Helio Ventura

Helio Ventura
Helio Ventura, Cientista Social e Músico

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Rede Record faz mais uma reportagem tendenciosa contra religiosidade afro-brasileira

Rede Record faz mais uma reportagem tendenciosa contra religiosidade afro-brasileira

Por Helio Ventura*

Na manhã de segunda-feira, dia 21 de dezembro, eu assistia a uma reportagem na Rede Record sobre o caso do menino de 2 anos que teve dezenas de agulhas inseridas em todo o corpo por seu padrasto, Roberto Carlos Magalhães Lopes, de 30 anos, e sua amante Angelina, em Ibotirama / BA. Assistia normalmente, quando percebi que havia algo a mais naquela reportagem que somente informar os telespectadores. Usando a expressão “magia negra”, a reportagem atribuía o fato a um ritual sugerido por uma Yalorixá (a reportagem se referiu a ela como “mãe-de-santo”). Maria Nascimento, conhecida como Bia, está à frente de uma Casa chamada Terreiro de Ogum. A reportagem tendenciosamente atribuiu a responsabilidade do ocorrido ao Orixá que dá nome á Casa. Segundo o padrasto do menino, “Senhor Ogum e Orixá ‘baixavam’ na mulher (Bia) e faziam isso (introduziam as agulhas no menino)”.

Destaco que foi dito na reportagem que eram imagens exclusivas de uma conversa informal com Roberto. Para quem sabe como agem muitos repórteres, dá para imaginar que ele deve ter sido induzido a frisar alguns termos em sua fala, como “Orixá” e “Senhor Ogum”. E mais: a reportagem desrespeitou e violou mais um terreiro, pois mesmo com Bia detida temporariamente na delegacia, filmaram no interior do terreiro, ao qual atribuíram os adjetivos de “escuro e sombrio”. Havia fixada em uma das paredes uma afiliação à Federação de Umbanda e Candomblé dos Cultos Afro-Brasileiros de Feira de Santana.

Somente depois de mais da metade da reportagem, foi colocada a parte em que Roberto diz que foi a amante quem introduziu as agulhas, quando o subconsciente já havia internalizado as primeiras informações, que culpava a Yalorixá Bia e o Orixá Ogum. Somente quando vi pela segunda vez a reportagem, na Internet, é que percebi que havia “entendido errado”, que Roberto não atribuiu toda a culpa à Bia e Ogum, o que mais uma vez evidenciou a tendenciosidade da reportagem, que fez com que eu e sabe lá quantos mais entendêssemos o que era de interesse da emissora. Então antes eu havia “entendido certo”, na perspectiva da emissora!

Na única vez que foi dada a chance da Yalorixá Bia falar, ela negou conhecer Roberto e a criança, e disse que eles jamais foram à sua Casa. Também tentou explicar que é uma benzedeira e que não faz “magia negra”. Já o delegado que cuida do caso disse que, em depoimento, Roberto confessou ter inserido ele mesmo as agulhas no menino. É contradição demais para uma reportagem só: na versão da emissora, foi a Yalorixá em ritual de “magia negra”; falando informalmente com a reportagem, sabe-se lá como e sem nenhum valor investigativo, Roberto disse ter sido “Senhor Ogum e Orixá”, e depois culpou a amante; já a versão oficial, informada pelo delegado que recolheu o depoimento de Roberto, diz que foi o próprio Roberto o autor. O advogado e Doutor em Psicologia, Jacob Goldberg, disse que os acusados não podem atribuir o fato a nenhuma questão religiosa, pois revela mais a má índole dos envolvidos, que ele definiu como “formação de quadrilha”, enfatizando que há quem se reúne para supostamente fazer louvores a Deus, mas que na verdade escondem uma tendência criminosa.

A produção da reportagem foi de Fabiano Falsi, Inês Salles e Ricardo Andreoni, e a edição de Claudia Dominguez e Fabio Harnbacher. Ela pode ser vista na íntegra no endereço http://noticias.r7.com/rio-e-cidades/noticias/menino-que-teve-agulhas-retiradas-do-corpo-esta-estavel-20091221.html

Reportagens como essas não podem ser veiculadas livremente sem que sejam minimamente chamadas à responsabilidade pela ética. Gostaria de ver a emissora respondendo por este ataque gratuito à religiosidade de matriz africana. Estou indignado.

