêncio da imprensa não é um silêncio neutro, é um silêncio que indica uma certa orientação da questão racial. Tem que não dizer muita coisa e ficar calado. Amanhã não se fala mais, acabou.

Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum de agosto de 2009.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Flagrante: Rádio CBN observa tratamento desigual dado a clientes brancos e negros



">


Flagrante: Rádio CBN observa tratamento desigual dado a clientes brancos e negros.


SEREIAS RECEBEM HOMENAGEM DA CÂMARA MUNICIPAL DE SANTOS , TERÇA-FEIRA (24), NA VILA BELMIRO

Cique para ver a foto no tamanho original

Pela importância do ótimo trabalho e os títulos conquistados, entre eles a Copa Libertadores da América Feminina, nesta terça-feira (24), as Sereias da Vila do Santos Futebol Clube receberão placa de homenagem da Câmara Municipal de Santos. A solenidade ocorrerá às 12 horas, no Salão do Conselho Deliberativo do Estádio Urbano Caldeira (Rua Princesa Isabel, 77 – Vila Belmiro), em Santos (Litoral de São Paulo).

A iniciativa é do vereador Hugo Duppre (PMN) e foi aprovada por unanimidade no plenário do Legislativo santista. "Além do excelente trabalho de inclusão social, o Futebol Feminino do Santos FC faz uma divulgação positiva da Cidade no Brasil e no exterior", destacou o Duppre.

O vereador ainda comentou que acompanha a progressão do trabalho das Sereias da Vila. “O Santos é referência em termos de trabalho com o futebol feminino. Nada melhor que premiar o time que já nasceu campeão. Essa equipe está agregando grandes talentos e isso acaba colaborando com a cidade que sempre foi um potencial esportivo”.


Data da notícia: 23/11/2009
Fonte: http://santos.globo.com
Autor: Maurílio Carvalho-colaborador

http://www.assessoriagasglp.com.br/adm/work_noticia/noticia_completa.php?cod=342

Pela primeira vez no Brasil, pastores homossexuais realizam o sonho de se casar

Enviado por Bruno Rohde -
20.11.2009
| 23h49m
CELEBRAÇÃO

Primeiro casamento entre pastores gays do país

Marcelo Franco

RIO - Convidados que não conseguem conter as lágrimas, bolo, padrinhos, traje de gala e a marcha nupcial. Parecia um casamento como qualquer outro, mas não era. Foi celebrado na noite desta sexta, numa casa de festas do Alto da Boa Vista, o primeiro casamento entre pastores evangélicos homossexuais do país. Marcos Gladstone, de 33 anos, e Fábio Inácio, de 30, reuniram as famílias e os amigos para oficializar a relação do casal. A data foi escolhida com cuidado: no Dia da Consciência Negra - os pastores homossexuais resolveram dar mais um passo na tentativa de abolir o preconceito.

http://extra.globo.com/geral/casosdecidade/post.asp?t=primeiro-casamento-entre-pastores-gays-do-pais&cod_post=243221


Pastores gays realizam o sonho de se casar

Os pastores Marcos Gladstone e Fábio Inácio se casam - foto: Marcelo Franco / Extra- O sonho de todo mundo é se casar um dia. Os maiores conflitos que vivi em minha vida foram exatamente por me perceber homossexual e ver que não poderia me casar ou mesmo ter a minha família - disse o pastor Marcos.

Os dois pastores são os fundadores da Igreja Cristã Contemporânea. A denominação evangélica é mais liberal que as igrejas tradicionais e recebe fiéis da comunidade LGBT - sigla para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Como a união entre pessoas do mesmo sexo ainda não é reconhecida legalmente no Brasil, os noivos assinaram um contrato de união homoafetiva durante a cerimônia.

Evangélico gay

Para o pastor Fábio, a cerimônia foi representativa, mas não só do ponto de vista pessoal:

- Este dia (do casamento) é importante na vida de muitas pessoas. A nossa iniciativa é para mostrar que é possível ser gay, ser cristão e ser evangélico.

Uma data especial e histórica

Ao som de canções evangélicas, cerca de 300 convidados do casamento acompanharam a celebração inédita no país. A união foi celebrada pelo pastor Justino Luiz, da Comunidade Cristã Nova Esperança. A igreja de São Paulo, assim como a fundada por Marcos e Fábio, está entre as denominações evangélicas inclusivas. Negro e homossexual, o pastor Justino estava contente em poder celebrar a união homoafetiva de Fábio e Marcos no Dia da Consciência Negra:

- É importante para a visibilidade da comunidade LGBT. Queremos ter os mesmos direitos que todas as pessoas têm, inclusive nas cerimônias.

Marco para a igreja

Um dos padrinhos da união entre os pastores, Alexandre Castillho, de 39 anos, também membro da Igreja Contemporânea, definiu a data como sendo especial para todos os fiéis da sua comunidade evangélica:

- E um marco para nós todos como igreja. Acho que vai abrir um leque de opções. Temos que acabar com o preconceito cada vez mais.


http://extra.globo.com/geral/casosdecidade/materias/2009/11/20/pastores-gays-realizam-sonho-de-se-casar-914864309.asp





quinta-feira, 19 de novembro de 2009

TJ-RJ mantém validade da Lei de Cotas em universidades



Prezad@s Malung@s:

Esta notícia, e em plena Semana de Consciência Negra, logo após o triste episódio da personagem de Thaís Araújo, é para lavar a alma. Essa é sim uma grande vitória para nosso povo, apesar de ainda ser parcial, pois a luta continua. Somos tod@s grat@s àqueles que de alguma forma contribuíram com mais essa vitória em favor das ações afirmativas, em geral, e das cotas, em particular. Muito Axé!!!