*Helio Ventura é Cientista Social e músico (helioventura@gmail.com).

Jurema Werneck para presidência do Conselho Nacional de Saúde

Jurema Werneck para presidência do Conselho Nacional de Saúde

Dia 10 de de novembro de 2009 acontecerá, em Brasília, a eleição para a presidência do Conselho Nacional de Saúde.

Jurema Werneck, formada em medicina, coordenadora do Criola - Organização de Mulheres Negras do Rio de Janeiro é candidata à presidência do CNS pela Articulação de ONGs de Mulheres Negras brasileiras, representando os usuários que, em reunião realizada ontem em Brasília, se definiram por uma candidatura única.
Apoiamos a candidatura de Jurema Werneck para a presidência do CNS por toda sua trajetória em defesa dos direitos humanos e de uma sociedade inclusiva, sem sexismo, sem racismo, sem lesbofobia e sem discriminação e preconceito de qualquer natureza.

Apoiamos Jurema Werneck por suas posições intransigentes em defesa de um SUS totalmente estatal e inclusivo.

Apoiamos candidatura de Jurema Werneck sobretudo porque a diversidade de sujeitos no SUS passa também pela presença na presidência do CNS de uma mulher, negra, feminista com a força, a ética e dignidade de Jurema Werneck. Seu conhecimento e sua luta em defesa da saúde pública e integral de toda a população, e em especial da população negra é sem dúvida um deferencial qualitativo que fortalecerá a ação estratégica de controle social à frente do Conselho Nacional de Saúde.

Apóie você também. Manifeste-se!



Liga Brasileira de Lésbicas
Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras
Rede de Mulheres Negras do Paraná/PR
Rede Nacional de Controle Social e Saúde da População Negra
Congresso Nacional Afrobrasileiro - SP
Rede Lai Lai Apejo - População Negra e Aids
ACMUN - Associação Cultural de Mulheres Negras -Rio Grande do Sul
AMMA Psique e Negritude -São Paulo
Bamidelê – Organização de Mulheres Negras da Paraíba -Paraíba
CACES Rio de Janeiro
Casa da Mulher Catarina Santa Catarina – Santa Catarina
Casa Laudelina de Campos Melo São Paulo
CEDENPA - Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará
Coletivo de Mulheres Negras Esperança Garcia - Piauí
CONAQ- Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas - Maranhão
Criola - Rio de Janeiro
Eleekó - Rio de Janeiro
Felipa de Sousa - Rio de Janeiro
Geledés - Instituto da Mulher Negra - São Paulo
Grupo de Mulheres Negras Mãe Andresa - Maranhão
Grupo de Mulheres Negras Malunga - Goiás
Irohin - Brasília
IMENA- Instituto de Mulheres Negras do Amapá - Amapá
Instituto Negras do Ceará - Ceará
Kuanza - São Paulo
Kilombo - Rio Grande do Norte
Maria Mulher - Organização de Mulheres Negras - Rio Grande do Sul
Mulheres em União Minas Gerais
Nzinga - Minas Gerais
Observatório do Negro - Pernambuco
OMIN – Grupo de Mulheres Negras Maria do Egito – Sergipe
Promotoras Legais Populares Geledés – São Matheus - SP
SACI - Sociedade Afrosergipana de Estudos e Cidadania - Sergipe
Uiala Mukaji - Pernambuco
IBÁ - Instituto Brasil África - Goiás
Associação Pérola Negra - Goiânia - Goiás
CIA. DE TEATRO É TUDO CENA! - RJ
YÚN ASÉ ORIN- RJ
ILÊ AXÉ OMIM -RJ
Ruth Pinheiro - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Osvaldo dos Santos neves
Helio Lucio dos Reis Ventura - Cientista Social e Músico (www.helioventura.blogspot.com)