Afroabraços,

Helio Ventura


From: renatoferreira@...
Date: Thu, 19 Nov 2009 09:21:33 -0200
To: renatoferreira@...
Subject: TJ-RJ COTAS SÃO CONSTITUCIONAIS

Prezad@s

estivemos ontem no Órgão Especial do Tribunal de Justiça no julgamento do sistema de cotas das universidades do Estado.

A pedido do Dr. Umberto Adami do IARA, tivemos a honra de fazer a sustentação oral pelas entidades do Mov. Negro.

A Procuradoria Geral do Estado fez ótima defesa na fala do Dr. Augusto Werneck.

Numa votação expressiva, o Tribunal decidiu que as cotas são constitucionais acompanhando o execelente voto do relator Sergio Cavaliere. O resultado do Julgamenteo foi 15 a 6.

Resta agora prosseguir nesta luta até o julgamento das ações que estão no STF.

A tod@s um abraço.

RF



quinta-feira, 19 de novembro de 2009, 11:33

TJ-RJ mantém validade da Lei de Cotas em universidades

AE - Agencia Estado

SÃO PAULO - O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) decidiu pela constitucionalidade da Lei de Cotas no Estado. Por 15 votos a 6, os desembargadores julgaram improcedente a representação do deputado Flávio Bolsonaro (PP), que pedia a suspensão da Lei 5.346/2008, que estende por mais dez anos a reserva de vagas para negros, indígenas, alunos da rede pública, portadores de deficiência e filhos de policiais, bombeiros e inspetores de segurança e penitenciários mortos ou incapacitados em serviço em universidades estaduais do Estado.




Há seis meses, os desembargadores haviam concedido liminar à mesma representação. Diante da repercussão negativa e do apelo de reitores por conta dos vestibulares em andamento, o colegiado postergou o início da legitimidade da liminar para 2010. Ontem, os magistrados mantiveram a validade da lei. Bolsonaro anunciou que vai apresentar recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O relator do processo, Sergio Cavalieri Filho, disse que as ações afirmativas funcionam para garantir a isonomia. "Há grupos minoritários e hipossuficientes que precisam de tratamento especial", afirmou. Para Bolsonaro, "a Justiça do Rio sinalizou para todo o Brasil que separar a sociedade em brancos e negros é constitucional e moral". "O que eu lamento", disse. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.



VAGAS NAS UNIVERSIDADES

TJ considera Lei das Cotas constitucional

O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio declarou, nesta quarta-feira, que a Lei Estadual 5.346/2008, que instituiu o sistema de cotas para ingresso nas universidades estaduais, é constitucional. Por maioria de votos, os desembargadores acompanharam a posição do desembargador Sergio Cavalieri, relator da ação direta de inconstitucionalidade, para quem a norma aprovada pela Assembléia Legislativa não fere o princípio da igualdade.

A lei, que entrou em vigor em dezembro de 2008, beneficia estudantes carentes negros, indígenas, alunos da rede pública de ensino, portadores de deficiência física e filhos de policiais civis e militares, bombeiros militares e inspetores de segurança e administração penitenciária, mortos ou incapacitados em razão do serviço. Seu prazo de validade é de 10 anos.

A ação, com pedido de liminar, fora proposta pelo deputado estadual Flavio Bolsonaro. Em maio deste ano, ao examinar o pedido de liminar, o Tribunal de Justiça suspendeu os efeitos da lei. No mês seguinte, diante de uma questão de ordem suscitada pelo Governo do Estado, e para evitar prejuízos aos estudantes que já estavam inscritos nos vestibulares deste ano, os desembargadores decidiram que a suspensão entraria em vigor a partir de 2010.

Nesta quarta-feira, ao julgar o mérito da ação, o desembargador Sergio Cavalieri – que participou de sua última sessão no Órgão Especial em razão de sua aposentadoria - adotou em seu voto os pareceres da Procuradoria Geral do Estado e da Procuradoria de Justiça em favor da constitucionalidade da lei.

Segundo o desembargador, a “igualdade só pode ser verificada entre pessoas que se encontram em situação semelhante”. E emendou: “Há grupos minoritários e hipossuficientes que precisam de tratamento especial. Se assim não for, o princípio da isonomia vai ser uma fantasia”.

Ainda de acordo com o relator, não há igualdade formal sem igualdade material. Defendeu ainda que ações afirmativas como as cotas e a reforma do ensino básico não são medidas antagônicas. O relator classificou também de simplista a afirmação de que a política de cotas fomentaria a separação racial.


http://extra.globo.com/geral/casosdecidade/educacao/posts/2009/11/18/tj-considera-lei-das-cotas-constitucional-242410.asp